20 Dezembro 2022
Enquanto há menos de uma semana Elon Musk anunciava orgulhosamente o início iminente de testes para implantar dispositivos em cérebros humanos, a sua empresa Neuralink passou a ser alvo de uma investigação federal por abuso de animais.
A reportagem é do portal francês Mondialisation, 19-12-2022. A tradução é de Cesar Sanson.
Uma notícia que frustra os planos do excêntrico bilionário e levanta o véu dos bastidores de um projeto megalomaníaco e sem ética. Entre a Tesla, a SpaceX mas também o Twitter, Elon Musk voltou a ser notícia pela sua ambição sem limites.
Dessa vez é a empresa Neuralink, responsável por desenvolver um implante cerebral capaz de colocar a mente humana e o computador em diálogo que se encontra em investigação. Este suposto "progresso tecnológico" que promete recuperar e ativar as capacidades neurológicas das pessoas, tudo indica está na origem de centenas de mortes e sofrimento.
É isso que noticia a agência britânica Reuters. A empresa Neuralink é objeto de uma investigação federal por abuso de animais. Lançada por um procurador federal, a investigação está nas mãos do inspetor geral do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Não é um bom presságio para as atividades científicas do onipotente Elon Musk, já amplamente criticado.
Ainda na última sexta-feira, o novo chefe do Twitter anunciou com orgulho que poderia iniciar rapidamente os testes para a implantação de uma interface em cérebros humanos, assim que obtivesse a aprovação do Food and Drug Administration (FDA). Atrás da concorrente – a empresa Synchron lançada em 2016 já recebeu aprovação da FDA em 2021 para iniciar ensaios clínicos em humanos – o bilionário sul-africano-canadense-americano parece querer acelerar o passo.
Essa pressa tem um preço. Graças a dezenas de documentos internos da empresa Neuralink e depoimentos de vários funcionários atuais e antigos, a agência de notícias Reuters revelou os arrepiantes bastidores do sonho do colonizador espacial.
Trecho do vídeo de apresentação da Neuralia – Implante Espinhal da Neuralink para estimular o movimento em porcos.
Até agora, “a empresa matou cerca de 1.500 animais, incluindo mais de 280 ovelhas, porcos e macacos, como resultado de experimentos desde 2018, segundo registros analisados pela Reuters e fontes com conhecimento direto das operações da empresa”, revela o comunicado que acrescenta que estes números resultam de uma estimativa aproximada, uma vez que a empresa não mantém registros precisos sobre o número de animais testados e abatidos. Soma-se a isso também a extensa pesquisa realizada em ratos e camundongos de laboratório.
Se essas numerosas mortes não constituem em si uma violação das leis americanas de proteção animal (que não impõem limite quantitativo), a escala das execuções é surpreendente. A explicação, no entanto, parece clara: para acelerar o ritmo de pesquisa e o progresso científico da equipe Neuralink, o CEO Musk não hesitou em pressionar seus funcionários, mesmo que isso significasse causar muitos experimentos fracassados, trazendo consigo o sofrimento e a morte de centenas de animais de laboratório.
A investigação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos ocorre em um momento em que “a crescente oposição dos funcionários em relação aos testes em animais” atingiu o seu nível maior. Além de inúmeras reclamações internas sobre a “pressão do CEO Musk para acelerar o desenvolvimento”, mais de 20 funcionários atuais ou antigos concordaram em testemunhar para a agência de notícias de Londres, revelando “experimentos malsucedidos” nos animais de laboratório. A Reuters reuniu dezenas de documentos, mensagens, gravações de áudio, e-mails, apresentações e relatórios revelando as práticas imorais da empresa Neuralink.
Os funcionários denunciam particularmente certas experiências em que a pressão acumulada teria dado origem a lamentáveis “erros humanos” devido à falta de experiência do pessoal de testes. Esses erros "enfraqueceram o valor de pesquisa dos experimentos e exigiram testes repetidos, levando à morte de ainda mais animais", revelam os funcionários da empresa californiana.
Em 2021, por exemplo, 25 de 60 porcos tiveram dispositivos de tamanho errado implantados em seus crânios, provocando um sofrimento terrível para os animais. Em maio do mesmo ano, um cientista da empresa escreveu a seus colegas que esse "erro" poderia se tornar num "alerta vermelho" para os revisores do FDA. Todos os porcos foram mortos assim que o procedimento foi concluído.
Em uma segunda ocasião, a equipe cirúrgica implantou acidentalmente o dispositivo da Neuralink na vértebra errada de dois porcos diferentes durante duas operações separadas. “O incidente frustrou vários funcionários que disseram que os erros – repetidos – poderiam facilmente ter sido evitados contando cuidadosamente as vértebras antes de inserir o dispositivo ”, explica o relatório, que destaca o sofrimento pós-operatório sofrido por ambos os animais. “Com base nas baixas chances de recuperação (…) e considerando o sofrimento do animal, foi decidido que a eutanásia era o único curso de ação apropriado , escreveu a veterinária da empresa a seus colegas, acrescentando um emoji de coração partido.
Esses comportamentos cruéis, desrespeitando qualquer noção de bem-estar animal e empatia, são resultado de uma pressão exacerbada mantida pelo CEO da empresa. Em várias ocasiões, Elon Musk teria ameaçado seus funcionários de desencadear a “falência” da Neuralink se o progresso não fosse rápido o suficiente, sugerindo assim o fechamento de vários serviços. Declarações que não surpreendem após o anúncio de demissões em massa despachadas no Twitter, a mais recente aquisição do bilionário.
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Elon Musk é alvo de investigação por abuso de animais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU