18 Abril 2025
"Uma primeira renovação nos estudos bíblicos foi de fato aprovada por Roma em 1893 com a encíclica Providentissimus Deus, de Leão XIII. Porém, um pouco mais tarde, Roma reagiu ao modernismo - radical e, sob alguns aspectos, inaceitável - com uma repressão implacável, que, sem distinção, transformou em terra arrasada todo fermento inovador", escreve Giovanni Maria Vian, historiador e ex-diretor do L'Osservatore Romano, em artigo publicado por Domani, 13-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nunca muito incentivada na tradição católica, a leitura direta da Bíblia é um dos méritos do Concílio Vaticano II. Mas já no final do século XIX, a tentativa dos modernistas de responder às exigências da crítica histórica tinha tentado renovar também nesse âmbito.
Depois que o modernismo foi duramente reprimido por Roma, o difícil processo de renovação bíblica católica recebeu grande contribuição das ações de três papas - Pacelli, Montini e Ratzinger - com réplicas e reviravoltas que duraram até a véspera do concílio. Contraditório e não completamente esclarecido, entretanto, é o papel de Roncalli, que, no entanto, havia intuído e iniciado o Concílio.
O papel de Pio XII foi reconhecido em 1968 por uma obra inovadora no contexto da efervescência pós-conciliar: o Comentário Bíblico de Jerônimo, em homenagem ao tradutor por excelência das Sagradas Escrituras, São Jerônimo. A história desse extraordinário comentário e de suas três edições narra as dificuldades de uma reforma que não podia mais ser adiada.
Traduzido para o espanhol e na Itália pela editora Queriniana, a mais importante editora de textos teológicos do país, o comentário estadunidense imediatamente se revela um sucesso. As vendas rapidamente ultrapassam duzentos mil exemplares, um número incrível para uma obra tão exigente. Vinte anos depois, descobertas arqueológicas sensacionais e novas linhas interpretativas exigem uma segunda edição. Também publicada pela Queriniana, a obra é dedicada, como a de 1968, à memória de Pio XII, “grande promotor dos estudos bíblicos católicos no século XX”.
Em 1989, a dedicatória inclui Paulo VI, falecido há uma década: o pontífice, de fato, “defendeu e consolidou o progresso desses estudos durante e após o Concílio Vaticano II”.
Falta o nome do “papa bom”, que reinou por cinco anos entre Pacelli e Montini.
Mais de trinta anos depois, em 2022, chega o terceiro Jerônimo. Totalmente novo, em mais de duas mil páginas apresenta e explica - passagem por passagem, de modo claro - todos os livros da Bíblia. O comentário é acompanhado por tratados concisos sobre geografia, arqueologia e história relativos aos textos sagrados cristãos e sobre as novas leituras da Bíblia: feminista, africana, latino-americana, asiática e ecumênica.
Enquanto isso, em 2006, um Comentário Bíblico da África foi publicado em Nairóbi, inteiramente escrito no continente.
Um verdadeiro monumento, o terceiro Jerônimo acaba de ser traduzido (Commentario biblico per il XXI secolo, Queriniana) e a dedicatória aos pontífices italianos foi substituída - na introdução dos quatro curadores (John Collins, Gina Hens-Piazza, Barbara Reid, Donald Senior) - pela dedicatória ao Papa Francisco, que também assinou o prefácio.
Os autores dos prefácios dos comentários anteriores também haviam sido dois jesuítas: em 1968, o alemão Augustin Bea e, em 1989, o italiano Carlo Maria Martini. O primeiro, especialista em Antigo Testamento, reitor do Pontifício Instituto Bíblico e confessor do Papa Pacelli, era um firme defensor do ecumenismo e especialmente do diálogo com os judeus. O segundo, especialista em crítica textual e posteriormente arcebispo de Milão, foi uma das principais figuras do catolicismo contemporâneo.
Bea explicou o motivo da dedicatória a Pio XII. Foi precisamente o Papa Pacelli que superou meio século de estagnação no estudo da Bíblia e, assim, lançou as bases da “atualização” preconizada pelo Concílio Vaticano II também nesse âmbito.
Uma primeira renovação nos estudos bíblicos foi de fato aprovada por Roma em 1893 com a encíclica Providentissimus Deus, de Leão XIII. Porém, um pouco mais tarde, Roma reagiu ao modernismo - radical e, sob alguns aspectos, inaceitável - com uma repressão implacável, que, sem distinção, transformou em terra arrasada todo fermento inovador.
Até mesmo o mais alto representante da pesquisa bíblica católica, o dominicano Marie-Joseph Lagrange, que nunca havia sido censurado pela Santa Sé, foi atingido. O biblista fundador da famosa École biblique de Jerusalém - a instituição francesa que publicaria a excelente e conhecidíssima Bíblia de Jerusalém (na Itália, recém reeditada pelas Edb de Bolonha) - morreu em 1937.
