07 Março 2025
Quando o mês do Ramadã começou no sábado, uma oração se elevou da Grande Mesquita de Roma para que o Papa Francisco possa se recuperar logo e voltar à sua tarefa de construtor de paz e de diálogo. O apelo veio do Imã Nader Akkad, presidente do Conselho Euro-Mediterrâneo para o Diálogo e copresidente da Comissão Internacional Mariana Muçulmano Cristã da Pontifícia Academia Mariana Internacional. Um apelo que se junta aos votos que chegaram nos últimos dias de Ahmad al-Tayyib, o Grande Imã de Al-Azhar, a maior autoridade do mundo sunita, juntamente com os de outras personalidades proeminentes com quem o Papa Francisco se encontrou e com quem iniciou um diálogo e um relacionamento que não hesitam em definir como fraterno.
A entrevista é de Flavia Amabile, publicada por La Stampa, 03-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O que significa para os muçulmanos rezar pelo Papa Francisco?
Uma oração especial foi dirigida a Sua Santidade porque ele nos ensinou como caminhar na fraternidade. Ele poderia ter se limitado a proferir discursos ou escrever declarações cheias de boas intenções.
Em vez disso?
Em vez disso, ele se pôs em viagem e se reuniu com os líderes do mundo muçulmano. Em 2019, o Papa Francisco e o Grande Imã Ahmad al-Tayyib assinaram em Abu Dhabi um documento histórico sobre fraternidade que é um marco no relacionamento entre o cristianismo e o islamismo, que aponta como bússolas a cultura do diálogo, a colaboração conjunta e o conhecimento mútuo. Naquela ocasião, o Papa Francisco abraçou o Grande Imã e o chamou de irmão, um gesto que foi um importante sinal de paz. E o documento que foi assinado naquela ocasião lançava um apelo pelo fim das guerras e condenava as pragas do terrorismo e da violência, especialmente aquela revestida de motivações religiosas. Seguindo o caminho do Papa Francisco, conhecemos a esperança de poder criar um espírito fraterno capaz de unir toda a humanidade.
Uma esperança que não parecia tão forte com os pontífices anteriores? Deve-se lembrar que foi Bento XVI quem criou um mal-entendido que nunca conseguiu remediar quando, em 2006, citou uma frase que os muçulmanos consideraram uma ofensa.
O primeiro encontro que tive com o Papa Francisco remonta a 2014. Estávamos no santuário militar de Redipuglia, no Friuli Venezia Giulia, onde eu estava atuando como imã da comunidade. Por ocasião do centenário da Primeira Guerra Mundial, ele proferiu duas palavras que me impressionaram, fazendo-me perceber que eu estava diante de uma pessoa única.
Quais foram?
Ele disse: Nunca mais guerra e nunca mais indiferença. Dessa forma, o Papa Francisco enfatizou que, se não se cuidam as relações e se permanece na indiferença, cria-se um terreno fértil para a guerra. Aquelas palavras ficaram em meu coração. No encontro seguinte, ele nos deu uma lâmpada da paz que tem uma chama que não se apaga e nos abraçou. A partir daquele momento, começou uma profunda amizade. Estar com o Papa Francisco é estar na presença de um irmão. Se ele está em uma situação de saúde como a atual, é espontâneo rezar uma oração que brota com sinceridade do coração para que ele possa se recuperar e completar a jornada rumo à fraternidade dos povos.
O convite para orar é dirigido a toda a comunidade muçulmana?
Sim, neste mês sagrado do Ramadã, que também coincide com a Quaresma, fizemos um convite coletivo à nossa comunidade para intensificar as orações pela saúde do Papa Francisco, uma figura transversal que, na minha opinião, é cara não apenas aos nossos irmãos cristãos, mas também é um irmão para nós, muçulmanos.
O senhor definiu o Papa Francisco como “único” em comparação com os pontífices que o precederam. Em que sentido?
Eu também me encontrei com João Paulo II e Bento XVI. Ambos foram grandes pontífices, mas, se eu tiver que falar de um pontificado que está mais perto de meu coração, o de Francisco é especial. Um dia, enquanto estávamos no Sudão do Sul, eu o vi fazer um gesto que eu nunca tinha visto alguém fazer antes: ele beijou os pés dos irmãos que estavam em luta entre si. Naquele gesto, vi um homem extraordinário que se coloca em jogo, até mesmo fisicamente com humildade, para lembrar as pessoas para não se dividirem e para estarem em paz. Isso me fez lembrar muito do Profeta Maomé. Como ele, nos lembra como é importante fazer gestos extraordinários para trazer a paz.