Definitivamente o céu está caindo. Uma névoa nos impede de ver o azul do céu e encobre o sol. Um corredor e fumaça tóxica, que tem origem nas queimadas, se espalha na América do Sul. No Brasil, já matamos mais de 30% das áreas naturais e os interesses privados continuam pressionando os povos indígenas. Aprofundamos o debate sobre a extrema-direita e, no nosso giro pelo mundo, continuamos observando as eleições americanas, a guerra em Gaza e o conflito russo-ucraniano. Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana do IHU.
Confira os destaques na versão em áudio.
Mais de 30% das áreas naturais foram devastadas no território brasileiro, segundo o MapBiomas. A velocidade crescente da devastação é o que mais preocupa: de 1985 para cá, 13% das áreas foram perdidas. Em contraponto, as “áreas mais preservadas estão nas Terras Indígenas, que abrangem 13% do território brasileiro e registraram apenas 1% de vegetação nativa suprimida desde 1985”. Os dados são publicados no mesmo momento em que a ganância do agronegócio faz a maior pressão da história sobre os territórios e os povos indígenas e as queimadas na Amazônia, Pantanal e Cerrado espalham uma nuvem de fumaça tóxica que paira sobre a América do Sul.
Mapeamento anual de cobertura e uso da terra no Brasil de 1985 a 2023 / Fonte: “Projeto MapBiomas - Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra no Brasil" - Coleção 9
Os rios voadores, que carregam as chuvas da Amazônia para distribuir na América do Sul, agora transportam a fumaça tóxica que emana das queimadas dos biomas. Uma temporada recorde na Amazônia, com 63 mil focos de incêndio, que tem entre as principais causas as novas frentes de desmatamento e o avanço das pastagens no sul do Amazonas.
O sol está se despedindo do Brasil, mas os sensores podem revelar o que está oculto.
— Bruno Brezenski (@bbbrezenski) August 19, 2024
FOCOS DE INCÊNDIO.🌳🔥
8 dias seguidos com Mega Bolha de Fumaça, e até agora nenhum SERVIDOR do governo deu explicações para seus patrões.
Os cidadãos.
O estado tem o DEVER de informar. pic.twitter.com/ruRr3pgfd2
Além da pior temporada de queimadas em 17 anos, desmatamento e avanço da agropecuária, há outras frentes de destruição do bioma. A questão da exploração de combustíveis fósseis é tema de uma série de reportagens. Enquanto isso, ainda se discutem a monstruosidade de Belo Monte e a possibilidade de novas hidrelétricas na região. Os grandes projetos de "desenvolvimento" da Amazônia atendem a interesses muito específicos.
Causa e Consequência pic.twitter.com/Gwmvscrrsn
— Diogo Cabral (@Diogotapuio) August 23, 2024
O manifesto divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário e pela Comissão Pastoral da Terra foi enfático: Chega de sangue banhando esse chão! A nota da Campanha Contra a Violência no Campo conclamou cidadãos e cidadãs brasileiros a “uma permanente vigília, na certeza de que o extermínio dos povos originários é também a morte do nosso futuro como Nação”. O mais estarrecedor, é que a onda de violência é estimulada pela desinformação dos políticos. Mas, os indígenas continuam com forte resistência e mais uma vez denunciaram as consequências do Marco Temporal e a AGU acenou para os povos originários.
Sabe uma das táticas funcionais para preservar a floresta e evitar fogo?
— Bruno Brezenski (@bbbrezenski) August 18, 2024
RESERVAS INDÍGENAS
Além de ser direito dos povos originários, todos saem ganhando quando deixamos seus verdadeiros donos cuidar do meio ambiente.
Neste gráfico de 2022 vemos os únicos lugares preservados. pic.twitter.com/IROdis11jr
As previsões do xamã Yanomami, Davi Kopenawa, no livro A queda do céu estariam se cumprindo? A névoa das queimadas encobre mais de 10 estados no Brasil, de Manaus a Porto Alegre, e a fuligem tóxica já causa danos à saúde. O mar Mediterrâneo bateu novo recorde de temperatura e seca na Amazônia e no Pantanal segue impiedosa. E a perspectiva de piora é maior quando observamos que os financistas pouco se importam com o destino dos recursos, o negócio é o lucro.
O céu está caindo! Amazônia tem pior temporada de queimadas em 17 anos, corredor de fumaça se espalha e afeta 10 estados | Meio Ambiente | G1 https://t.co/oyuowEZbhM
— Diogo Cabral (@Diogotapuio) August 21, 2024
A fábula dos créditos de carbono não tem se mostrado efetiva. Pelo contrário, tem enriquecimento de grileiro de terras públicas. Na mesma Amazônia, tem sojeiro condenado ostentando vastas plantações de soja e sendo cortejado por políticos no sul do Pará. Há ainda o caso da seguradora que aprovou seguro rural a cafeicultores que estão na ‘lista suja’ do trabalho escravo e do invasor de terras da reforma agrária. A bolsa também canaliza mais de R$ 560 bilhões ao ogronegócio. E a matéria do ((o))eco investigou as “Finanças Privadas do Agro” e levantou que “R$ 1,036 trilhão estavam pendurados em títulos de investimento de captação privada para injetar dinheiro na agropecuária”. Tudo isso à revelia de compromissos ou contrapartidas ambientais.
“O ‘empreendedorismo político’ desempenhou um papel-chave na construção da onda que levou esses personagens [Milei e Bolsonaro] à Presidência e, evidentemente, alcançou outro nível com a tomada do poder”, cravou Rodrigo Nunes essa semana. E mais, para o pesquisador “a agitação da extrema-direita e o mundo do coaching são muito semelhantes: em ambos os casos, para alimentar o 'otimismo cruel' que sustenta a crença no empreendedorismo, é fundamental que os candidatos a influenciadores saibam interpretar o papel de objetos de admiração”, complementa em artigo.
Marçal tungou realmente votos de Nunes e, pelo Datafolha, virou o 2º colocado enquanto Boulos lidera. Daí a ação da mídia tradicional em denunciar o coach como nunca fizeram e, também, as ações da família Bolsonaro contra o ex-aliado. Vamos em tempo (1/7).https://t.co/U18geStxcs
— Hugo Albuquerque (@hugoalbuquerque) August 22, 2024
“Para sair da comiseração e da angústia do tsunami cinza sem cair na ingenuidade, é preciso considerar que estamos efetivamente diante de uma maré que arrasa nossos fundamentos democráticos e sociais, mas que isso não significa que seja um rolo compressor irresistível”, afirmam Joseph Confavreux e Ellen Salvi. Os autores ainda explicam que foram os “ideólogos, cientistas e especialistas em big data que possibilitaram a ascensão ao poder de líderes ‘disruptivos’, transformando suas aparentes carências em qualidades para aqueles que apoiam suas campanhas e discursos: a inexperiência como prova de que não fazem parte da elite; as notícias falsas como prova de sua liberdade de pensamento; as rupturas geopolíticas como prova de independência, etc.”.
“Dado o fenômeno global da ascensão da extrema-direita, seria ilusório pensar que os ambientes religiosos permanecerão imunes às suas incursões. [...] O populismo de direita contemporâneo requer uma fundamentação teológica quando não utiliza estruturas religiosas numa relação parasitária para fins de propaganda. Mas esta relação só é possível porque a religião também está a emergir como um campo no qual o radicalismo de direita tem ampla penetração”, aponta Victor Gama.
A ONU acaba de soar o alarme do avanço nazista no Brasil. Um novo relatório publicado pela organização mostra o crescimento das células nazistas no país, em especial em Santa Catarina e nos outros estados do sul.
NAZISMO PREOCUPA
— Carlos Minc (@minc_rj) August 18, 2024
Importante e preocupante o relatório da ONU que mostra o crescimento das células nazistas no Brasil, sobretudo em Santa Catarina e nos outros estados do sul. Isso já havia sido detectado pela Polícia Federal, que demonstrou que só no período bolsonarista esses… pic.twitter.com/u0IUzddIVS
O IHU vai discutir o assunto em uma conferência on-line no dia 28 de agosto, às 10h.
Os sinais de que selamos nosso futuro e de que vivemos um novo regime climático estão em todos os cantos do planeta, com eventos climáticos cada vez mais extremos. Na esteira dessa mudança surge a possibilidade de novas pandemias. Não é o caso da varíola dos macacos, que colocou o mundo em estado de alerta, mas uma infinidade de outras doenças para as quais não estamos preparados. A gripe aviária, por exemplo, está a cinco mutações de ser transmitida para os humanos e o nosso sistema agrícola é o ímã que vai trazer as futuras pandemias, indica Elisa Ramirez. O Relatório de 2023 da Lancet Countdown sobre saúde e mudanças climáticas foi enfático: a inação climática está custando vidas e meios de subsistência hoje, e as projeções revelam perigos futuros.
São tempos perigosos, onde visões de mundo contrastantes entram em conflito e as guerras e a crise climática nos colocam em suspenso. Mas uma obra coloca luz nessa encruzilhada. Trata-se de “uma reflexão apaixonada sobre o sentido da vida, uma mensagem para todos aqueles que querem devolver valor às relações humanas, para tentar viver a vida real sem medo”, explica Faustino Teixeira. Quem sabe é hora de buscarmos o bem-estar planetário?
Abitare il nostro tempo, de Julián Carrón, Charles Taylor e Rowan Williams (Foto: Divulgação)
Assim Francesca Albanese, relatora da ONU, definiu a Guerra em Gaza. Com mais de 80% da Faixa destruída, 40 mil mortos e 207 funcionários das ONU assassinados, a cumplicidade de muitos países foi denunciada, com destaque para a indústria de combustíveis fósseis. Enquanto o presidente da Colômbia, Gustavo Preto, assinou decreto proibindo a exportação de carvão para Israel. Isso na mesma semana em que Antony Blinken voltou ao Oriente Médio em busca de uma negociação de cessar-fogo. Mas o problema é que Israel quer manter uma presença militar em Gaza, no cruzamento estratégico de Netzarim, no centro da faixa, e o controle do corredor Filadélfia, uma área ao longo da fronteira com o Egito, não deixando muito animadoras as possibilidades de colocar fim ao conflito. Em Gaza, as pessoas já perderam o amor pela vida.
"Es una vergüenza para el mundo y para los gobiernos que han estado apoyando a Israel, permitiéndole perpetrar estos crímenes de guerra"
— Palestina Hoy (@HoyPalestina) August 18, 2024
El médico y activista político noruego Dr. Mads Gilbert arroja luz sobre la catastrófica situación en Gaza debido al genocidio israelí en… pic.twitter.com/lcSMqptGLo
El presidente colombiano Gustavo Petro firmó el 14 de agosto un decreto que prohíbe las exportaciones de carbón a Israel, con el objetivo de presionar al gobierno del primer ministro Benjamin Netanyahu para que ponga fin al genocidio en Gaza.
— Palestina Hoy (@HoyPalestina) August 18, 2024
La decisión de Gustavo se produce a… pic.twitter.com/W6CkyXunJ4
A abertura de novos fronts de guerra na Europa, com a invasão ucraniana na Rússia, preocupa o Vaticano. A Ucrânia ainda proibiu as atividades da Igreja Ortodoxa subordinada ao Patriarcado de Moscou, que compartilha a ideia de uma guerra santa da Rússia contra o Ocidente. A decisão foi apoiada pelo Patriarca Bartolomeu e por outros líderes religiosos, enquanto a igreja russa criticou. Além disso, Kiev continua a insistir numa “paz justa”. E a ameaça russa e as possíveis reações de Putin ao ataque ucraniano fez até o governo da Dinamarca começar a limpar os abrigos antibombas.
O “mundo russo” está de volta aos holofotes. Vladimir Putin assinou um decreto para conceder exílio aos jovens que amam valores tradicionais e são contra a democracia liberal. Para quem quiser ir, é só chegar! Acenos de uma presidente que tem fortalecido relações e arsenal bélico com a China e a Coreia do Norte.
A disputa eleitoral nos EUA segue acirrada. Na América do Norte, a convenção do Partido Democrata foi marcada pela emoção de Biden, o silêncio sobre a guerra em Gaza, ainda que manifestantes pró-Palestina tenham batido à porta do United Center, e a proposta de unificação de Kamala Harris. Na América Central, a repressão de Daniel Ortega, que segue perseguindo a Igreja Católica, agora fechou 1.500 ONGs e taxou as doações à igreja.
Sebastião Melo é negacionista da crise climática e da falta de manutenção no sistema anticheias de Porto Alegre, o prefeito agora censurou até um grafite. O relatório dos holandeses, não apresentado publicamente na íntegra, falou o que já se sabia, omitiu informações e termos, segundo pesquisadores da UFRGS. Ao menos o STF suspendeu o despejo dos desabrigados que estão ocupando um prédio abandonado.
Grafite removido na Cidade Baixa (Foto: Divulgação | Redes Sociais)
Seguimos matando o futuro. A violência policial matou 6.393 pessoas em todo o país no ano passado. Destas, 71,7% eram crianças, adolescentes ou jovens com até 29 anos, sendo 82% negras.
Ícone controverso, Silvio Santos morreu no último final de semana. Sem tirar e nem pôr, Hugo Albuquerque fez um balanço do “legado do patrão”.
Na próxima semana lembramos a Páscoa de três ícones da Igreja Católica brasileira. Dom Hélder Câmara, dom Luciano Mendes de Almeida e dom José Maria Pires. Segundo o padre Júlio Lancelotti, eles deixaram "o legado do amor aos pobres, da defesa intransigente da vida dos pobres, da vida austera. Os três viveram de maneira austera, para os pobres e com os pobres; são vozes proféticas, testemunhas do Evangelho. São o prefácio do pontificado do Papa Francisco".
Para fazer memória à data, o IHU promove a videoconferência Hélder, Luciano e Zumbi: bispos e profetas de uma Igreja em saída, no dia 26 de agosto, às 10h.