16 Janeiro 2025
“Não é possível que Alice Weidel seja nazista, porque ela é uma mulher homossexual com uma parceira do Sri Lanka”, disse Elon Musk no X para “tranquilizar” (a seu modo) estadunidenses e europeus. Prova comprovada de que ele pode ser um gênio da tecnologia, mas de outras coisas sabe bem pouco.
O comentário é de Gian Antonio Stella, jornalista, publicado por Corriere della Sera, 15-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não apenas o líder prototípico das novas direitas racistas continentais, o holandês Pim Fortuyn, era declaradamente gay (e tão debochado a ponto de flertar na TV com um imã: "Se eu realmente conheço os islâmicos? Não tenho ideia do quanto os conheço, especialmente os garotos"), mas Michael Kühnen, entre os teóricos há quarenta anos dos neonazistas alemães e um inveterado negacionista do Holocausto que morreu de Aids, dedicou a outro camarada gay que mais tarde foi morto, o livro Nationalsozialismus und Homosexualität (Nacional socialismo e homossexualidade), onde podiam ser lidas coisas deste tipo: “As sociedades humanas que não conheceram a homossexualidade, ou nas quais foi reprimida, pereceram no decorrer dos séculos”; “O homossexual está na origem da estabilidade do poder, ou seja, da civilização. Com ele surge uma 'nova ordem'”.
“Em 1932, durante um discurso público, Adolf Hitler se coloca oficialmente do lado das SA e de seu líder, Ernst Röhm, que concebia e incentivava a homossexualidade da mesma forma que os espartanos ou os templários haviam feito...” ”A derrota de 1945 demonstrou que as relações heterossexuais não eram capazes de consolidar interiormente uma Ordem”.
Para resumir a história: o Terceiro Reich, para pessoas como ele, perdeu porque havia ignorado a lição do Batalhão Sagrado Tebano, composto por homossexuais que, como tais, “davam a vidas uns pelos outros”.
Alice Weidel, que aqui é filha dessa história e, além disso, não é “parceira”, mas casada com uma mulher do Sri Lanka e teve dois filhos com inseminação artificial proibida na Itália (“haveria uma dispensa para ela?”, perguntou zombeteiramente Vladimir Luxuria a Matteo Salvini) está, em suma, na esteira de uma tradição.
No entanto, ela se apressou em esclarecer: “Não estou aqui apesar da minha homossexualidade, mas também por causa da minha homossexualidade”. A grande ameaça para os homossexuais alemães, de fato, explica ela, “vem hoje dos migrantes muçulmanos que são hostis às relações homossexuais”.
Essa é a tese de outros teóricos neorracistas como Alain de Benoist: “O antirracismo universalista é o pior dos racismos”. E quanto aos gays mortos nos campos de concentração nazistas? Se perguntado novamente, Musk responderia como já respondeu: “E que isso tem a ver? Hitler era comunista”.