17 Abril 2024
Para quem olha para o céu, não só figurativamente, mas em busca daquela lua crescente tão importante na marcação do tempo para o Islã, a convergência entre religião e ciência é, além de um passo significativo de harmonização entre fé e razão, sacralidade e laicidade, uma indicação essencial para o cumprimento das normas religiosas. Nader Akkad é uma síntese exemplar dessa convergência: engenheiro, foi pesquisador do Centro Internacional de Física Teórica de Trieste e é imã da Grande Mesquita de Roma. Toda ocasião é um pretexto para dar importantes passos para uma integração não só religiosa, mas também cultural, social e vai até ao diálogo com a ciência.
A entrevista é de Widad Tamini, publicada por La Repubblica, 12-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Islã e União Europeia: encontro ou confronto?
Anos atrás, depois de já ter concluído os meus estudos de teologia na Síria, cursei o mestrado na Universidade de Pádua de Estudos sobre o Islã da Europa, uma iniciativa do Ministério do Interior com um consórcio de universidades para a formação de figuras religiosas em sintonia com os valores da União Europeia. Uma formação de viés europeu, que possa integrar a formação dos imãs com os valores fundadores do projeto europeu, permite-nos não só desenvolver um Islã da Europa, que de forma alguma significa negar os fundamentos e os ensinamentos do Alcorão, mas combina o anúncio da unicidade de Deus com a multiplicidade das culturas que caracterizam o velho continente.
A Grande Mesquita de Roma se sente em casa?
No centro de Roma, destaca-se um minarete entre as muitas torres de sino. Não destoa: mas é um símbolo da beleza da Constituição italiana, que protege a mistura de povos, das culturas e das diferentes crenças, garantindo liberdades e promovendo o seu encontro. Muitos se queixaram da não reciprocidade, os países muçulmanos fundamentalistas nunca teriam permitido a construção de uma Igreja. Paulo VI respondeu que uma mesquita em Roma teria enriquecido o caráter de civilização universal da cidade.
Os lugares também desempenham o seu papel, o senhor está satisfeito com o projeto do arquiteto Paolo Portoghesi?
Portoghesi conseguiu criar um diálogo inter-religioso arquitetônico extraordinário. O edifício inspira-se no modelo de jardim, característico do Magreb e da grande mesquita de Córdoba; aquele da mesquita otomana e persa, na alternância entre grandes pátios e espaços abertos. A essas características soma-se a utilização de materiais da arquitetura romana, como o travertino e a terracota rosada.
O extremismo é uma face do Islã ou uma desfiguração?
É preciso insistir nas definições corretas: quando se fala de terrorismo se entra na esfera da criminalidade. É preciso proteger a verdadeira essência das religiões e isolar as apropriações ilícitas dos símbolos religiosos. O desafio futuro será principalmente cultural.
O reconhecimento por parte do Estado italiano confere mais margem de manobra para a comunidade muçulmana também nesse sentido?
É fundamental. Em primeiro lugar, permite a prevenção da deriva extremista, evitando a dispersão de almas que, não tendo o apoio e a sustentação de uma comunidade que as ajude a integrar-se, correm o risco de enveredar por caminhos perigosos. A cultura é um meio fundamental para a construção dos processos de integração.
A Grande Mesquita também defende a sustentabilidade energética numa interação inter-religiosa.
Há pouco mais de oito séculos, ocorreu um encontro muito importante entre São Francisco e o comandante do exército inimigo, o Sultão do Egito Malik al-Kāmil. Foi um dos mais extraordinários gestos de paz na história do diálogo entre Cristianismo e Islã. Hoje, o espírito daquele gesto de paz revive na comovente experiência de colaboração entre a Grande Mesquita de Roma e a Ordem dos Frades Menores Franciscanos. Mas além de ter criado a primeira comunidade inter-religiosa na Itália, promovemos uma solidariedade ambientalista: ambas as realidades se tornam parques de produção de energia renovável para alimentar o consumo interno, mas também as necessidades, em caso de excesso de energia, dos bairros próximos. Em vez de uma energia fóssil que divide, uma energia solar que une.
Termina o mês do Ramadã. Com que espírito o muçulmano entra na celebração do Eid?
O jejuador tem dois momentos de alegria, o primeiro ao pôr do sol pelo término do jejum, o segundo, no encontro com o Senhor, que o compensará pela sua abstinência. O Ramadã é um mês de grande espiritualidade, fortalece o crente e o aproxima do Senhor, mas é também um momento de importante proximidade com os temas contemporâneos de igualdade e justiça.
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“O terrorismo não é Islã. O único caminho é o diálogo”. Entrevista com Nader Akkad - Instituto Humanitas Unisinos - IHU