28 Fevereiro 2025
A informação é publicada por Religión Digital, 28-02-2025.
Muçulmanos ao redor do mundo celebrarão o mês sagrado do Ramadã este ano com um leve alívio emocional devido ao cessar-fogo na Faixa de Gaza, mas em meio à incerteza e ao conflito em muitos países muçulmanos, especialmente os árabes.
Centenas de milhões de muçulmanos aguardam o aparecimento da lua crescente (hilal em árabe), que abre o período de maior fervor religioso do ano — que este ano coincidirá com o próximo sábado ou domingo — e assim começa um período em que não comerão nem beberão, se absterão de práticas sexuais, evitarão críticas e insultos e pararão de fumar entre o nascer e o pôr do sol.
O ritual comemora a primeira revelação divina ao profeta Maomé e constitui um dos cinco pilares da religião, obrigatório para todos os adultos, exceto em casos de exceção devido a saúde, idade avançada ou viagem.
É também, e fundamentalmente, um momento de celebração comunitária, em que os muçulmanos se reúnem para compartilhar comida, oferecer presentes e reforçar o senso de pertencimento à comunidade.
No Oriente Médio, a data continua sendo marcada pelas crises econômicas prementes e pela violência nos territórios palestinos, questões que ainda pairam sobre a região apesar do alívio proporcionado pela trégua em vigor em Gaza.
As preocupações permanecem e este ano haverá uma atividade política incomum entre os líderes dos países árabes durante o Ramadã, para combater a proposta do presidente dos EUA, Donald Trump, de que os EUA assumam o controle de Gaza e para impedir a expulsão de palestinos de Gaza para o Egito e a Jordânia.
A tão esperada unidade árabe nesse sentido ainda não se materializou, embora muitos, incluindo a Jordânia, considerem a situação uma ameaça existencial.
No Egito, a crise econômica continua a fazer estragos, como pode ser visto no aparecimento tardio das decorações típicas desta época (lanternas coloridas, guirlandas) e nas dificuldades em comprar comida e presentes diante da inflação implacável.
Como curiosidade, na Síria, seguindo a tradição típica do Ramadã de lançar dramas televisivos para acompanhar durante os períodos de jejum, veremos alguém inspirado pelo colapso do governo de Bashar al-Assad, um testemunho da "nova" Síria.
No Irã, a difícil situação econômica também é uma grande preocupação, com o aumento dos preços dos alimentos básicos alimentando o descontentamento entre a população. O presidente Masud Pezeshkian proibiu a exportação de maçãs, laranjas e tâmaras, produtos típicos do Ramadã no país, por dois meses.
Mais de 300 milhões de pessoas professam a religião muçulmana na África Subsaariana, onde essa fé tem o segundo maior número de seguidores depois do cristianismo, e onde crises e conflitos também marcam as celebrações.
Na Somália, quase um quarto da população enfrenta grave escassez de alimentos devido ao impacto das mudanças climáticas e dos conflitos armados.
Os apelos pela paz também são frequentes neste momento, como o recente apelo da União Africana para que as partes em conflito no Sudão observem um cessar-fogo durante o Ramadã, no contexto da guerra civil que assola o país desde 2023.
Enquanto isso, na Nigéria, o país mais populoso da África (mais de 213 milhões de habitantes) e predominantemente muçulmano no norte, o Ramadã chega com a feliz notícia da queda nos preços de produtos alimentícios básicos, como milho, arroz, painço, feijão, farinha e soja, entre outros, após meses de alta inflação.
No Norte da África, as tensões econômicas também são sentidas e, no Marrocos, na véspera do mês sagrado, o rei Maomé pediu que não fosse realizada neste ano a tradicional cerimônia muçulmana do sacrifício 'Aid al-Adha', conhecida como a festa do cordeiro, um dos eventos mais importantes do calendário muçulmano, prevista para junho próximo, devido à severa seca que atinge o país nos últimos anos.
No entanto, as práticas tradicionais e populares continuam, como as competições de recitadores do Alcorão realizadas em todas as mesquitas da Líbia, enquanto na Tunísia, os programas com recitais, concertos e eventos religiosos após a quebra do jejum estão aumentando, como sessões de "dhikr", círculos de pregação e meditação islâmica.
A Ásia também enfrentará problemas econômicos durante o período de jejum. O Afeganistão, além das crises endêmicas, está sofrendo com um aumento da inflação que obrigou muitos a se resignarem a quebrar o jejum com chá e pão.
No Paquistão, o jejum, que é seguido com grande devoção, também é uma obrigação legal, pois é ilegal comer e beber em público durante o dia, sob pena de prisão, multa ou até mesmo punição física.
A Indonésia, país de 280 milhões de habitantes com a maior população muçulmana do mundo, espera que 100 milhões de pessoas retornem às suas cidades natais em março, enquanto o governo promete arrecadar cerca de US$ 200 milhões para cumprir a "obrigação religiosa" de ajudar Gaza.