O grito profético do Cardeal Battaglia contra a Terceira Guerra Mundial em pedaços: "Enquanto as armas ditarem a agenda, a paz parecerá uma loucura"

Cardeal Domenico Battaglia (Foto: Vatican Media)

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

09 Julho 2025

  • Em carta publicada no site da Arquidiocese de Nápoles, o cardeal apela ao que resta de humanidade no coração do homem diante de um planeta que ressoa com os tambores da guerra em todas as direções do horizonte.
  • “O Evangelho”, escreve ele, “não faz concessões nem suaviza a verdade: ele exige que reconheçamos o homem quando o vemos e chamemos de mal o que o esmaga”.
  • Deus da respiração negada, arranca a mesa dos senhores que vendem o mundo a golpes de sabre. Vira as tuas cartas de ferro: que o chumbo espalhado se transforme num torrão, que o orçamento reunido se transforme num berço.
  • "Ofereça aos poderosos o espelho que eles não podem quebrar: o rosto de uma criança sem noite, o tremor de um médico sem luz."

A reportagem é de Benedetta Capelli, publicada por Religión Digital, 08-07-2025.

“Se não for por Deus, fazei-o pelo que resta da humanidade…”: este é o título do escrito do Cardeal Domenico Battaglia, Arcebispo de Nápoles, que assina como “Don Mimmo”, (Padre Mimmo) publicado hoje, 8 de julho, no site diocesano. É um texto que expõe responsabilidades e deveres, que comove os indiferentes, que evoca imagens, sons e cheiros de bombas lançadas sobre a humanidade inocente, que indica no Evangelho o caminho para redescobrir a piedade humana e escolher de que lado ficar.

“Você sente eles pulsando?”

O cardeal fotografa a Terceira Guerra Mundial em fragmentos, com a Ucrânia, que viu "treze mil civis aniquilados pelo fogo; em Gaza, cinquenta e sete mil vidas extintas como velas na corrente em vinte e um meses de cerco; do Sudão, quatro milhões de corpos marchando em busca de um lenço de sombra; em Mianmar, três milhões e meio de rostos espalhados entre cinzas e selva", e depois há "cento e vinte e dois milhões de refugiados jogados ao vento como sementes". "Esses números — você consegue senti-los pulsando? — deveriam gelar seu sangue. Cada número", diz o cardeal, "é uma testa em chamas, uma fotografia desbotada cerrada em um punho, uma voz pedindo um minuto sem sirenes".

“Objetivos estratégicos”

Daí o apelo por "governos de peito duplo", "conselhos de diretores lubrificados como engrenagens, alianças militares com vozes metálicas" para reconhecer o homem como tal, para chamar o mal pelo seu nome, porque "Evangelho não faz concessões nem suaviza a verdade. Não pede carteira de membro, não exige incenso".

“Se queres ser um guia e não um leme no caos, detém os comboios carregados de morte antes que atravessem a última alfândega”, transforma — eis a exigência — armamento em arados, canos, secretárias, ambulâncias. “E tu que te afundas nas cadeiras vermelhas do parlamento, abandona os teus ficheiros e mapas: caminha, mesmo que por uma hora, pelos corredores mortos de um hospital bombardeado; sente o cheiro a gasóleo do último gerador; ouve o bip solitário de um respirador suspenso entre a vida e o silêncio, e então sussurra — se puderes — a frase ‘objetivos estratégicos’.”

O Espelho Impiedoso

O Evangelho, tanto para crentes como para não crentes, é um espelho implacável: reflete o humano e denuncia o desumano. Se um projeto esmaga os inocentes, é desumano. Se uma lei não protege os fracos, é desumana. Se lucra com o sofrimento daqueles que não têm voz, é desumana. O Cardeal Battaglia acrescenta que, se quisermos eliminar Deus, devemos nos concentrar "naquele pedacinho de humanidade que ainda nos mantém de pé". "A guerra é o único negócio em que investimos nossa humanidade para obter cinzas". "Enquanto uma bomba valer mais que um abraço, estaremos perdidos. Enquanto as armas ditarem a agenda, a paz parecerá loucura".

Não desista

Nós, que lemos, temos o dever de não desistir. A paz brota na sala: um sofá que se estica; na cozinha, uma panela que se curva; na rua, uma mão que se estende. Gestos humildes e tenazes: "Você vale a pena", sussurrados àqueles que o mundo descarta. O grão de mostarda — escreve Battaglia — é pequeno, mas se torna árvore. O mesmo vale para o Evangelho: duro como uma pedra, terno como o primeiro grito. Ele nos pede para fazer uma escolha clara: construtores da vida ou cúmplices do mal. Não há terceiras vias. Para encerrar sua reflexão, o cardeal escreve este poema:

Deus do sopro negado, arranca a mesa dos senhores que vendem o mundo a golpes de sabre. Vira as tuas cartas de ferro: que o chumbo espalhado se torne um torrão, que o orçamento reunido se torne um berço. Oferece aos poderosos o espelho que eles não sabem quebrar: o rosto de uma criança sem noite, o tremor de um médico sem luz. Faze com que não consigam desviar o olhar até que o privilégio se torne vergonha e a vergonha se torne justiça. Lembra-nos que a carne vale mais que o emblema, que quem lucra com o sangue cava a sua própria sepultura, que a aurora não pertence a quem tem canhões, mas a quem segura um abraço. Silencia as sereias, dobra as bandeiras cheias de ruído, e devolve-nos um silêncio capaz de fazer florescer o futuro. Amém.

Leia mais