Basicamente, o fruto dos estudos de Lagrange foi retomado em 1943 por Pio XII com a grande encíclica bíblica Divino afflante Spiritu. Um verdadeiro divisor de águas - escreve Donald Senior agora no Comentário - “que derrubaria várias décadas de suspeita sobre os estudiosos acadêmicos católicos da Bíblia” e que “continua sendo a magna carta da interpretação católica das Escrituras”.
A importância do documento de Pacelli foi reconhecida em 1969 por uma mulher, a biblista luterana Suzanne de Dietrich, que escreveu como a encíclica havia aberto “possibilidades completamente novas de pesquisa” para os estudiosos católicos. E seu juízo confirmava uma observação do Cardeal Bea no prefácio do primeiro Jerônimo: “A orientação bíblica dos documentos conciliares”, devido à influência da Divino afflante Spiritu, explica sua apreciação pelos não católicos.
Na segunda edição do comentário bíblico, Martini também escreveu sobre o aspecto ecumênico. “Grande parte do progresso feito pelo estudo da Bíblia nas últimas décadas e documentado nesta obra é fruto da intensa pesquisa de intérpretes pertencentes a diferentes igrejas cristãs”, observou o cardeal, o único católico no grupo dos biblistas que elaboraram a edição crítica do Novo Testamento (The Greek New Testament) destinada a tradutores em centenas de línguas modernas.
Mas, após a morte de Pacelli, contra as novas tendências da pesquisa bíblica favorecidas no âmbito católico pela encíclica de Pio XII, houve - entre 1961 e 1962, enquanto o Concílio estava sendo preparado - uma reviravolta por parte dos conservadores mais intransigentes, os três cardeais italianos Alfredo Ottaviani, Giuseppe Pizzardo e Ernesto Ruffini.
A ofensiva começou na Pontifícia Universidade Lateranense, com o objetivo de atingir principalmente o Pontifício Instituto Bíblico. E o resultado foi a retumbante suspensão do ensino - aprovada por João XXIII - que o Santo Ofício impôs a dois renomados biblistas jesuítas: o francês Stanislas Lyonnet e o alemão Maximilian Zerwick. Sintomático do clima daqueles anos é um episódio relembrado com inteligência por Raymond Brown, um dos curadores dos dois primeiros Jerônimos, em um tratado monumental e exemplar (La nascita del Messia, Cittadella). Foram questionados pelas novas tendências sobretudo os relatos evangélicos da infância de Cristo, tanto que nos Estados Unidos um biblista recebeu um cartão de Natal onde apareciam os Magos: irritadíssimos por terem sido descartados como figuras literárias, eles pediam ao estudioso para recebê-los.
João XXIII, embora distante e amargurado pelo ataque dos conservadores, estava muito preocupado pelas tendências nos estudos bíblicos católicos, especialmente sobre o Novo Testamento, como reconstruiu em 2024 o chileno Juan Carlos Ossandón Widow em um estudo sobre o Anuario de Historia de la Iglesia. Um testemunho direto vem do diário do jesuíta Roberto Tucci, diretor da Civiltà Cattolica que, quarenta anos depois, João Paulo II nomearia cardeal. O Papa Roncalli está de fato convencido de que “em alguns pontos o próprio Evangelho está sendo atacado”, observa o religioso em 1961, após uma longa audiência.
No entanto, no início do Concílio Vaticano II, diante da rejeição do esquema preparatório sobre a Bíblia, considerado pela maioria do Concílio como um texto muito conservador, o Papa Roncalli decidiu retirá-lo. Mas somente seu sucessor, Paulo VI, revogou, já em 1964, a grave medida tomada três anos antes contra Lyonnet e Zerwick. E graças às mediações de Montini no final do concílio, a constituição dogmática Dei verbum sobre a revelação divina foi aprovada quase por unanimidade.
O documento do concílio inspirou o ensino católico nas últimas décadas. Liderada por Ratzinger, a Pontifícia Comissão Bíblica publicou dois documentos revolucionários sobre a interpretação dos textos sagrados cristãos e sobre o valor das Escrituras Hebraicas em 1993 e 2001. Depois, em 2010, Bento XVI assinou a exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini.
Embora o principal legado do papa teólogo continue sendo, acima de tudo, outro: entre 2007 e 2012, a trilogia límpida e convincente sobre Jesus de Nazaré. Que Ratzinger, no entanto, define não como “um ato magisterial”, mas a expressão de sua “busca pessoal pelo ‘rosto do Senhor’”.