05 Outubro 2024
A segunda sessão do Sínodo dedicada ao tema da sinodalidade deverá oferecer a sua contribuição para que se realize uma Igreja realmente “em missão”, e também “misericordiosa”, que “saiba sair de si mesma e habitar as periferias geográficas e existenciais, cuidando de estabelecer vínculos com todos em Cristo, nosso Irmão e Senhor”. Isso foi reiterado pelo Papa Francisco ao abrir os trabalhos da primeira Congregação Geral da assembleia com um discurso no qual explica - também em resposta às objeções (“tempestade de fofocas”) que surgiram - as reflexões que o levaram a permitir que sacerdotes e religiosas, leigos e leigas participassem da assembleia, com direito a voto.
A reportagem é de Gianni Cardinale, publicado por Avvenire, 03-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os trabalhos sinodais, como no ano passado, estão sendo realizados na Sala Paulo VI, que foi adequadamente reformada com a instalação de grandes mesas circulares que receberão os padres e madres sinodais. Após a oração de abertura, o Papa Francisco fez um longo discurso introdutório no qual enfatizou a centralidade do papel do Espírito Santo na dinâmica sinodal. “O fato de estarmos aqui reunidos - bispo de Roma, bispos representantes do episcopado mundial, leigos e leigas, consagrados e consagradas, diáconos e presbíteros testemunhas do caminho sinodal, juntamente com os delegados fraternos - é um sinal da disponibilidade da Igreja para a escuta da voz do Espírito Santo”, explicou Francisco.
De fato, “é o Espírito Santo que torna a Igreja perpetuamente fiel ao mandato do Senhor Jesus Cristo e perpetuamente à escuta de sua palavra”. É o Espírito Santo que está guiando “os discípulos para toda a verdade”, como lemos no Evangelho de João. E é o Espírito Santo que está guiando os participantes da Assembleia “para dar uma resposta, após três anos de caminho, à pergunta ‘como ser uma Igreja sinodal missionária’. Eu acrescentaria misericordiosa”.
Para Francisco, o processo sinodal é também um processo de aprendizado, no decorrer do qual a Igreja aprende a conhecer melhor a si mesma e a identificar as formas de ação pastoral mais adequadas à sua missão. E esse processo de aprendizado também envolve as formas de exercício do ministério dos pastores, especialmente dos bispos. Assim, Francisco especifica que a decisão de convocar como membros plenos desta XVI Assembleia também “um número significativo” de não bispos, foi tomada “em coerência com a compreensão do exercício do ministério episcopal expressa pelo Concílio Ecumênico Vaticano II”, no sentido de que “o bispo, princípio e fundamento visível da unidade da Igreja particular, não pode viver o seu serviço senão no Povo de Deus, com o Povo de Deus, precedendo, estando no meio e seguindo a porção do Povo de Deus que lhe foi confiada”.
Essa “compreensão inclusiva do ministério episcopal” requer, entretanto, enfatiza o Papa, “ser manifestada e tornada reconhecível, evitando dois perigos”. De um lado, “a abstração que esquece a concretude fértil dos lugares e das relações, e o valor de cada pessoa”. De outro, o perigo “de romper a comunhão contrapondo hierarquia a fiéis leigos”. “Certamente não se trata”, adverte Francisco, ”de substituir uma pelos outros, animados pelo grito: agora é a nossa vez! Não, isso não serve!”. O que é necessário, em vez disso, é praticar “juntos em uma arte sinfônica, em uma composição que une todos no serviço da misericórdia de Deus, de acordo com os diferentes ministérios e carismas que o bispo tem a tarefa de reconhecer e promover”. Em suma, a composição desta XVI Assembleia expressa “uma modalidade de exercício do ministério episcopal coerente com a Tradição viva da Igreja e com o ensinamento do Concílio Vaticano II”.
Francisco faz questão de ressaltar que a presença de membros que não são bispos “não diminui a dimensão ‘episcopal’ da Assembleia”. E, de improviso, acrescenta: “E digo isso por causa de uma certa tempestade de fofocas que cruzaram de um lado a outro”. Para o Papa, a presença de não-bispos não coloca “algum limite ou derrogação na autoridade própria de cada bispo e do Colégio episcopal”. Em vez disso, ela “sinaliza a forma que o exercício da autoridade episcopal é chamado a assumir em uma Igreja ciente de ser constitutivamente relacional e, por isso, sinodal”. No entanto, “terão que ser identificadas em tempos adequados, diferentes formas de exercício ‘colegial’ e ‘sinodal’ do ministério episcopal (nas Igrejas particulares, nos agrupamentos de Igrejas, na Igreja como um todo), sempre respeitando o depósito da fé e a Tradição viva, sempre respondendo ao que o Espírito pede às Igrejas neste tempo específico e nos diferentes contextos em que elas vivem”.
Durante a primeira Congregação também falaram os Cardeais Carlos Aguiar Retes, presidente delegado, Mario Grech, secretário geral, e Jean-Claude Hollerich, relator geral.
Grech também evocou as guerras que estão sendo travadas em tantas partes do mundo, convidando-nos a nos unirmos “às irmãs e aos irmãos presentes no salão que vêm de zonas de guerra ou de nações onde as liberdades fundamentais dos povos estão sendo violadas”. Hollerich, por sua vez, enfatizou que esta segunda sessão do Sínodo “não é uma repetição nem mesmo uma mera continuação da primeira, com relação à qual somos chamados a dar um passo adiante”. De fato, “é isso que o Povo de Deus espera desta Assembleia Sinodal”. Com um apelo “para não desviar da prioridade que nós mesmos aprovaremos”.
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“A nossa casa? Nas periferias da vida”. O Papa: a Igreja na escola do Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU