09 Janeiro 2025
Em resumo, a riqueza de Musk aumentou cerca de 200 bilhões de dólares desde que Trump venceu as eleições. Estima-se que o sul-africano tenha financiado a campanha do próximo presidente com cerca de 250 milhões de dólares. Mesmo se incluirmos na soma os 44 bilhões que ele investiu no Twitter, os benefícios que Musk obteve ao apoiar a extrema-direita dos Estados Unidos e liberar o ódio e a polarização na rede social foram muito maiores.
O artigo é de Yago Álvarez Barba, coordenador da seção de economia publicada, por El Salto, 09-01-2025.
A relação do magnata dono da Tesla com os candidatos e presidentes de extrema-direita traz e trará grandes benefícios para sua conta de resultados.
Tende-se a apontar a deriva de Elon Musk como a de um troll louco com ideias absurdas e uma simples ideologização em direção à extrema-direita. Mas basta observar o crescimento da riqueza e dos negócios do magnata tecnológico para perceber que todos os seus movimentos lhe trouxeram imensos benefícios econômicos. Após controlar o governo Trump, ao ajudá-lo a ganhar as eleições, agora o dono da Tesla e do Twitter se lançou a desestabilizar todos os governos que se interpuserem em seus planos empresariais. A extrema direita-global, ansiosa por receber seu apoio, se torna sua principal aliada para continuar aumentando sua riqueza e a expansão de suas empresas.
O sul-africano foi o primeiro a alcançar uma riqueza superior a 200 bilhões de dólares há alguns anos, mas desde que Trump venceu nas urnas em novembro passado, seu patrimônio escalou para mais de 400 bilhões, segundo a Forbes, graças ao aumento das ações da Tesla e à valorização de sua empresa de satélites, a SpaceX. Os mercados sabem que as vitórias dos partidos de extrema-direita, como o de Trump, são boas para os negócios de Musk, e recompensaram-no com generosidade. Mas não é o único negócio que se abre ao excêntrico bilionário com o avanço da direita.
Começando pelo já consolidado, a vitória de Trump nas eleições de novembro teve sua resposta imediata na valorização da Tesla. Musk vem há mais de um ano alertando que a indústria do carro elétrico americana e europeia "será destruída" pelo carro elétrico fabricado na China. Os defensores do livre comércio, como Musk, começaram a pedir tarifas e protecionismo contra os carros chineses, algo que a política de guerra comercial contra o gigante asiático de Trump em seu mandato anterior representa perfeitamente.
No dia 4 de novembro, dias antes das eleições, as ações da empresa automobilística de Musk valiam 242 dólares. Apenas sete dias depois, as ações subiram para 350 dólares. Trump ainda não assumiu o cargo e, enquanto estas linhas estão sendo escritas, dois meses depois, as ações da Tesla estão a 395 dólares (411 um dia antes). Isso representa um aumento de 70% em seu valor. Ou seja, 12,8% das ações que a Tesla possui passaram de valer cerca de 100 bilhões para quase 160 bilhões de dólares. Somente com as ações da Tesla, Elon Musk ganhou em dois meses mais do que gastou para adquirir o Twitter. Isso mostra que a aposta do bilionário na aquisição do Twitter para direcionar o debate público para as posições de extrema-direita de Trump e promover conteúdos que exaltavam o político e atacavam seu oponente foi extremamente lucrativa para Musk.
As corridas espaciais de Musk e Jeff Bezos também foram vistas como se estivéssemos presenciando as excentricidades de dois milionários com ares de grandeza. Embora haja algo disso, existe outro motivo puramente econômico que também está começando a trazer resultados para o sul-africano: os contratos públicos da administração dos Estados Unidos. As duas empresas dos dois magnatas do Vale do Silício competem por enormes licitações públicas. Os mercados, mais uma vez, entenderam que a vitória de Trump sob a proteção de Musk favorecerá a contratação da empresa deste com o próximo governo do novo presidente.
A SpaceX tem duas linhas de negócios básicas que se beneficiam de um governo amigo. A primeira são os contratos da NASA. O verdadeiro negócio das viagens espaciais não está em levar turistas milionários para um passeio, mas em demonstrar à Agência Espacial dos Estados Unidos que é possível ser um fornecedor de serviços capaz de fazer o mesmo que ela. Esse é o grande negócio que tanto o CEO da Amazon quanto o da Tesla buscam. A vitória de Trump coloca a SpaceX como a provável vencedora de contratos milionários como principal fornecedora da NASA. Ou, pelo menos, é assim que os mercados entendem.
A outra linha de negócios é a de satélites. A SpaceX vem desenvolvendo há anos a rede de satélites Starlink, uma teia desses objetos voando em uma órbita terrestre baixa, com a intenção de ter 12.000 desses satélites circulando pelos céus. Com essa rede, a empresa de Musk pretende fornecer internet para todo o planeta, até mesmo em regiões remotas. Fez uma boa publicidade quando estourou a invasão da Ucrânia e Musk ofereceu o Starlink para restabelecer as conexões no país. Mas, novamente, competir com as empresas de internet não é a única utilidade que a rede de satélites de Musk pode ter. Uma rede tão poderosa e que abrange todo o planeta abre portas para o maior orçamento dos Estados Unidos: o do Ministério da Defesa e o do Pentágono. A SpaceX lançou recentemente uma nova linha de negócios chamada Starshield, na qual utiliza os mesmos tipos de satélites de órbita baixa, mas com fins militares e de inteligência. Musk já conseguiu contratos com o Pentágono para sua nova linha empresarial.
A SpaceX é uma empresa privada. Ou seja, suas ações não são negociadas em bolsa e não é tão fácil calcular o valor da empresa nem a participação de Musk, que é majoritária. Mas no início de dezembro, os principais meios econômicos americanos, Bloomberg e Financial Times, publicaram, após a compra de ações por investidores, que a SpaceX havia alcançado o valor de 350 bilhões de dólares, tornando-se a empresa não listada emergente mais valiosa do mundo, superando a ByteDance, controladora do TikTok, que foi avaliada em 300 bilhões. Em junho de 2024, a empresa estava avaliada em 200 bilhões. Ou seja, a participação majoritária de Musk nessa empresa aumentou 75% em apenas alguns meses. Com o aumento no valor da empresa de satélites de Musk em poucos meses, seria possível comprar três ou quatro Twitters.
Uma vez controlado o mercado dos Estados Unidos, assegurado que sua empresa de carros se defenderá das marcas chinesas e que nada será regulamentado contra seus interesses, o próximo passo é repetir a fórmula em outros países onde suas empresas podem fazer negócios. É aí que entra o mercado europeu e as extremas-direitas do velho continente, onde Musk já está fazendo seus primeiros movimentos.
Há apenas alguns dias, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni visitou a residência de inverno de Trump na Flórida. Logo após o término da reunião, foi anunciado que a Itália pretende contratar a SpaceX para utilizar seus satélites de órbita baixa Starshield para as comunicações do Exército italiano no Mediterrâneo e para o Governo italiano por meio de comunicações criptografadas. O contrato poderia chegar a cerca de 1,5 bilhões de euros, conforme publicado por vários meios.
Neste mercado, Musk também tem como concorrente Jeff Bezos e seu projeto Kuiper, mas, sobretudo, tem um competidor mais potente, europeu e parcialmente público: o projeto Iris2 de conectividade multiórbita da União Europeia. Através da união de empresas públicas ou semipúblicas de telecomunicações, entre as quais se encontra a espanhola Hispasat (7,4% nas mãos da SEPI) e outras da indústria de defesa aeroespacial e comunicações, a Comissão Europeia (CE) pretende que o projeto Iris2 coloque em órbita 290 desses satélites para que um setor tão estratégico como as comunicações militares e políticas dos Estados membros não fique nas mãos de um bilionário excêntrico, amigo da extrema-direita, conselheiro do presidente dos Estados Unidos e com contratos com o Pentágono.
Daí que as extremas-direitas europeias estejam fazendo olhares para Elon Musk e ele queira, quanto mais governos desse perfil, melhor. Com Meloni liderando a contratação de seus serviços na SpaceX em vez de recorrer à empresa impulsionada pela CE, um avanço dos grandes governos europeus de extrema-direita poderia colocar em risco o projeto Iris2 e deixar nas mãos de Musk as comunicações mais sensíveis dos Estados membros e seus exércitos, além de um mercado de bilhões de euros.
Não se pode negar que a Alemanha é o país com maior peso nas políticas e decisões da União Europeia. Se o futuro governo alemão tomasse a mesma direção de Meloni com a ajuda do magnata do Vale do Silício, os projetos europeus para criar a rede de satélites com empresas públicas e outras privadas, algumas delas alemãs, como a Deutsche Telekom, poderiam afundar completamente. Por isso, Musk tem interesse especial em apoiar os herdeiros do nazismo alemão, a Alternativa para a Alemanha (AfD), aos quais o sul-africano apoiou publicamente com um tuíte dizendo que apenas eles poderiam salvar a Alemanha.
O mesmo ocorre com o outro grande mercado europeu, mas que já não está sob o comando de Bruxelas. O apoio de Musk à extrema-direita britânica foi claro nas últimas semanas, e ele até atacou o atual primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, com boatos e chegou a insinuar que os Estados Unidos deveriam invadir o Reino Unido, gerando ira e uma resposta das autoridades britânicas.
Musk não será ministro, como alguns sugerem. O que Trump criou para seu financiador e promotor foi um organismo que, supostamente, se encarregará de tornar a administração americana mais eficiente. Já sabemos o que Musk fez ao comprar o Twitter: demitiu grande parte da equipe, especialmente aqueles que eram inconvenientes para suas intenções, como a equipe de moderação de conteúdo. Para a administração pública dos Estados Unidos, tem os mesmos planos. Ele anunciou que pretende demitir 70% dos funcionários federais dos EUA e cortar um terço do orçamento.
Esses cortes deixariam as principais empresas reguladoras da administração sem recursos, com as quais Musk já tem disputas. A Comissão de Valores Mobiliários, por exemplo, denunciou o magnata por manipular o mercado de criptomoedas com seus tuítes sobre o tema e também o obrigou a declarar-se sobre a oferta pública de ações (OPA) com a qual adquiriu o Twitter. Musk vem enfrentando seu presidente, Gary Gensler, há anos. Com Trump na Casa Branca e Musk aconselhando sobre como cortar pessoal, é mais do que provável que os organismos que incomodaram o sul-africano sejam os primeiros a ser reduzidos e que as regulamentações que imponham limitações à sua riqueza, como os impostos sobre grandes fortunas ou grandes empresas, sejam eliminadas da mesma forma que já foram no anterior mandato de Trump.
Com o cerco ao presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, também se engorda a conta de resultados de Musk. Gary Gensler sempre foi um obstáculo na regulação das criptomoedas e na sua inclusão nos circuitos financeiros tradicionais. Embora tenha acabado cedendo, a SEC paralisou por um bom tempo a regulação e aprovação dos ETFs de Bitcoin e outras criptomoedas. Sua aprovação foi o pontapé inicial do rally que o mercado vivenciou no último ano. Mas, sobretudo, o grande aumento das criptomoedas, onde Musk tem grandes investimentos, ocorreu desde que Trump venceu as eleições. A cripto favorita de Musk, a memecoin Dogecoin, valia 0,14 dólares no dia anterior às eleições. Atualmente, está em torno de 0,33 dólares, o que significa que os investimentos de Musk nessa moeda dobraram em apenas dois meses, sem que Trump ainda estivesse na Casa Branca.
Não contente com as interferências nos Estados europeus e com o controle do mercado dos Estados Unidos, o próximo presidente tirou sua artilharia colonialista apoiada pelos tuítes do sul-africano para soltar disparates do nível de "precisamos da Groenlândia para nossa segurança nacional" ou que não descarta usar o exército para retomar o Canal do Panamá. Como se não fosse suficiente, aproveitando a renúncia de Trudeau, Trump também disse que o Canadá poderia ser anexado aos Estados Unidos, provocando a ira do governo canadense. Todos, absolutamente todos esses movimentos, também trariam benefícios para Musk.
Como explicou a jornalista Whitney Webb, especialista nos oligarcas do Vale do Silício, as intenções com a Groenlândia e, em parte, com o Canadá têm muito a ver com os "vastos depósitos minerais, em particular os necessários para a 'transformação energética' e a 'revolução dos veículos elétricos', que estão diretamente vinculados aos interesses comerciais de Musk, assim como de outras figuras proeminentes das grandes tecnologias". Segundo a jornalista, "a transformação digital que esses oligarcas do Vale do Silício pretendem realizar exigiria todos os depósitos conhecidos de lítio, níquel, cobalto e outros minerais do planeta". A Groenlândia e o norte do Canadá estão repletos desses materiais tão necessários para que a empresa de Musk e outras grandes tecnológicas continuem competindo com a China e ganhando bilhões.
Quanto ao Canal do Panamá, a retórica do "inimigo chinês" é a desculpa perfeita para se apoderar de uma das principais vias de comércio mundial. É verdade, claro, que as empresas chinesas utilizam o Canal do país centro-americano como uma de suas principais rotas comerciais para acessar os mercados ocidentais, mas isso não impede que as empresas americanas também o utilizem.
O problema volta a ser a mudança nas dinâmicas da globalização: antes, as empresas ocidentais se beneficiavam muito com os cargueiros vindos da China, trazendo produtos fabricados lá sob logotipos ou montados como se fossem americanos ou europeus. Mas agora, a China e suas empresas se tornaram uma ameaça para a hegemonia econômica e empresarial ocidental liderada pelas multinacionais dos Estados Unidos. Da mesma forma que as tarifas, tomar o Canal do Panamá é uma forma de guerra comercial. Nesse caso, o incendiário Trump é capaz de ameaçar com uma guerra real para tomar o Canal do Panamá e proteger as empresas dos Estados Unidos das chinesas. Ou seja, Trump seria capaz de invadir o Panamá para proteger a Tesla das empresas chinesas de carros elétricos.
Em resumo, a riqueza de Musk aumentou cerca de 200 bilhões de dólares desde que Trump venceu as eleições. Estima-se que o sul-africano tenha financiado a campanha do próximo presidente com cerca de 250 milhões de dólares. Mesmo se incluirmos na soma os 44 bilhões que ele investiu no Twitter, os benefícios que Musk obteve ao apoiar a extrema-direita dos Estados Unidos e liberar o ódio e a polarização na rede social foram muito maiores. Um retorno que explica perfeitamente o papel de desestabilizador global que ele assumiu nos últimos meses e de apoio aos partidos de extrema-direita na Europa ou no Reino Unido. Ele apoia esses partidos porque é extremamente lucrativo para ele.
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Elon Musk S.A.: é assim que ele ganha dinheiro apoiando a extrema-direita. Artigo de Yago Álvarez Barba - Instituto Humanitas Unisinos - IHU