11 Setembro 2024
Em 9 de setembro, o Papa Francisco chegou à pequena ilha de Timor Leste, onde fez uma ampla condenação aos abusos, mas evitou abordar especificamente o histórico complicado da Igreja em relação ao abuso sexual por parte do clero em uma nação que é o país mais católico do mundo, fora do Vaticano.
A reportagem é de Christopher White, publicada por National Catholic Reporter, 09-09-2024.
"Não nos esqueçamos também de que... crianças e adolescentes têm sua dignidade violada", disse o papa em uma reunião com autoridades governamentais poucas horas após sua chegada. "Em resposta, todos somos chamados a fazer tudo o possível para prevenir todo tipo de abuso e garantir uma infância saudável e pacífica para todos os jovens".
Aqui, na ex-colônia portuguesa, o catolicismo continua sendo uma força vibrante na ilha — como ficou evidente pelos dezenas de milhares de pessoas que tomaram as ruas da capital para dar ao papa uma acolhida entusiástica de herói.
A visita do pontífice de 9 a 11 de setembro, durante sua viagem de duas semanas pela Ásia e Oceania, tem sido amplamente vista como uma oportunidade para celebrar essa vitalidade e encorajar os esforços de recuperação do país após a sangrenta luta pela independência, mas as revelações de abuso sexual envolvendo alguns dos membros mais ilustres do clero do país pairam sobre esta visita.
Quase 98% da população de Timor Leste se identifica como católica, e seu prelado mais célebre, dom Carlos Ximenes Belo, foi uma figura importante no movimento de independência, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz em 1996.
Belo se aposentou por supostos motivos de saúde em 2002, mas uma chocante reportagem de um jornal holandês em 2022 revelou seu longo histórico de abuso sexual de meninos adolescentes. O Vaticano posteriormente confirmou que havia sancionado secretamente o bispo e que ele foi enviado para viver em Portugal sob restrições de viagem.
Mas, aqui nesta ilha onde os padres católicos são intensamente reverenciados — e a Igreja está profundamente entrelaçada nas relações com o governo — a maioria dos católicos timorenses se recusa a acreditar nas acusações contra seu ex-bispo e não está disposta a confrontar as realidades mais amplas dos abusos do clero.
Em uma entrevista no início deste mês à Associated Press, o presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta — um aliado próximo de Belo, com quem dividiu o Prêmio Nobel da Paz — insistiu que a visita do papa não é o momento para confrontar o histórico da Igreja em relação aos abusos no país.
Os timorenses, disse ele, "continuam a respeitar profundamente dom Carlos Belo por sua coragem, sua contribuição à luta deles. Ele abrigou pessoas, salvou pessoas e as pessoas não esquecem isso... ou o condenam, o ostracizam".
E em seus primeiros comentários oficiais no país — com o presidente do país sentado ao seu lado — Francisco escolheu não abordar publicamente o tema, nem pediu desculpas, nem tratou especificamente dos abusos no contexto da Igreja.
Em vez disso, o papa exaltou a restauração da independência de Timor Leste em relação à Indonésia, que foi oficialmente declarada em 2002, e elogiou os timorenses por sua perseverança durante os quase 25 anos de luta, nos quais estima-se que cerca de 25% da população tenha sido morta.
"No entanto, o país foi capaz de se reerguer, encontrando um caminho para a paz e o início de uma nova fase de desenvolvimento, de melhoria nas condições de vida e de valorização em todos os níveis do esplendor intocado desta terra e de seus recursos naturais e humanos", disse o papa.
Em seus comentários iniciais, Francisco louvou o país por sua profunda fé, que, segundo ele, motivou muitas de suas tradições e práticas. Em particular, ele elogiou os "esforços assíduos" dos timorenses para se reconciliar com seus vizinhos indonésios e viver em harmonia, o que ele disse ter sido possível graças ao seu compromisso com o Evangelho.
Com 65% da população com menos de 30 anos, Francisco concentrou suas observações principalmente no futuro, incentivando um maior investimento em educação, uma gestão econômica sábia de suas vastas reservas de petróleo e gás e um compromisso contínuo com a paz e a democracia.
"Observando seu passado recente e o que foi alcançado até agora, há motivos para confiar que sua nação será igualmente capaz de enfrentar de maneira inteligente e criativa as dificuldades e os problemas de hoje", disse o papa falando em seu espanhol nativo.
Francisco foi recebido com tremendo entusiasmo desde sua chegada à capital costeira, onde moradores subiram em prédios e lotaram as ruas para ver seu cortejo. Até o primeiro-ministro foi visto varrendo as ruas na segunda-feira para preparar a cidade para o papa. Aos 87 anos, Francisco está realizando a viagem mais longa de seu pontificado e demonstrou notável vigor durante suas paradas anteriores na Indonésia e na Papua-Nova Guiné.
Mas, aqui em Dili, a energia do pontífice está sendo mais do que correspondida pelas multidões de pessoas que devem continuar a se reunir para recebê-lo nos próximos dois dias, culminando com uma missa em 10 de setembro que deve atrair mais de 750 mil participantes — mais da metade da população do país.
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Papa reconhece de forma indireta a crise de abusos durante calorosa recepção em Timor Leste - Instituto Humanitas Unisinos - IHU