04 Setembro 2024
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 03-09-2024.
É uma constante nas últimas viagens apostólicas. Por onde passa, a questão dos abusos sexuais no seio da Igreja Católica surge, e, às vezes, de forma muito significativa, e Francisco reserva um espaço específico para abordá-la, seja em discursos, seja diretamente em encontros privados com as vítimas. Na viagem pela Ásia e Oceania que o Papa acaba de iniciar, esse tema aparece, mas com diferentes ênfases, como se pode observar na Indonésia e em Timor-Leste.
Assim, de Jacarta, onde o Papa já se encontra, ativistas católicas esperam que “esta visita não seja apenas uma celebração, mas uma reflexão sobre o enfrentamento da violência sexual” em um país de maioria muçulmana com 267 milhões de habitantes, onde, com 8 milhões de fiéis, os católicos constituem 3,01% da população, divididos em dez arquidioceses, 38 dioceses e um ordinariato militar.
É isso, pelo menos, que espera Theresia Iswarini, católica e membro da Comissão Nacional de Combate à Violência contra as Mulheres, um organismo oficial que constatou que, apesar das diretrizes implementadas durante o pontificado de Francisco, muitas dioceses não adotaram medidas para lidar com esses crimes, conforme denunciou em um debate promovido por um meio de comunicação católico.
Para Iswarini, esta visita histórica deveria “fortalecer a determinação da Igreja de proteger as mulheres e as crianças. As dioceses devem elaborar e implementar imediatamente protocolos para reforçar a proteção das mulheres e crianças contra a violência sexual”, exigiu a ativista, segundo informações da UcaNews.
A Arquidiocese de Jacarta lançou seu “Protocolo para a proteção de crianças e adultos vulneráveis” em 2022, seguindo as diretrizes publicadas pela Conferência Episcopal da Indonésia (CEI) em 2020. Um ano antes, em 2019, Joseph Kristanto, secretário da entidade, relatou casos de abusos sexuais na Igreja da Indonésia que afetaram 56 vítimas, incluindo 21 seminaristas e noviços, 20 freiras e 15 leigos, perpetrados por 33 sacerdotes e 23 não sacerdotes.
Caso distinto é o de Timor-Leste, a antiga colônia portuguesa que, nos últimos anos, viu um florescimento do cristianismo, mas também como um de seus grandes referentes religiosos, além de político e social, condecorado nada menos que com o Nobel da Paz, D. Carlos Ximenes Belo, foi acusado de abusos sexuais contra menores.
No entanto, a maioria da Igreja em Timor-Leste, assim como na sociedade, não acredita nessas acusações contra quem é considerado um herói nacional por seu papel na independência frente a Portugal, nem nas que recaem sobre um conhecido missionário norte-americano que confessou ter abusado de meninas. Muitos se concentram, em vez disso, em seu papel de salvadores de vidas durante a sangrenta luta do país contra a Indonésia pela independência.
De pouco serviu que, em uma declaração oficial, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, tenha afirmado em 2022 que a Igreja estava ciente do caso de Dom Carlos Belo desde 2019 e que medidas disciplinares foram impostas a ele em 2020, incluindo restrições aos seus movimentos e a proibição de contato com menores, tudo isso, porém, após a revelação do caso por uma publicação holandesa.
Até o momento, não foi revelado se Francisco tem a intenção de se reunir com algumas das vítimas, mas também se estas fizeram alguma solicitação a esse respeito. Enquanto isso, conforme constatado pelas agências de notícias internacionais, na capital Díli, onde chegará no dia 8, um cartaz gigantesco dá as boas-vindas ao Papa logo acima de outro que homenageia os heróis da pátria, entre eles, D. Carlos Belo.
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Por que a Indonésia espera palavras do Papa para as vítimas de abusos e a Igreja de Timor-Leste não quer ouvir falar sobre o assunto? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU