19 Novembro 2024
No último domingo, um dia antes de participar do G20, Joe Biden se tornou o primeiro presidente dos Estados Unidos a visitar a Amazônia. Após se reunir com representantes dos povos indígenas e sobrevoar a Amazônia no helicóptero presidencial, Biden fez um discurso ambiental histórico na cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas: “Tenho orgulho de estar aqui. O primeiro presidente em exercício dos Estados Unidos a visitar a floresta tropical, comprometido em salvá-las.”
A reportagem é de Bernardo Gutiérrez, publicado por El Diario, 18-11-2024.
Joe Biden lançou um pacote incomparável de doações destinadas a conter as mudanças climáticas de diferentes órgãos públicos e agências governamentais. Especialmente volumosas serão as doações da Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (DFC, 3,71 mil milhões de dólares) e do Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos (Exim, 1,6 mil milhões de dólares).
A USAID, a agência de cooperação internacional dos Estados Unidos, financiará numerosos projetos de conservação ambiental e prevenção de incêndios, entre outras coisas. Além disso, Biden anunciou financiamento direto para o reflorestamento (180 milhões), comunidades indígenas, pesquisa científica e bioeconomia. A contribuição dos Estados Unidos para o Fundo Amazônia Brasileira também aumentou em cinquenta milhões de dólares (completando um total de cem), historicamente financiado pela Noruega e pela Alemanha.
Antes da visita de Biden, a Casa Branca emitiu um comunicado informando que o Governo dos Estados Unidos cumpriu a sua promessa de fornecer 11 mil milhões de dólares para financiar iniciativas contra as alterações climáticas. Biden completou a sua estratégia com um gesto simbólico: a declaração de 17 de novembro como Dia Internacional da Conservação.
Embora a doação do Fundo Amazônia possa ser revogada pelo Congresso dos EUA, a diversificação legal das doações e investimentos garante a sua execução, mesmo que Donald Trump queira revogá-las durante o seu mandato.
A visita estratégica de Joe Biden à Amazônia é uma lufada de ar fresco para Lula, presidente do Brasil e anfitrião da cúpula do G20. Lula pretende consolidar medidas concretas contra as mudanças climáticas durante a cúpula do Rio de Janeiro. Confrontados com a perspectiva de um futuro governo Trump crítico da luta contra a desinformação, desconfiado do multilateralismo e cético em relação às alterações climáticas, o conjunto Biden e Lula estão implementando uma estratégia abrangente planejada para envolver o resto do mundo. Uma das grandes apostas de Lula é o lançamento de um fundo para combater a desinformação climática, em colaboração com a ONU e a UNESCO. Antecipado pela Folha de São Paulo, o fundo direcionará recursos para investigações de desinformação, campanhas de denúncia de fake news e ações diplomáticas. A proposta já conta com o apoio do Reino Unido, França, Chile, Marrocos, Portugal e Suécia.
A iniciativa brasileira, que servirá para preparar o caminho para a COP30 em Belém em 2025, esbarra frontalmente com Donald Trump. “Precisamos destruir a indústria tóxica da censura que surgiu disfarçada de luta contra a informação”, disse Trump num vídeo na rede social X há poucos dias. Trump já anunciou que vai cortar o financiamento de projetos de combate à desinformação e até bloquear recursos para universidades que façam investigação sobre o assunto.
A cúpula dos presidentes do G20, realizada no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, começou na manhã de segunda-feira com o tão aguardado primeiro encontro entre Lula e Javier Milei, presidente da Argentina. A recepção fria de Lula a Milei, apenas um aperto de mão, contrastou com a proximidade com que cumprimentou Joe Biden ou Gustavo Petro, presidente da Colômbia. Antes da sessão inaugural do G20, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff foi vista sussurrando no ouvido de Lula. A presença privilegiada de Dilma Rousseff, atual presidente dos bancos do BRICS, foi também uma mensagem para a Argentina, que recentemente se recusou a ingressar no referido bloco político.
Lula inaugurou a cúpula dos presidentes apresentando a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Num breve discurso, o presidente brasileiro afirmou que a fome, “num mundo que produz quase seis mil milhões de toneladas de alimentos por ano”, é inaceitável. “A fome e a pobreza não são o resultado da escassez ou de fenômenos naturais. A fome é a expressão biológica dos males sociais. É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade”, disse o presidente brasileiro.
Lula informou que a Aliança contra a Fome e a Pobreza já conta com a adesão de 81 países, da União Europeia e da União Africana, 26 organizações internacionais, nove instituições financeiras e 31 fundações filantrópicas e organizações não governamentais. A Espanha, convidada permanente do grupo, é um dos membros fundadores. Depois de inicialmente recusar aderir à iniciativa de Lula, a Argentina aderiu, aumentando o número de países fundadores para 82.
O governo brasileiro defende que os compromissos anunciados criarão transferência de renda para quinhentos milhões de pessoas, programas de alimentação escolar para 150 milhões de crianças e projetos de saúde para 200 milhões de mulheres e crianças. Embora os compromissos da Aliança impliquem que os países signatários desenvolvam políticas a nível nacional, serão também criados mecanismos para a implementação de políticas públicas nos países em desenvolvimento.
Quando Lula anunciou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza no final de 2023, foi recebido com certa desconfiança. Alguns países demonstraram resistência à ideia, alegando que já existiam outros mecanismos de combate à fome. Só na ONU existem dois mecanismos nesse sentido: a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) e o PAM (Programa Alimentar Mundial). Por outro lado, em 2012, o G8 criou a Nova Iniciativa para a Segurança Alimentar e Nutricional, embora tenha falhado miseravelmente. Em 2017, a fome afetou 541 milhões de pessoas no mundo, segundo a FAO. O número subiu para 733 milhões em 2024. “A Aliança dá prioridade à luta contra a fome e a pobreza na agenda internacional. É a possibilidade de cooperar num mundo que já não coopera. Um suspiro desse multilateralismo que está se afogando”, defende Laura Waisbich, diretora da Articulação Sul, ex-diretora do Centro de Estudos Brasileiros de Oxford.
A expectativa do Brasil é que, no médio prazo, o número final de países signatários da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza se aproxime de cem.
A adesão da Argentina dá uma trégua à delegação brasileira, que já havia veiculado na imprensa o veto de Javier Milei a vários pontos da declaração final do G20.
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Biden e Lula buscam proteger a proteção ambiental diante da chegada de Trump enquanto Milei arrasta os pés na luta contra a fome - Instituto Humanitas Unisinos - IHU