17 Dezembro 2024
O ano foi marcado por recordes de calor e dificuldades nas negociações sobre clima e meio ambiente, mas é possível virar essa chave em 2025.
O comentário é de Alexandre Gaspari, jornalista, publicado por ClimaInfo, 17-12-2024.
Não dá para tapar o sol [cada vez mais escaldante, com o perdão do trocadilho] com a peneira. O ano de 2024 não deixará saudades quanto a boas notícias para o clima e o meio ambiente. Mas dá para ver o copo meio cheio, já que teremos mais oportunidades para reverter esse cenário em 2025.
Sim, estamos vivendo o ano mais quente desde a Revolução Industrial, com o aumento da temperatura superando o limite de 1,5ºC estabelecido no Acordo de Paris. Os níveis de emissões de gases de efeito estufa continuam batendo recordes. E as conferências e negociações da ONU sobre clima, biodiversidade, desertificação e poluição por plásticos fracassaram, não conseguiram estabelecer compromissos para solucionar os problemas que são urgentes.
No Brasil, se vimos menos desmatamento, sofremos com as chamas: Amazônia, Cerrado e Pantanal foram incendiados como há tempos não se via, com os criminosos se aproveitando de uma seca histórica no país. O Congresso conseguiu a proeza de incluir benefícios a carvão e gás fóssil em um projeto de lei para regular uma fonte renovável, a energia eólica offshore. E a Petrobras, em seu novo plano de negócios 2025-2029, ressaltou que “cada gota de petróleo importa”, mostrando sua disposição para explorar mais combustíveis fósseis, enquanto reduziu sua projeção de investimentos em eólica e solar.
Deu vontade de sair correndo? Se for para Belém, na COP30, pode ir! Porque a conferência do clima que o Brasil sediará no próximo ano pode marcar a virada de chave que o planeta precisa fazer para que nós consigamos sobreviver. O desafio é grande: além das metas climáticas dos países, a conferência brasileira terá de aparar as arestas sobre financiamento que a COP29 não resolveu. Mas é possível. Acreditemos na diplomacia.
Uma prova de que o Brasil pode ser um “artilheiro” nesse jogo é o G20, presidido pela primeira vez neste ano pelo país. De forma inédita, o governo brasileiro incluiu com sucesso as demandas sociais nas discussões do grupo das 20 maiores economias do mundo. Conseguiu também criar uma aliança global contra a fome e a pobreza. Sem falar na taxação dos bilionários, incluída no documento final da Cúpula de Líderes no Rio de Janeiro – ainda que timidamente, e sem reforçar que parte desses recursos seja aplicada na agenda climática. Mas já é um começo.
O ano de 2025 também traz novos comandos nas cidades brasileiras. Prefeitos e vereadores, reeleitos ou novos, tomam posse no início do ano, e parte deles já mostra em seus planos de governo compromissos com medidas de adaptação e mitigação. Bem poucos colocaram a questão climática como preocupação, é verdade. Mas com a população cada vez mais ciente de que eventos extremos são causados pelas mudanças climáticas e estão cada vez mais intensos e frequentes, a cobrança será maior. E eles terão de se movimentar.
É verdade também que um certo “tom alaranjado” vai tomar conta de uma grande economia do mundo no próximo ano, trazendo negacionismo climático e descaso com o meio ambiente. Mas, como se trata de “figurinha repetida”, antídotos contra esse mal já estão guardados e deverão ser usados no momento certo. Lula, no Brasil, Xi Jinping, na China, e Keir Starmer, no Reino Unido, já deram sinais disso. A conferir.
Utopia? Sim, vivemos dela. E nela. Sem acreditar na utopia e na possibilidade de mudança, cientistas, organizações da sociedade civil, grupos minorizados já teriam desistido faz tempo. E mesmo com todos os revezes que vivemos, estaríamos em condição bem pior. Se é que estaríamos aqui.
Não temos tarefas fáceis pela frente. Mas torçamos para que sejam possíveis. Que venha 2025!
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