“A unidade pode ser encontrada sem ser homogêneos: é o espírito do Sínodo”. Entrevista com Mario Grech

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28 Abril 2025

“Veja, o que nos une é maior do que o que nos divide: é a pessoa de Jesus. E o processo sinodal demonstrou isso...”.

O Cardeal Mario Grech, 68 anos, de Malta, tem sido um dos colaboradores mais próximos de Francisco e é uma das figuras-chave do próximo Conclave. O Papa o escolheu para ser o secretário-geral do Sínodo dos Bispos, um dos aspectos centrais do pontificado. A palavra grega synodós significa, literalmente, caminhar “juntos” (syn) pela mesma “estrada” (odós). De Sínodos, Bergoglio convocou cinco. Mais recentemente, o Cardeal Grech liderou o processo sinodal que envolveu os fiéis em todas as dioceses do mundo durante três anos, mesmo em questões delicadas, começando com o papel das mulheres – pela primeira vez tiveram o direito de votar em um Sínodo dos Bispos – e seu acesso ao diaconato.

A entrevista é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 26-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Eminência, agora que estamos nos preparando para nos despedirmos dele, tem alguma lembrança especial de Jorge Mario Bergoglio?

Lembro-me de que, em um dos encontros mensais de preparação para a assembleia sinodal, o Papa Francisco me disse enfaticamente: "Quero que participem dessa assembleia leigos, consagrados e o sacerdotes e que suas vozes sejam realmente ouvidas. Mas recomendo: o Sínodo dos Bispos é e deve continuar sendo dos bispos!" Lembro-me disso hoje porque percebo que nem todos na Igreja o entenderam.

O que queria dizer?

Para ele, uma Igreja sinodal era um forte convite à conversão, também para os pastores. Uma mudança na forma de viver a autoridade em seu ministério: não uma diminuição ou achatamento.

E de que forma mudou, o papel dos bispos, nesse processo?

Promover a participação de todo o povo de Deus e valorizar a contribuição de cada pessoa requer uma compreensão ainda mais forte da responsabilidade do bispo em seu serviço de comunhão e unidade, uma responsabilidade irreprimível. É claro que se trata de unidade que não é uniformidade, homogeneização. Em vez disso, é uma questão de ser conseguir compreender os diferentes dons dos quais cada um é portador e de mantê-los unidos. Em tudo isso, o bispo é o princípio da unidade e o garantidor do discernimento eclesial.

O temor de divisões, entretanto, é generalizado. O Cardeal Ravasi observava que o próprio Francisco “percebeu que a Igreja estava se desmanchando”, se temem divisões nas congregações gerais e dentro do Conclave. A experiência dos Sínodos ajudará?

O processo sinodal mostrou como o estilo sinodal da escuta pode proporcionar um espaço no qual as tensões e divisões, muitas vezes apresentadas de forma polarizada ou combativa pelas mídias, podem ser abordadas de forma eficaz.

E como se abre esse espaço?

Com uma abordagem centrada no Evangelho. Quando falo de escuta, tanto a que é oferecida quanto a que é recebida, não me refiro apenas a um ato prático ou funcional, algo que é conveniente fazer porque é útil. A escuta tem um profundo significado teológico e eclesial quando é entendida como um convite para adotar a própria atitude de Cristo. Nos Evangelhos, Jesus é frequentemente retratado enquanto escuta atentamente as pessoas que encontrava em seu caminho. Pense em quantas vezes ele começa seus encontros com uma pessoa fazendo a pergunta: "O que você quer que eu faça por você?", "Por que vocês estão preocupados e por que esses pensamentos surgem em seu coração?". Essa forma de escuta deveria moldar e transformar todos as relações dentro da comunidade cristã e também os nossos encontros.

Vocês farão isso?

Sim, estamos tentando fazer isso porque é um ato de fidelidade ao Evangelho e à antropologia relacional que a Igreja desenvolveu e promoveu durante milênios. Somente por meio da escuta autêntica em Cristo podemos continuar a caminhar juntos, apesar da diversidade de nossas abordagens.

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