25 Mai 2022
Endêmica em países da África, a varíola dos macacos se espalha silenciosamente por outros continentes – especialmente do Norte global. Surto parece estar ligado a megaeventos na Europa. Sua transmissão é lenta e não houve mortes até agora.
A reportagem é de Gabriela Leite, publicada por Outras Palavras, 24-05-2022.
Um novo surto da varíola dos macacos atinge principalmente países da Europa e América do Norte, despontando com mais frequência e preocupação nas últimas semanas. Ao menos 160 casos estão confirmados. Há indícios de que raves na Espanha e na Bélgica foram focos da doença, que é endêmica em países do centro e oeste da África, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Raramente alcança outras regiões pois sua transmissão é relativamente difícil – se propaga a partir de contato com fluidos corporais ou lesões.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, declarou que trata-se de uma preocupação crescente. Impulsionado por maior disponibilidade de testes, o Reino Unido registra tendência de aceleração das infecções. Portugal, onde há ao menos 37 casos confirmados, foi o primeiro país a mapear o código genético do vírus. A descoberta mostrou como a cepa que chegou à Europa é a mais branda, predominante na África Oriental.
A OMS não encontrou evidências de mutações que poderiam deixar o vírus mais perigoso.
Os sintomas costumam ser leves e duram poucas semanas. Trata-se de uma versão mais branda da varíola, doença que matou de 300 a 500 milhões de pessoas no século XX, mesmo tendo sido considerada erradicada em 1980, após ampla campanha de vacinação. A varíola dos macacos foi encontrada pela primeira vez em 1958, em símios utilizados para experimentos científicos. Ainda hoje é comum sua transmissão de animais para humanos, mas a doença apresenta risco apenas para crianças e pessoas imunossuprimidas. Seus principais sintomas são febre, dores musculares, dor de garganta e o aparecimento de lesões cutâneas, as bolhas na pele que deixam cicatrizes por todo o corpo.
Esse é o maior surto da doença fora de países africanos desde sua descoberta – o que preocupa cientistas entrevistados pela revista Nature. Os pesquisadores afirmam que sua taxa de transmissão é mais lenta do que a da covid e os infectados podem ser muito mais facilmente identificados.
A vacina disponível para a varíola tradicional já oferece boa proteção para a varíola dos macacos – e pode ser aplicada logo após a infecção, como tratamento. Doses da vacina estão sendo oferecidas a profissionais de saúde no Reino Unido e na Espanha. Por ser uma doença rara, não há necessidade de vacinação em massa, afirma à Nature a epidemiologista Andrea McCollum. Basta imunizar quem teve contato próximo com os infectados – mas os países afetados registram uma escassez do fármaco.
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O que já se sabe sobre o surto de varíola dos macacos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU