26 Abril 2023
No mesmo dia em que Elon Musk lançou o foguete SpaceX Starship em sua malfadada viagem inaugural rumo ao espaço, a fronteira final, o Twitter, também de propriedade de Musk, corajosamente expurgou os selos azuis de verificação de usuários que não se inscreveram em seu serviço pago “Twitter Blue” no dia 20 de abril, incluindo as contas do Papa Francisco no Twitter.
A reportagem é de Megan Marley, publicada por National Catholic Reporter, 24-04-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As nove contas papais no Twitter, criadas na época de Bento XVI em 2012, tuítam uma mensagem diária do Santo Padre em inglês, espanhol, português, italiano, latim, francês, polonês, árabe e alemão.
Conta do papa no Twitter sem o selo azul de verificação. (Foto: Twitter)
“Ele não verificou o papa! Estamos gerando outra pequena Avignon”, brincou o usuário Anthony Oliveira (@meakoopa), comparando as ações do CEO do Twitter ao Grande Cisma do Ocidente de 1378-1417, quando a Igreja Católica teve ao mesmo tempo três homens que alegavam ser o verdadeiro papa – um em Roma, um em Avignon, na França, e outro em Pisa, na Itália. Essa questão da verificação papal foi resolvida no Concílio de Constança, com a eleição do Papa Martinho V.
“Quando a fumaça azul surge no Vaticano, sabemos que eles verificaram um novo papa”, respondeu Niko Stratis (@nikostratis).
“Na missa de domingo, haverá uma segunda coleta para o fundo de verificação do Twitter do papa”, disse outro usuário do Twitter, Jim R. Lynch (@JimRLynch).
A Sala de Imprensa do Vaticano, observando que as nove contas @Pontifex têm um total de mais de 53 milhões de seguidores, disse ao CNS Rome em 21 de abril que entendia que o Twitter estava mudando algumas de suas políticas. Mas acrescentou que “a Santa Sé confia que incluirão a certificação da autenticidade das contas”.
Nesse mesmo dia, após a perda de seu selo azul de verificação, cada conta papal recebeu uma nova marca de verificação cinza, que designava “uma conta de organização governamental ou multilateral”.
O selo azul ao lado do nome de usuário no Twitter servia originalmente como uma forma para permitir que as pessoas “saibam que uma conta de interesse público é autêntica”, de acordo com a seção de perguntas frequentes da antiga política de verificação do Twitter. As contas tinham que ser “autênticas, notáveis e ativas”, e enviar informações de verificação específicas para se adequar a uma categoria específica de verificação.
O Twitter introduziu o serviço de assinatura “Twitter Blue” em 2021, oferecendo vantagens exclusivas, como pastas de itens salvos e um recurso para editar tuítes dentro de uma janela de tempo de 30 minutos.
O empresário bilionário Elon Musk adquiriu a empresa em 2022 e logo depois lançou uma versão atualizada do Twitter Blue que incluía a edição de tuítes, a possibilidade de fazer upload de vídeos de alta qualidade e um selo azul idêntico. Nesse relançamento inicial, muitas contas falsas, mas “verificadas”, abundaram, e o serviço foi rapidamente removido para ajustes, antes de ser lançado novamente.
Musk disse que a maneira original como a verificação foi fornecida era “corrupta e sem sentido”, e deu a entender que os selos não pertencentes ao Twitter Blue seriam removidos em breve. Em 11 de abril, ele anunciou via Twitter que esses selos herdados seriam finalmente removidos em 20 de abril.
Agora, existe uma tríade de cores de selos de verificação no Twitter. Os selos azuis significam que uma conta tem uma assinatura ativa do Twitter Blue; os selos dourados indicam uma conta comercial oficial das organizações verificadas do Twitter; e os selos cinzas indicam um governo ou uma organização multilateral. Também existem selos para contas afiliadas, assim como rótulos de contas automatizadas para bots.
Para se qualificar para um selo azul, as contas devem ter mais de 30 dias, indicar um número de telefone confirmado, ter estado ativas no último mês, ter um perfil preenchido e não violar as regras do Twitter sobre atividades enganosas, de spam ou manipuladoras.
O custo de uma assinatura individual do Twitter Blue é de US$ 8 a US$ 11 por mês; uma assinatura de organização tem um custo básico de US$ 1.000 por mês, mais US$ 50 adicionais por mês por conta afiliada.
Outras entidades e organizações religiosas que perderam seu selo de verificação azul são a Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, o National Catholic Reporter, o Catholic News Service Rome e o televangelista protestante Joel Osteen.
“Não sabíamos o dia nem a hora em que o nosso selo de verificação seria retirado. Mas, de fato, foi removido”, disse o NCR (@NCRonline) em um tuíte no dia 20 de abril.
Embora não se referindo ao novo sistema de verificação do Twitter, Osteen, agora sem o selo azul, tuitou no dia 20 de abril: “Aceite o novo que Deus está fazendo. Deus muda as estações. Ele fecha as portas para nos forçar a novas oportunidades, a um novo crescimento, a novos relacionamentos. Não fique parado olhando para trás”.
Algumas organizações católicas se mostraram céticas sobre o valor do serviço pago – desde organizações sem fins lucrativos que expressaram dúvidas sobre o valor de uma assinatura mensal e sobre se Musk poderia garantir que as vozes católicas não seriam silenciadas arbitrariamente – até grupos jornalísticos que disseram que ele não atende mais a seu propósito original.
“A verificação não é mais indicativa de integridade ou experiência jornalística”, disse John Grosso, editor digital do NCR. “Se alguém pode pagar pela verificação, isso diminui o valor do selo: a capacidade de diferenciar fontes de notícias e pessoas legítimas de fontes e pessoas ilegítimas.”
A assinatura mensal de US$ 1.000 para uma conta no nível de organização também pode ser proibitiva para pequenas organizações sem fins lucrativos e pequenas empresas.
“Para os meios de comunicação sem fins lucrativos, isso é difícil quando os orçamentos estão apertados e você está tentando administrar bem seus recursos”, disse Grosso.
Lideranças e organizações religiosas que agora trazem a marca do Twitter Blue (mas não o selo dourado do nível de organização) são o arcebispo Salvatore Cordileone, de San Francisco, o bispo auxiliar Robert Reed, de Boston, o bispo Robert Barron, de Winona-Rochester, Minnesota, a Arquidiocese de Washington, o Christendom College, o Dalai Lama, a EWTN News e o Catholic Answers.
“O Christendom College usa o Twitter como método para compartilhar as boas notícias sobre o nosso apostolado educacional. O benefício que meu escritório vê no selo azul é que ele permite que os usuários do Twitter saibam que esta conta é a conta oficial da instituição – e, portanto, é confiável”, disse Niall O’Donnell, diretor de marketing e comunicações.
“Outro grande benefício adicional do selo azul é a possibilidade de postar vídeos mais longos”, observou ele, apontando para um desses vídeos sobre a recente dedicação da capela da faculdade.
Reed se inscreveu no Twitter Blue pela conveniência que ele oferece, como a edição de tuítes. “Tenho um selo azul há muitos anos”, disse ele. “Eu não sabia que esse selo estava associado a isso agora.”
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Twitter de Elon Musk remove “selo azul” do Papa Francisco e de outras contas católicas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU