08 Outubro 2024
Proposta foi alinhada durante encontro do G20 sobre energia em Foz do Iguaçu (PR); ambientalistas criticam vulgarização do termo “transição energética” pela indústria fóssil.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 08-10-2024.
Os próximos anfitriões das COP29 e COP30, Azerbaijão e Brasil, devem propor a criação de um fundo internacional de financiamento para transição energética a partir de recursos da exploração de combustíveis fósseis. A medida foi alinhada durante a reunião do G20 sobre energia, realizada na semana passada em Foz do Iguaçu (PR).
A ideia deve ser apresentada no mês que vem durante a COP29 de Baku, no Azerbaijão. Segundo o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia), que representou o Brasil no encontro do G20, o uso dos recursos do petróleo em prol de uma transição energética justa e inclusiva é “quase uma unanimidade internacional”.
Esse argumento vem sendo bastante utilizado por Silveira como uma justificativa para brecar o fim da exploração e da queima de combustíveis fósseis. “Estamos numa transição. Qualquer coisa que aponte para a palavra fim numa transição não me parece de bom tom”, disse o ministro à Folha.
Não à toa, a indústria fóssil vem abraçando essa distorção do termo “transição energética”. Como a Folha também destacou, esse argumento foi bastante utilizado por executivos do Big Oil durante o evento da OPEP realizado em setembro passado no Rio de Janeiro. Para eles, os combustíveis fósseis são “parte da solução” para evitar desequilíbrios no processo de descarbonização da economia.
Mas essa argumentação é uma falácia. A ciência vem reiterando a necessidade de acabar o quanto antes com o consumo de combustíveis fósseis para evitar mudanças climáticas ainda mais desastrosas. Ao mesmo tempo, avanços recentes no desenvolvimento e na utilização de fontes renováveis de energia indicam que a utilidade econômica da energia fóssil está chegando ao fim.
Ou seja, apostar na causa da crise climática como caminho para escapar dela não é apenas estúpido do ponto de vista do clima, mas um mau investimento pela perspectiva econômica. Afinal, se a perspectiva é de uma redução na demanda por energia fóssil nas próximas décadas, o retorno sobre investimentos ficará cada vez mais reduzido, o que aumenta o risco de empresas e países ficarem com ativos encalhados.
“Os combustíveis fósseis estão na razão de grande parte dos problemas climáticos. Mais de 70% das emissões vêm dos fósseis. Eles [indústria] estão dizendo: ‘sou a solução para resolver um problema que eu mesmo estou intensificando’. Não tem lógica”, afirmou Suely Araújo, ex-presidente do IBAMA e coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima.
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Brasil e Azerbaijão querem fundo para transição energética com recursos do petróleo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU