25 Junho 2025
Forças israelenses aumentaram operações militares e bloquearam postos de controle, impondo ainda mais barreiras ao acesso a serviços essenciais
A informação é da assessoria de imprensa de Médico Sem Fronteiras (MSF).
Enquanto a atenção internacional se volta para o crescente conflito entre Israel e Irã, as forças israelenses intensificaram suas atividades na Cisjordânia. O aumento das operações militares em Jenin, Nablus e Tulkarem, juntamente com o envio de tropas adicionais, agravou as restrições à população palestina no território.
Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta que essas ações exacerbam a já terrível situação dos palestinos na Cisjordânia, que enfrentam barreiras significativas no acesso a cuidados de saúde e serviços essenciais, principalmente desde outubro de 2023.
MSF pede a interrupção imediata das medidas que contribuem para o deslocamento forçado e para um sistema de anexação, incluindo presença militar prolongada, restrições de movimento, demolições, uso excessivo da força e bloqueio de acesso a serviços básicos.
"Em 13 de junho, as forças israelenses invadiram meu vilarejo em Tulkarem, tomaram dois prédios residenciais e os transformaram em quartéis militares, deslocando as pessoas que viviam lá. Desde então, eles têm patrulhado o vilarejo regularmente, conduzindo investigações, interrogatórios, prisões, buscas e detenções", afirmou Karim*, profissional da equipe de MSF.
"Na última semana, as comunidades da Cisjordânia viram suas vidas serem ainda mais controladas por uma potência ocupante, enquanto o mundo desvia o olhar. Isso não pode continuar", apela Simona Onidi, coordenadora de projetos de MSF em Jenin e Tulkarem.
Em 13 de junho, dia em que a escalada começou, as autoridades israelenses bloquearam todos os principais postos de controle israelenses e as entradas de Hebron por quatro dias. Isso obrigou aqueles que buscavam atendimento médico a atravessar a pé entre as áreas, forçando pessoas gravemente doentes a caminhar longas distâncias, sob o risco de serem alvejadas ou impedidas de atravessar.
"Em 14 de junho, tentei levar meu irmão de Belém para uma consulta médica em Hebron - uma viagem que deveria levar 25 minutos. Mas devido às novas restrições israelenses, todas as principais entradas e saídas estavam fechadas. Levamos três horas e, no final, apesar de estar muito doente, ele teve que passar por um posto de controle fechado a pé, o que não é seguro", relata Oday Al-Shobaki, especialista de comunicações.
MSF suspendeu as atividades com as clínicas móveis em Hebron e Nablus - que ofereciam apoio de saúde mental, cuidados de saúde sexual e reprodutiva e atendimento de saúde básica - por causa do fechamento dos postos de controle e das preocupações com a segurança decorrentes da intensificação das operações militares.
Em Jenin e Tulkarem, as clínicas móveis tiveram seus horários de trabalho adaptados, funcionando em alguns dias e não em outros, devido à presença das forças israelenses nos vilarejos próximos. Isso forçou os pacientes a dependerem de consultas telefônicas.
As operações militares e os ataques violentos do exército israelense vêm ocorrendo há anos na Cisjordânia. Em 2022, houve um número recorde de mortes de palestinos devido à violência das forças israelenses ou de colonos.
Desde outubro de 2023, as tropas israelenses aumentaram o número de medidas coercitivas e o uso de violência física extrema contra os palestinos na Cisjordânia ocupada, incluindo restrições severas de movimento, ataques militares e barreiras sistêmicas a serviços essenciais.
Em janeiro de 2025, as forças israelenses iniciaram a operação militar “Muro de Ferro” no norte da Cisjordânia, que ainda está em andamento. Esvaziando violentamente acampamentos bem estabelecidos e impedindo qualquer retorno, mais de 42 mil pessoas foram deslocadas à força e ficaram sem moradia fixa e com acesso limitado a alimentos, água e cuidados médicos.
"Esta última onda de restrições e violência, ocorrida na semana passada, parece ser uma oportunidade para as forças israelenses reforçarem o controle, aprofundarem a fragmentação das comunidades palestinas e promoverem o sistema que a Corte Internacional de Justiça descreveu como de segregação racial e apartheid", diz Simona Onidi.
"Pedimos aos países [que têm criticado as ações israelenses] que ajam além das palavras de condenação e pressionem de fato as autoridades israelenses para que acabem com o uso excessivo da força e interrompam as restrições de movimento que bloqueiam o acesso a serviços essenciais e à ajuda humanitária, aumentando o apoio às comunidades deslocadas e isoladas em toda a Cisjordânia", apela Simona Onidi.
Leia mais
- Israel está provocando a terceira intifada na Cisjordânia. Artigo de Gideon Levy
- A “gazaficação” da Cisjordânia avança
- Netanyahu ordena operação massiva na Cisjordânia após três ônibus explodirem perto de Tel Aviv
- Medo da ONU: “O verdadeiro objetivo de Israel e dos EUA é anexar a Cisjordânia”
- Na Cisjordânia seguindo o front do fogo “Não há trégua aqui, os colonos nos perseguem”
- Cisjordânia. Pietro Parolin se reuniu com embaixadores dos EUA e Israel para expressar as preocupações da Santa Sé sobre ações unilaterais
- Cisjordânia. O medo do Ramallah: “Seremos nós a pagar novamente”
- Cisjordânia: assentamentos, violência, silêncio cúmplice. Artigo de Estéfano Tamburrini
- Cisjordânia. Exército de colonos pressiona pela expulsão em massa de palestinos
- Escavadeiras e civis armados. O avanço dos colonos na Cisjordânia “É a nossa casa”
- Na Cisjordânia, colonos israelenses queimam oliveiras palestinas
- Na Cisjordânia, a “lei” dos colonos afasta qualquer sonho de paz
- Na Cisjordânia em chamas, aldeias destruídas e colonos armados
- Fora de Gaza, dentro da Cisjordânia. Artigo de Nello Scavo
- “O 7 de outubro mostra que não pode haver um sistema de apartheid indefinido sem custos”. Entrevista com Tareq Baconi
- Palestinos, judeus, armênios e mais: a limpeza étnica que mancha a história do mundo
- Israel amplia o front na Cisjordânia. Mais mortos, esvaziado o campo em Jenin
- A primeira guerra fascista de Israel. Artigo de Gideon Levy
- Toques de recolher e escolas fechadas: guerra sufoca os palestinos de Hebron
- “Não nos renderemos”: os extraordinários palestinos de Jenin. Artigo de Ramzy Baroud