11 Dezembro 2024
Além dos desafios logísticos para a COP30, Belém também precisará confrontar as deficiências de infraestrutura básica que prejudicam sua população, especialmente os mais pobres e vulneráveis.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 11-12-2024.
A cidade de Belém vive um frenesi de obras públicas e ações governamentais que visam prepará-la para receber a próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), daqui a pouco mais de 11 meses. Para a população, a esperança é de que o evento seja uma oportunidade para o município resolver problemas crônicos que afetam o dia-a-dia das pessoas, especialmente nas comunidades mais pobres.
O Estadão visitou duas comunidades que refletem esses desafios estruturais de Belém. No igarapé Piraíba, afluente do rio Maguari, os ribeirinhos deixaram suas casas por conta da poluição da água, originária de dezenas de indústrias instaladas no distrito de Icoaraci. O caso se arrasta há quase duas décadas e, até agora, nenhuma empresa foi condenada.
A falta de saneamento básico e o desrespeito dessas indústrias à legislação para tratamento de dejetos estão expulsando as pessoas da região. “Foi todo mundo indo embora por isso. Antes tinha muitas pessoas. Na beira do rio, tudo era lugar de casa que o pessoal abandonou”, lamentou João Pinheiro, de 81 anos, morador da Comunidade Amapi. “Está virando uma vila fantasma”.
Já na Ilha do Combu, palco do encontro entre os presidentes Lula e Emmanuel Macron, da França, em março passado, a falta de saneamento também é um problema. O cenário idílico mascara a falta de um sistema de água potável e esgoto, um problema que tende a piorar com o aumento do turismo na região.
“Quero que façam as coisas para a vida da gente, não para a COP30. Não adianta fazer coisas só para gringo ver. Depois eles vão embora e o que fica para a gente?”, afirmou Dona Nena, fundadora da fábrica de chocolate “Filha do Combu”, um dos empreendimentos locais mais bem-sucedidos.
Cerca de 480 famílias vivem atualmente na Ilha do Combu, uma Área de Proteção Ambiental (APA) criada em 1997, mas que até hoje não possui um plano de manejo, que define as zonas da ilha e as regras de ocupação para cada uma.
Não à toa, o saneamento básico é um dos pontos destacados pelos governos federal e paraense como parte do “legado” da COP30 para a cidade de Belém. Mesmo com as obras anunciadas, ainda persistem dúvidas quanto ao que será efetivamente concluído – não apenas a tempo da Conferência do Clima, mas também depois dela, quando os holofotes globais deixarem a capital paraense.
Ainda sobre a infraestrutura para a COP30, o governo do Pará realizou nesta 3ª feira (10/12) um workshop com a plataforma Booking para cadastrar imóveis que poderão ser alugados por participantes da Conferência no ano que vem. Já O Globo destacou o crescimento de 54% no cadastro de habitações para locação na plataforma Airbnb em Belém.
A Folha destacou um “pepino cibernético” que o governo federal terá que resolver para a COP30. Segundo a reportagem, os possíveis endereços de website para a conferência já estão registrados no nome de empresas que não estão relacionadas ao evento. Por exemplo, o endereço “cop30.com” tem um registro de 2017 no nome da empresa Domains By Proxy. Já “cop30.org” pertence à PVBLIC Foundation desde 2021.
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Sede da COP30, Belém tem comunidades que sofrem com poluição e falta de água potável - Instituto Humanitas Unisinos - IHU