02 Novembro 2024
A informação é de Aníbal Pastor N., jornalista chileno, Publicada por Religión Digital, 31-10-2024.
Os bispos da Comissão Permanente da Conferência Episcopal Chilena concretizaram a audiência privada que haviam solicitado com o Papa Francisco em 31 de outubro. Foram para informar sobre tudo o que fizeram em matéria de prevenção de abusos sexuais, conforme anteciparam em comunicado prévio, algo que alguns entenderam como um possível marco para virar a página neste tema. Nada disso ocorreu.
Porque os bispos ainda estavam sobrevoando o Atlântico quando receberam notícias sobre o relatório da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, que gerava suas próprias turbulências. Ao aterrissar, um balde de água fria adicional os esperava: o relatório de Schoenstatt intitulado "Purificação da Memória 1965-2024", que documenta quase seis décadas de abusos e expõe a responsabilidade dessa instituição em 28 casos de vítimas de agressão sexual, incluindo um arcebispo de sua carisma.
Quando cruzaram a Praça São Pedro e entraram no Palácio para a audiência privada com o Papa, os bispos chilenos foram recebidos por apenas 45 minutos, equivalente ao tempo de um jogo de futebol.
A audiência contou com a presença, em suas sotanas pretas protocolares, do arcebispo de La Serena, D. René Rebolledo, presidente da Comissão Permanente; do arcebispo de Antofagasta, D. Ignacio Ducasse, vice-presidente; do arcebispo de Santiago, D. Fernando Chomali; do bispo de San Bernardo, D. Juan Ignacio González; e do arcebispo de Concepción, D. Sergio Pérez de Arce, atual secretário-geral do Episcopado, único que não era bispo quando todos os prelados do Chile viajaram a Roma para apresentar sua renúncia, em 2018.
Naturalmente, na conversa a situação do país foi um ponto a ser abordado. Sempre se fala disso. Mas, no contexto eclesial e histórico, o principal era a crise dos abusos. De fato, nem visitas ad limina ocorreram. A última foi em 2017 e a diretiva episcopal se reuniu com o Papa Francisco em 2019.
A esse respeito, o presidente do Episcopado, d. René Rebolledo, declarou que se sentiram "muito ouvidos e foram incentivados a seguir em frente no caminho percorrido". E explicou: "Estamos nos preparando para retornar ao país, tendo experimentado um evento extraordinário de comunhão com o Papa e os organismos da Santa Sé, de quem recebemos orientações valiosas para nosso ministério episcopal. Sem dúvida, a crise dos abusos esteve presente em todas as instâncias, reconhecendo os avanços realizados, graças ao compromisso de muitas pessoas, entre outras, as que servem no Conselho Nacional de Prevenção. Continuaremos atentos aos desafios que surgirem nesses delicados temas”.
O portal igreja.cl informa que dom Sergio Pérez de Arce afirmou que conversaram com o Papa sobre o que aconteceu nesses anos "depois da crise eclesial que se manifestou com força em 2018: o processo de discernimento eclesial e como temos revisado o âmbito de nossas relações dentro da Igreja e a busca de estruturas mais sinodais para enfrentar a crise. Esses encontros têm, acima de tudo, um caráter simbólico, de expressar a comunhão com o Papa, mas também de dar conta, de compartilhar o que vivemos”.
Além disso, o secretário-geral do Episcopado explicou que conversaram sobre a situação do país e a prevenção de abusos, entre outros temas: “Fizemos um caminho na prevenção de abusos e é bom que isso seja conhecido. Por outro lado, temos uma missão no Chile de hoje, com suas particularidades culturais, sociais e políticas, e compartilhamos com o Papa como estamos abordando os desafios dessa missão, pois queremos ser uma Igreja presente no meio dessa realidade, que contribui com sua voz, sua visão”.
Essa reunião teve como pano de fundo dois relatórios relevantes.
Por um lado, o próprio relatório de Schoenstatt que aborda as feridas profundas que os abusos deixaram nas vítimas. "As agressões sexuais contra crianças e adolescentes geram um trauma de caráter psicológico, neuronal e cognitivo", lê-se no documento. Esse reconhecimento marca um marco, pois aborda a responsabilidade institucional e não apenas individual nesses crimes.
E, em segundo lugar, o recente Relatório da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, que algumas versões da imprensa afirmam que, nos últimos anos, a Igreja chilena enfrentou uma grave crise e que, por isso, encarregou-se de "desenvolver um plano estratégico atualizado em 2024" para toda a Igreja desse país. Isso, de fato, não é tão certo.
Depois de revisar o documento da Pontifícia Comissão, intitulado Tutela Minorium, podemos afirmar com precisão que o que o relatório menciona é uma referência à Caritas Chile, em um capítulo sobre os organismos eclesiais atuantes na sociedade, e a partir daí a versão que circula extrapola como se o relatório incorporasse a situação chilena.
Além disso, na seção I, que é a mais longa, pode-se revisar todas as igrejas locais estudadas, e nelas não está o Chile, porque são igrejas que em 2023 realizaram visitas ad limina e de outro tipo.
Depois, na seção IV do referido relatório, está o que se refere à Caritas, onde na parte que trata dos desafios, indica: "A Comissão observa que, nos últimos anos, a Igreja chilena enfrentou uma grave crise em relação a numerosos casos de abuso sexual, abuso de consciência e abuso de poder cometidos dentro da Igreja, especialmente por pessoas consagradas. Essa crise repercutiu na Caritas Chile, na Igreja no Chile e na sociedade chilena".
Por isso, acrescenta: "A Comissão observa os desafios atuais para acompanhar os esforços das equipes de salvaguarda das Caritas diocesanas. Essas equipes devem desenvolver sistemas de salvaguarda que respondam aos padrões mínimos estabelecidos pela Caritas Internationalis, pelo Direito Canônico e pelas diretrizes de salvaguarda aplicáveis". Mas nunca fala em "plano de desenvolvimento estratégico".
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Abusos sexuais da Igreja chilena são abordados pelo Papa Francisco com a Comissão Permanente do Episcopado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU