16 Junho 2025
A UE ficou de fora do jogo. E as monarquias do petróleo à espera. O cientista político francês e especialista em mundo árabe se manifesta.
As petromonarquias do Golfo sofreram interferência iraniana, mas também temem uma vitória total de Israel. Não desejam uma vitória completa de Teerã, nem um triunfo israelense. Gilles Kepel, um dos mais importantes estudiosos ocidentais do mundo árabe, analisa um conflito que pode passar de regional a global e minar a arquitetura de segurança construída desde a Guerra Fria. "Quando vemos os arranha-céus de Tel Aviv sob bombardeio, entendemos que nosso destino também pode estar em jogo", observa Kepel, que em seu livro Holocaustos, publicado pela Feltrinelli, previu algumas das convulsões causadas pelos ataques contra Israel em 7 de outubro de 2023.
A entrevista com Gilles Kepel é de Anais Ginori, publicada por La Repubblica, 16-06-2025.
Qual é, na sua opinião, a lógica da nova ofensiva israelense?
Israel vem se preparando para esta operação há anos, inspirado pelo ataque contra o Hezbollah no Líbano. Na época, as forças israelenses haviam conduzido uma campanha de eliminação seletiva: líderes baleados enquanto dormiam e destruição de suas capacidades de resposta. Foi uma tentativa de desmantelar o sistema de dissuasão iraniano, do qual o Hezbollah era uma peça-chave. Depois de atingir o Hezbollah, destruir militarmente o Hamas e expulsar Bashar al-Assad, o próximo passo é o Irã. Também porque Teerã fracassou nas negociações nucleares com os Estados Unidos, em particular nas conversas entre o ministro iraniano Aragchi e o enviado especial de Trump, Steve Witkoff.
🇮🇱🇮🇷 O porto de Haifa, também atingido esta noite por uma segunda barragem de mísseis iranianos. pic.twitter.com/Jur6RCQGtn
— geopol•pt (@GeopolPt) June 15, 2025
Quais fatores aceleraram a operação militar?
Dois elementos foram decisivos. Primeiro, a atitude do Irã em relação a Trump, que levou o presidente americano a fechar qualquer perspectiva de negociação. Nesse ponto, abriu-se uma janela de oportunidade que Netanyahu aproveitou sem esperar o sinal verde de Trump. Segundo elemento decisivo: a urgência de o primeiro-ministro israelense encontrar uma saída para o impasse em Gaza. A guerra na Faixa de Gaza permitiu a eliminação militar do Hamas, mas os bombardeios, que causaram mais de 50.000 mortes, estão alienando o apoio internacional a Israel.
O que poderia acontecer em Teerã?
Nas primeiras horas, muitos acreditavam que o regime dos aiatolás estava à beira do colapso. Houve até rumores de que Pasdaran fugiria em direção a Moscou. Mas então houve uma reviravolta com imagens de cidades israelenses sob bombardeio. O regime iraniano, embora economicamente enfraquecido, está demonstrando uma resiliência inesperada. É mais difícil de derrubar do que o Hezbollah e mantém uma forte capacidade de causar danos, particularmente por meio de seus representantes terroristas na região.
Como os vizinhos do Irã, especialmente os sunitas, se posicionam?
Os países sunitas estão se movendo com extrema cautela. Por um lado, há declarações hostis a Israel, mas elas não são seguidas de ações. A Jordânia, por exemplo, ajuda a interceptar mísseis iranianos que cruzam seu espaço aéreo. O Iraque faz muito barulho, mas permanece estagnado. Arábia Saudita e Emirados têm uma posição ambivalente: temem o Irã e querem o fim de seu regime, mas ao mesmo tempo se beneficiam de seu isolamento. Enquanto o Irã estiver sob sanções, seu petróleo não inundará o mercado. Mesmo em termos de influência política, as petromonarquias do Golfo têm sofrido com a interferência iraniana, mas também temem uma vitória total de Israel que poderia marginalizá-las. Seu silêncio reflete uma equação insolúvel: enfraquecer o Irã sem fortalecer Israel.
A Europa pode desempenhar um papel?
Está completamente fora de questão. A cúpula nas Nações Unidas, que seria organizada por Emmanuel Macron e Mohammed Bin Salman para reconhecer o Estado Palestino, foi adiada até segunda ordem. É um sinal claro de que o poder de decisão está em outro lugar. A Europa não só está excluída das negociações diplomáticas, como corre o risco de se tornar vítima colateral da desintegração do Oriente Médio. A Turquia, por exemplo, teme um fluxo maciço de refugiados em caso de colapso do Irã, e isso inevitavelmente teria repercussões na Europa.
Em termos de segurança, existe um risco direto para a Europa?
Não creio que um míssil iraniano atinja Roma, mas o que está em jogo é a arquitetura global da segurança. Depois de Yalta, e depois de 1989, o mundo estava organizado em torno de um sistema bem definido. Hoje, Trump disse claramente que a OTAN não lhe interessa mais. Criou-se uma instabilidade perigosa. Putin está preenchendo essa brecha ao se apresentar como o novo mediador. Basta olhar para as imagens de Tel Aviv em chamas, os israelenses em abrigos. Nós, europeus, também podemos estar nessa situação. Este conflito envolve identidades e afiliações que abrangem o globo, com uma intensidade angustiante talvez maior do que a da guerra na Ucrânia.