21 Agosto 2024
Fake news acompanham o atual surto de mpox. Uma das alegações falsas mais difundidas associa a "varíola dos macacos" à vacina contra o coronavírus.
A reportagem é de Rayna Breuer, publicada por DW, 20-08-2024.
Um dia depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar novamente alerta máximo por causa do surto recente de mpox na República Democrática do Congo e em países africanos vizinhos – fazendo desta a segunda emergência global sanitária atrelada à doença viral em dois anos –, vieram as notícias da primeira infecção na Europa.
Segundo as autoridades suecas que confirmaram o caso, o contágio ocorreu enquanto a pessoa afetada viajava por uma região da África de circulação da doença.
Depois disso, começaram a surgir nas redes sociais uma série de conteúdos sobre o vírus mpox – e cada vez mais informações falsas.
Alegação: "O que apresentam para nós como varíola dos macacos é, na maioria dos casos, a tal herpes-zóster – um dos efeitos colaterais mais comuns da 'vacina' contra a covid", afirma um usuário da rede social X em post do dia 14 de agosto de 2024. A informação é atribuída ao médico alemão e político Wolfgang Wodarg.
Checagem da DW: Falso.
A postagem cita uma entrevista em vídeo com Wodarg, médico e ex-deputado federal pelo SPD que depois migrou para o partido nanico dieBasis, formado na esteira dos protestos contra as medidas de controle sanitário na época da pandemia de coronavírus. O vídeo foi gravado em 2022 e veiculado pelo AUF1, site austríaco conspiracionista de ultradireita.
A mesma citação é replicada em perfis no X de língua portuguesa e espanhola. A maioria das postagens que a DW localizou eram nesses dois idiomas.
Um estudo da Universidade Loyola Andalusia constatou que a narrativa que apresenta o mpox como efeito colateral de vacinas da covid-19 foi a mais compartilhada dentre todas as informações falsas sobre a doença.
Perguntada sobre se há uma relação entre o atual surto da varíola dos macacos e as vacinas contra a covid-19, a microbiologista e imunologista Kari Moore Debbink da Escola de Saúde Pública John Hopkins Bloomberg afirma: "As vacinas mRNA contra a covid-19 foram usadas mundialmente, enquanto os casos de mpox tipicamente surgem em determinados países da África, com alguns poucos casos fora dessa região. Portanto, não há nenhuma ligação geográfica entre as vacinas de mRNA contra o coronavírus e os casos de mpox".
Professor de doenças infecciosas no Centro Médico da Universidade Vanderbilt em Nashville, nos EUA, William Schaffner explica que os dois vírus são "totalmente diferentes". "Claro que a vacina contra a covid-19 não tem nada a ver com a mpox."
A fake news que viralizou no X também alega que a doença mpox seria, na maioria dos casos, herpes-zóster (também conhecida como cobreiro).
De acordo com um estudo de 2022 publicado no Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, os vírus zóster podem ser reativados por meio de vacinas. Isso também se aplica às diferentes vacinas contra a covid-19, onde os imunizados têm um risco maior de desenvolver herpes-zóster.
No entanto, não há relação entre os vírus mpox e zóster, diz a imunologista Kari Moore Debbink: "Mpox e herpes-zóster pertencem a grupos virais diferentes, então os dois vírus podem ser facilmente diferenciados em testes. Embora ambos possam causar sintomas semelhantes, como erupção cutânea, febre, gânglios linfáticos inchados e mal-estar, há características distintas nas erupções cutâneas causadas por cada um, permitindo a diferenciação com base nos sinais e sintomas."
O mpox é muito menos contagioso que a covid-19. Enquanto o vírus do mpox é transmitido pelo contato físico próximo, pele a pele, ou com materiais contaminados (toalhas, roupa de cama e roupas), o coronavírus é extremamente contagioso e pode ser transmitido por pequenas gotículas no ar ao respirar, falar, espirrar ou tossir – mesmo por pessoas assintomáticas. E enquanto o coronavírus tende a provocar tosse e falta de ar, bem como perda do paladar e do olfato, o sintoma clássico do mpox são as erupções cutâneas.
Schaffner e Debbik se dizem preocupados com a disseminação massiva de desinformação em torno das vacinas. "As informações erradas que estão sendo disseminadas sobre todas as vacinas, mas também contra a covid-19 e agora o Mpox, estão causando grande confusão e desconfiança em relação às autoridades de saúde. Isso torna muito mais difícil para os ministérios da saúde ajudar as pessoas a se manterem saudáveis", diz Schaffner.
Veja o infográfico abaixo para saber como se proteger contra a desinformação relacionada à saúde:
Infográfico sobre desinformação na saúde
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Não há relação entre mpox e vacina contra covid-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU