ONU comemora pela primeira vez o Dia de Combate à Islamofobia

Imagem da capa do "I Relatório de Islamofobia no Brasil". (Foto: Divulgação)

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15 Março 2023

No calendário da Organização das Nações Unidas, o 15 de março marca o Dia Internacional de Combate à Islamofobia, que será celebrado pela primeira vez em 2023. A resolução, aprovada no ano passado, pede diálogo global para promover a tolerância, paz, respeito pelos direitos humanos e pela diversidade religiosa

A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.

Quando do debate da resolução, o secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou a islamofobia de veneno. Destacou que muitas vezes a islamofobia está vinculada à questão de gênero, impondo às mulheres muçulmanas três tipos de discriminação: de gênero, de etnia e de fé. 

Pesquisa realizada pelo Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos (Gracias), da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, levantou que 68% das mulheres muçulmanas brasileiras ouvidas relataram casos de agressões físicas, sexualização, perda de oportunidades de trabalho e transtornos psicológicos provocados pelo preconceito com a religião: 66% sofreram constrangimentos por causa da religião e 59,2% por causa da vestimenta. 

Pesquisadores ouviram 653 pessoas muçulmanas nos meses de fevereiro a maio de 2021, que responderam um questionário on-line relatando episódios de islamofobia, informam Brenda Marchiore e Gustavo Roberto da Silva, do Jornal da USP. A pesquisa resultou no Relatório de Islamofobia no Brasil, coordenado pelo professora Francirosy Campos Barbosa

A maioria das pessoas ouvidas – 78,9% mulheres e 58,7% homens – avaliou que o Islã é representado negativamente na mídia brasileira. O espaço virtual é uma nova frente de ações islamofóbicas – a ciberislamofobia: 55,5% dos homens e 54,3% das mulheres ouvidas disseram que foram alvo de preconceito nas redes sociais por serem muçulmanas. 

A violência verbal é a mais frequente, apontada por 82% dos homens muçulmanos ouvidos e 92% pelas mulheres. A rua é o principal local onde as agressões ocorrem, apontada por 54,5% dos homens e 72% das mulheres. 

Chamou a atenção dos pesquisadores e pesquisadoras a ausência de denúncia jurídica dos agressores/as. A maioria absoluta dos/as agredidos/as – 94,5% dos homens e 96,7% das mulheres – não fez Boletim de Ocorrência e também não procurou outros meios legais para se defender da violência sofrida. 

Em entrevista à Rádio USP, a professora Francirosy comentou a importância da pesquisa realizada pelo Gracias, no sentido de “desconstruir essa ideia de associar o Islã ao terror, desconstruir essa ideia de que mulheres muçulmanas utilizarem hijab, lenço, niqab, chador, burca ou qualquer vestimenta, signifique um sinal de opressão”. 

O grupo de pesquisa frisou a importância da educação no combate à islamofobia. Sugere, para tanto, o estudo de livros didáticos que abordam o Islã, a realização sistemática de atividades nas escolas, iniciando com palestras para crianças ainda na Educação Básica, mas inserindo-se também nos outros estágios do processo educativo, do Ensino Fundamental à Universidade

Propõe ainda incentivar o diálogo inter-religioso, “uma vez que a pesquisa identificou praticantes de outras religiões como perpetuadores de ataques, como seguidores da religião evangélica”. Mas também é preciso promover o diálogo intraislâmico, uma vez que pessoas ouvidas na pesquisa relataram desavenças devido à orientação religiosa – sunitas e suas vertentes, xiitas em relação a sunitas. “É preciso investir para que muçulmanos se compreendam, apesar de suas diferenças”, sugeriram os/as pesquisadores/as. 

A pesquisa está disponível aqui

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