01 Julho 2025
"O Papa agostiniano explica que 'a cidade de Deus empenha à profecia na cidade dos homens, e isso – sabemos – pode levar ao martírio até mesmo hoje. A luta contra o narcotráfico, o empenho educativo entre os pobres, a defesa das comunidades indígenas e dos migrantes – enfatiza – e a fidelidade à doutrina social da Igreja são em muitos lugares considerados subversivos'. Drogas e dependências, afirma Prevost, 'são uma prisão invisível'".
O artigo é de Iacopo Scaramuzzi, vaticanista de La Repubblica e autor de vários livros historicamente focados no atual papado, como, Il sesso degli angeli: pedofilia, feminismo, lgbtq+: il dibattito nella Chiesa, em la Repubblica, 27-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Vai contra a corrente do mundo Leão XIV. A OTAN discute investimentos em armamentos, a União Europeia negocia o fortalecimento da defesa, as grandes potências se desafiam com bombas e O Papa condena "as falsas propagandas do rearmamento". A linguagem é abrasiva, como aquela que usava o Papa Francisco. "Como se pode acreditar, depois de séculos de história, que as ações bélicas levam à paz e não têm o efeito contrário sobre aqueles que as conduziram?", pergunta Robert Francis Prevost em seu discurso dirigido à Reunião das Obras de Ajuda das Igrejas Orientais (Roaco).
Como se pode continuar a trair os desejos de paz dos povos com as falsas propagandas do rearmamento, na vã ilusão de que a supremacia resolve os problemas em vez de alimentar ódio e vingança? As pessoas — enfatiza o Papa — percebem cada vez mais a quantidade de dinheiro que vai para os bolsos dos mercadores de morte e com o qual se poderia construir hospitais e escolas; mas, em vez disso, se destroem aqueles já construídos!”
Patriarcas e grandes arcebispos chegaram ao Vaticano, alguns não puderam se deslocar por causa da guerra. "Meu coração sangra ao pensar na Ucrânia, na situação trágica e desumana em Gaza e no Oriente Médio, devastado pela expansão da guerra", diz Leão. Ele está preocupado com os fiéis daquelas terras, menciona o recente "terrível" atentado à igreja de Santo Elias em Damasco, mas, de forma mais geral, "hoje a violência da guerra parece se abater nos territórios do Oriente cristão com uma veemência diabólica nunca vista antes".
É preciso "desmascarar" as causas "espúrias" dos conflitos, porque "as pessoas não podem morrer por causa de fake news". As palavras de Prevost revelam sua indignação com a recente escalada no Oriente Médio: "É desolador", diz ele, "ver que a força do direito internacional e do direito humanitário não parece mais ser vinculativa, substituída pelo suposto direito de obrigar os outros pela força. Isso é indigno do homem, é vergonhoso para a humanidade e para os responsáveis pelas nações". Para o Papa, a guerra é o caminho a ser evitado.
Assim como é outra guerra que ele evocou ontem. Em um dia repleto de compromissos, o Papa Leão recebeu uma delegação de todas as realidades italianas — públicas e privadas, católicas e não confessionais — envolvidas na luta contra a dependência química. À frente delas está Alfredo Mantovano, subsecretário da Presidência do Conselho e elo entre Giorgia Meloni e o Palácio Apostólico. O Papa desenvolve um raciocínio que está muito distante da linha securitária da direita do governo: "Com muita frequência, em nome da segurança, se declara guerra e se trava guerra contra os pobres, enchendo as prisões com aqueles que são apenas o último elo de uma cadeia de morte", afirma ele. "Aquele que detém a cadeia em suas mãos, em vez disso, consegue ter influência e impunidade. Nossas cidades não devem ser liberadas dos marginalizados, mas da marginalização; não devem ser limpas dos desesperados, mas do desespero".
O encontro é aberto por Paola, ex-usuária em tratamento na comunidade de reabilitação de San Patrignano, junto com Letizia Moratti e Dom Antonio Coluccia, o padre antidrogas das periferias romanas, Mantovano enfatiza que "é difícil explicar que as drogas são nocivas, destroem, todas as drogas, sem distinção entre leves e pesadas". O governo Meloni também incluiu o combate à dependência química entre os objetivos do imposto 8 por mil destinado ao Estado, uma medida amplamente publicitada que gerou descontentamento entre os bispos italianos.
O Papa agostiniano explica que "a cidade de Deus empenha à profecia na cidade dos homens, e isso – sabemos – pode levar ao martírio até mesmo hoje. A luta contra o narcotráfico, o empenho educativo entre os pobres, a defesa das comunidades indígenas e dos migrantes – enfatiza – e a fidelidade à doutrina social da Igreja são em muitos lugares considerados subversivos". Drogas e dependências, afirma Prevost, "são uma prisão invisível".
Mas a "luta" a ser travada é "contra aqueles que fazem das drogas e de toda outra dependência – pensamos no álcool ou no jogo de azar – o seu imenso negócio. Existem enormes concentrações de interesses e organizações criminosas disseminadas que os Estados têm o dever de desmantelar". E, em vez disso, observa Leão, "é mais fácil combater as suas vítimas".