08 Setembro 2025
Os aplausos irrompem como um trovão, uma libertação repentina de esperanças e dores acumuladas, e atravessam como uma emoção a nave central. "Irmãos e irmãs, digo isso com emoção: é hora de restaurar a dignidade a todos", pontua Dom Francesco Savino, "especialmente àqueles a quem foi negada".
A informação é de Iacopo Scaramuzzi, publicada em la Repubblica, 07-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
No fim, todos se levantam; a ovação de pé não acaba mais; há quem exulta, quem ri, quem começa a chorar. O próprio bispo faz uma pausa: "Preciso respirar um pouco..." A Igreja de Jesus está superlotada, como raramente acontece às igrejas no centro de Roma. Há gays, lésbicas e transexuais de todo o mundo, 1.400 no total, invisíveis ou discriminados por séculos aos olhos da Igreja oficial. Hoje, eles se preparam para sua peregrinação, a primeira vez que os fiéis LGBTQ+ atravessam em grupo a Porta Santa de um Jubileu. É uma iniciativa vinda de baixo, mas a presença do vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana, e na igreja-mãe dos jesuítas, é um reconhecimento institucional que não deve ser subestimado, um sinal de que uma época mudou.
Em uma capela lateral, está exposta, iluminada, uma foto do Papa Francisco. Uma missa como essa é possível graças a ele, D. Savino conta que no início de agosto foi falar com o novo Papa, e Leão XIV lhe deu sua bênção: "Vá e celebre".
Na noite anterior, houve uma vigília de oração pontuada por testemunhos pessoais, sempre na igreja localizada a poucos metros da sede histórica da Democracia Cristã, pela manhã, todos retornam para a missa: estadunidenses, franceses, latino-americanos e asiáticos. Faltam os africanos, "não teve como obter os vistos; os funcionários de seus países foram categóricos e, em alguns casos, rudes", conta Innocenzo Pontillo, presidente da Tenda di Gionata, a associação que promove a peregrinação e quer "alargar a tenda" da Igreja. O ambiente é alegre, as confissões são realizadas em várias línguas, mas os rostos dos penitentes, assim como os dos padres, não são fechados. Savino atravessa a igreja até a entrada, aspergindo água benta sobre os fiéis, uma representação plástica do acolhimento.
Em sua homilia, dosa cuidadosamente as palavras. Nas leituras do dia, Jesus "liberta os oprimidos". Savino diz que o amor de Deus é "incondicional" e doa "uma dignidade indelével" a todos. Ele lembra que devemos nos converter, todos, enfatiza que se deve evitar "qualquer tentação polêmica ou ideológica", reconhece que "os estigmas do passado não podem ser apagados", mas garante que "ninguém deve se sentir excluído". Então diz que a dignidade deve ser restaurada àqueles a quem ela foi negada, e há uma onda de aplausos, sorrisos e lágrimas.
Após a missa, os peregrinos caminham em direção ao Vaticano para cruzar a Porta Santa. Liderando a procissão estão o Padre Pino Piva, o jesuíta que tece a rede católica LGBTQ+; Tiziano Fani Braga, o ativista que idealizou a peregrinação; a Irmã Geneviève, que levava as pessoas trans de Torvajanica até o Papa Francisco; e a trans Alessia Nobile. Não é uma parada do orgulho gay; são proibidas bandeiras e faixas, mas tiaras e chapéus arco-íris estão por todo lado. Algumas pessoas tiram selfies de mãos dadas ao entrar na basílica, e não faltam protestos e indignação de católicos ultraconservadores nas redes sociais, mas a peregrinação prossegue alegre e sem problemas. Muitos fiéis usam na roupa o pin da ovelha arco-íris: não mais preta, não mais perdida.
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