24 Agosto 2024
"No Brasil, embora haja um sistema pluripartidário – com 29 legendas ativas hoje, mas com o poder político concentrado nas mãos de apenas sete legendas –, a polarização não só permaneceu forte desde 2018, mas ganhou tração para as eleições municipais de 2024", escreve Eduardo Nunes, diretor de conteúdo da Alter, em artigo publicado na newsletter da Alter Comunicação, 23-08-2024.
Você já se viu em um ambiente onde uma determinada opinião predomina entre a maioria, mas você tem um entendimento diferente? E, nesse contexto, você decide não manifestar sua posição, com receio, especialmente, de não ser aceito pelo grupo? Esta é chamada Teoria da Espiral do Silêncio, desenvolvida na década de 70 pela cientista política alemã Elisabeth Noelle-Neumann. Ela sugere que, em ambiente onde uma opinião predominante se impõe, indivíduos com opiniões divergentes tendem a silenciar suas vozes, por medo de isolamento social.
O atual cenário político nos EUA e no Brasil, fortemente marcado pela polarização, me fez lembrar dessa teoria e daqueles que não se identificam com nenhum dos dois lados. Nas eleições americanas, a dualidade entre democratas e republicanos é bem mais evidente. Eleitores moderados ou que discordam da linha dura do partido ao qual estão filiados enfrentam pressões internas para conformar-se ou silenciar-se, temendo represálias ou ostracismo. A ascensão de figuras como Donald Trump, por exemplo, reforçou essa dinâmica, onde divergências internas são frequentemente vistas como deslealdade.
No Brasil, embora haja um sistema pluripartidário – com 29 legendas ativas hoje, mas com o poder político concentrado nas mãos de apenas sete legendas –, a polarização não só permaneceu forte desde 2018, mas ganhou tração para as eleições municipais de 2024. A polarização do debate entre esquerda e direita, tanto em temas centrais, como segurança, saúde, emprego e educação, quanto na pauta de comportamento, cria um ambiente onde opiniões moderadas ficam suprimidas. Eleitores que não se alinham com os extremos sentem-se compelidos a se calar, temendo rejeição em seus círculos sociais ou profissionais. Às vezes, por pura preguiça mesmo!
Esse cenário é muito mais propício para o crescimento de candidatos que têm na polêmica a estratégia principal para conquistar o voto do eleitor, como o empresário e autointitulado ex-coach Pablo Marçal (PRTB) na corrida eleitoral pela prefeitura da cidade mais populosa do Brasil, São Paulo. Isso enfraquece o debate, com o espaço sendo preenchido com pirotecnias políticas, factoides eleitorais e performances de palco.
A Espiral do Silêncio nos ajuda a entender um pouco melhor como a polarização molda o comportamento do eleitor moderado nos dias de hoje. Em tempos de polarização extrema, garantir um espaço para o diálogo e a expressão de opiniões divergentes é essencial para uma democracia saudável. Desta forma, o desafio é romper essa espiral, promovendo uma cultura de respeito à pluralidade de ideias em todos os ambientes de discussão.
O ponto nevrálgico talvez seja o enfrentamento visando à revisão dos algoritmos, tão protegidos pelas plataformas digitais, de modo a incentivar a exposição a uma variedade de perspectivas e reduzir o efeito das bolhas ideológicas. Embora a revisão direta não seja viável, uma ação de advocacy por uma regulamentação que obrigue as plataformas a garantir maior diversidade e equidade no conteúdo exibido pode ser uma estratégia eficaz. Além disso, uma moderação ativa em prol de debates respeitosos, com incentivos a comentários construtivos, pode criar um ambiente mais seguro para expressar opiniões divergentes.
Ao estabelecer espaços de diálogo onde todos os pontos de vista são respeitados e considerados, é possível reduzir o medo de represálias por opiniões não convencionais. Dessa forma, talvez seja possível criar espaços mais inclusivos e democráticos.
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A Espiral do Silêncio nas eleições 2024. Artigo de Eduardo Nunes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU