03 Julho 2025
"Em primeiro lugar, é preciso sublinhar a absoluta urgência dos apelos ao governo de Israel para que cesse as ações militares contra a população civil e negocie com convicção e determinação com o Hamas a libertação dos reféns ainda mantidos em cativeiro: nessa ordem, que não é ditada pela moral, mas pela lógica que caracteriza essa fase do conflito", escrevem Paolo Naso e Brunetto Salvarani, em artigo publicado por Riforma, 02-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Paolo Naso é sociólogo italiano da Comissão de Estudos da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália e professor da Universidade de Roma “La Sapienza".
Brunetto Salvarani é teólogo, escritor, professor de Teologia de missão e do diálogo na Faculdade Teológica da Emilia Romagna e nos Institutos de Ciências Religiosas de Modena, Bolonha e Rimini.
Desde 7 de outubro de 2023, o diálogo entre judeus e cristãos tornou-se mais difícil. Como era inevitável, eventos militares que tiveram diferentes interpretações irromperam na pauta de um debate teológico, histórico e espiritual, causando uma polarização que reduziu e, por vezes, eliminou as práticas dialógicas.
Nos últimos dias, a presidente da União das Comunidades Judaicas (UCEI), Noemi Di Segni, interveio sobre essas questões com um longo artigo publicado no portal da UCEI, Moked, com tons e argumentos que nos questionaram e sobre os quais acreditamos ser útil intervir.
Disso, uma carta aberta já publicada na Agência Nev Press – Notizie Evangeliche, que será retomada por outros jornais.
Diante desta última tragédia da história, é justo, como alerta a presidente Di Segni, evitar "o uso irresponsável de termos como genocídio, apartheid, que têm significados precisos na história". Mas a recusa em usar o termo "genocídio" não isenta o governo. de Israel e daqueles que o apoiam da responsabilidade de conduzir uma ação militar que, por declaração explícita de alguns de seus ministros, só poderia terminar com a deportação dos palestinos de Gaza. Como definir tudo isso? E, acima de tudo, o que fazer? Em primeiro lugar, é preciso sublinhar a absoluta urgência dos apelos ao governo de Israel para que cesse as ações militares contra a população civil e negocie com convicção e determinação com o Hamas a libertação dos reféns ainda mantidos em cativeiro: nessa ordem, que não é ditada pela moral, mas pela lógica que caracteriza essa fase do conflito.
A presidente Di Segni afirma que as comunidades judaicas no mundo vivem ameaçadas, assoladas por uma onda de antissemitismo e ódio racial nunca vista desde os tempos do Holocausto.
Ao aderir a seu julgamento, acreditamos que não se possa ignorar o fato de que, nos mesmos dias, palavras não menos carregadas de ódio estão circulando contra os palestinos, bem como os muçulmanos, e uma islamofobia virulenta está se espalhando, associando o islamismo – todo o islamismo e todos os muçulmanos – ao terrorismo, à violência contra as mulheres, ao antissemitismo e a tudo o mais que nega os direitos humanos e os princípios fundamentais da convivência democrática. Tudo isso também está acontecendo em Israel, que reivindica o papel de única democracia no Oriente Médio, mas tolera, e às vezes, nas palavras de seus principais líderes políticos, enfatiza, intenções de deportações e destruições em massa do povo palestino.
Denunciar o antissemitismo sem justapor a ele um julgamento igualmente severo contra a islamofobia e as palavras odiosas antipalestinas e racistas que se ouvem em Israel, assim como no resto do mundo, corre o risco de ser uma atitude desequilibrada que acaba alimentando mais ódio e mais violência.
Ainda pensando no que fazer, a presidente das comunidades judaicas acredita que "formas de boicote, repúdio, interrupções de acordos históricos e demonização de Israel apenas geram um ódio generalizado".
O risco é evidente e compreensível, mas considerações semelhantes devem ser feitas em relação aos palestinos, reconhecendo que as punições coletivas, as prisões preventivas e o bloqueio substancial da ajuda alimentar posta em ato pelo governo israelense merecem um julgamento igualmente firme e severo.
Como enfatiza o artigo do Moked, "a incitação à violência é distante de qualquer moral judaica", mas infelizmente, como frequentemente acontece também com os cristãos, nobres formulações teológicas são contrariadas por práxis e ações que vão exatamente na direção oposta. Por outro lado, expressa-se preocupação pela escolha de "defender apenas um povo – o povo palestino – e não também o povo israelense".
A esse respeito, porém, queremos ressaltar que no debate público nacional emergem diferentes posições que se concretizam, por exemplo, no empenho de muitos – como a Federação das Igrejas Evangélicas da Itália – que, com o projeto "Vamos acabar com o ódio, vamos ajudar os pacificadores", escolheu e praticou o caminho do apoio às forças do diálogo e da convivência que se movem tanto dentro da sociedade israelense quanto palestina.
Num diálogo entre cristãos e judeus que hoje não pode excluir as questões políticas do conflito, devemos compreender se ele pode contribuir para o relançamento de um caminho de paz que, como afirma a própria presidente Di Segni, não pode prescindir da perspectiva da justiça e da paz para dois povos, da segurança para o Estado de Israel e para a construção do Estado palestino, e da defesa dos direitos humanos, onde quer que sejam negados e vilipendiados. Pode ser esse o terreno onde abrir uma nova temporada de diálogo?
Citando David Grossman: "Temos o dever de dar às crianças as ferramentas para superar a paralisia que estamos vivendo. O ódio tem muitos agentes: quanto mais a guerra continuar, mais eles crescem. Em uma situação tão ruim, ter esperança é um ato de protesto. Não podemos deixar a realidade nas mãos dos covardes, daqueles que odeiam ou daqueles que assistem passivamente ao que acontece".