20 Agosto 2024
Gonzalo Vecina explica sobre a doença, formas de transmissão e como se proteger; no Brasil, ministério negocia vacinas.
A reportagem é de Kaique Santos, publicada por Brasil de Fato, 19-08-2024.
Com a emergência de saúde pública global para a mpox declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na última semana, as preocupações em torno da doença aumentaram em todo o mundo. A medida foi tomada pelo órgão internacional após o surto da doença em países do continente africano.
Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a preocupação é válida, embora seja menor em relação ao que já foi vivenciado no passado, com outro tipo de varíola.
"A mpox é uma doença que preocupa todos nós, porque é muito próxima da varíola. E a varíola foi uma das doenças mais críticas na história da humanidade. A varíola matou muita gente. Esta versão de varíola, a mpox, é muito mais amena, mata muito menos do que a varíola que conhecemos lá atrás", lembra o médico, dizendo que já foi vacinado contra a varíola, mas que pessoas mais jovens, não.
"Esta varíola que está se manifestando agora saiu de controle, está se espalhando por vários países da África. E começamos a ter gente que viaja da África para fora levando a doença, como aconteceu com pelo menos uma pessoa na Suécia", explica. "No primeiro surto da doença por volta de 2023, [quando] nós tivemos, inclusive, aqui no Brasil muitos casos de mpox, incluindo alguns óbitos."
Nesta segunda-feira (19), a OMS divulgou uma lista de recomendações temporárias direcionadas a países que enfrentam o surto de mpox, que já foi chamada de monkeypox, devido à descoberta inicial do vírus em macacos. O documento vale, principalmente, para a República Democrática do Congo, Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda. Mas as recomendações não são restritas a esses países.
Entre elas está melhorar a vigilância da doença, com a expansão do acesso a diagnósticos precisos e acessíveis que sejam capazes de diferenciar as variantes de mpox em circulação. O vírus não é transmitido tão rapidamente, pontua o médico. E a mpox pode ser ainda confundida com outras doenças.
"Não existe a possibilidade desta doença se transformar em uma pandemia como nós vimos no caso da covid, principalmente por causa da forma de disseminação. A covid-19 se disseminava via gotículas de água. Falávamos e emitíamos vírus e as pessoas que respiravam estavam sujeitas a pegar a doença. A mpox não se espalha desta maneira. Ela somente passa de uma pessoa à outra através de um contato físico com as vesículas", diz o especialista.
"A doença tem uma característica muito própria: a explosão de pequenas vesículas cheias de pus. Ela pode ser confundida com sarampo e com varicela [catapora]. Essa é também outra preocupação."
A busca por vacinas contra a mpox, como resposta de emergência a surtos, também está entre as recomendações da OMS divulgadas nesta segunda. As campanhas, segundo o órgão, devem incluir grupos de risco para a infecção. Algumas pessoas nesta condição são parceiros sexuais de quem tem a doença, crianças e profissionais de saúde.
No Brasil, o Ministério da Saúde já negocia a compra de 25 mil doses da vacina que combate o vírus de mpox. A pasta busca adquirir o imunizante com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Dados do ministério apontam que, entre 2022 e 2024, o país registrou 12 mil casos confirmados e 366 prováveis da doença. O número de mortes pela mpox neste período chega a 16, sendo a última em abril de 2023.
"Essa doença não tem tratamento específico, o tratamento dela trata dos sintomas: febre, dor, a infecção secundária que pode ocorrer nas vesículas devido à coceira. E tem a vacina Jynneos, produzida pela Bavarian Nordic na Dinamarca. Agora, esta vacina não é uma vacina para fazer o que nós fizemos, por exemplo, com a covid-19”, ressalta Vecina.
"Porque é uma doença que se espalha exclusivamente pelo contato pessoal e sexual. Então, a recomendação é que a vacina deve ser utilizada quando você identifica um caso. Você vai tentar saber com quem aquela pessoa se relacionou e bloquear [o vírus] vacinando essas pessoas, tentando impedir que a doença se espalhe. Essa é a ideia da utilização da vacina."
A entrevista completa com o médico sanitarista, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta segunda-feira (19) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
Dos cinco casos de mpox registrados no RS, três são em Porto Alegre. No ano passado, foram identificados nove casos da doença no estado.
As informações são publicadas por Matinal, 20-08-2024.
Por falar nisso, uma nova variante do HIV foi detectada no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e na Bahia. O estudo foi feito em colaboração entre a Universidade Federal da Bahia e a Fiocruz.
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“Exige preocupação, mas longe de ser a mesma de uma pandemia”, diz médico sanitarista sobre mpox - Instituto Humanitas Unisinos - IHU