Barbárie! O massacre dos povos indígenas. Destaques da semana

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

12 Agosto 2024

Nosso radar continua acompanhando a dramática situação dos povos indígenas do país. Em mais uma semana de ataques e omissão do governo, onze indígenas Guarani Kaiowá ficaram feridos. As cenas bárbaras do massacre foram compartilhadas pelos indígenas. Além disso, seguimos de olho na iminente guerra generalizada no Oriente Médio, na crise política na Venezuela, na crise climática e na selvageria contra os migrantes no Reino Unido. Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana do IHU.

Confira os destaques na versão em áudio.

Barbárie

Continuamos repercutindo as agressões e os massacres aos povos indígenas. No último final de semana, com a saída da Força Nacional, a ofensiva ruralista fez dois ataques e feriu 11 indígenas Guarani e Kaiowá da retomada de Douradina (MS). O dia 9 de agosto marca o Dia Internacional dos Povos Indígenas, data que visa a valorizar as tradições indígenas e promove a defesa dos direitos destas populações. Isso na mesma semana em que lembramos o massacre aos indígenas no Rio Abacaxis e que as Organização das Nações Unidas - ONU na América do Sul tratou os recentes ataques às retomadas do povo Guarani e Kaiowá como “mais uma mostra dos riscos que afrontam os povos indígenas no Brasil na defesa de seus direitos às terras e territórios”, defendendo a demarcação de terras. 

 

Imoralidade

Enquanto isso, o trator ruralista, por meio da “conciliação” proposta por Gilmar Mendes avança como um “terceiro tempo” no futebol. A primeira sessão começou com os seguranças do STF impedindo a entrada dos representantes dos indígenas na reunião. Os indígenas estão se mobilizando contra mais esse ataque aos direitos indígenas e à Constituição.

Gabriel Vilardi comentou sobre o que chamou de “imoral negociação”: 

Nesta segunda-feira (5) foi aberta, no Supremo Tribunal Federal, pela determinação do ministro Gilmar Mendes, uma surpreendente mesa de conciliação entre os Povos Indígenas e seus oponentes históricos, as autoritárias agrofamílias latifundiárias, que há séculos perseguem os habitantes originários do Brasil. A inédita e duvidosa iniciativa do relator das ações diretas de inconstitucionalidade (ADINs) que questionam o marco temporal, reestabelecido pela Lei 14.701/23, tem contribuído para a escalada dos ataques aos povos originários. Enquanto força uma discutível transação sobre os direitos fundamentais dos indígenas, a Suprema Corte mantém tais comunidades sob a implacável mira de seus algozes”.

Para discutir os atentados contra os indígenas e a mesa de conciliação sobre o marco temporal, o IHU promoveu a conferência Massacre Guarani Kaiowá e o direito de (r)existir. Violência e omissão do Estado. Assista na íntegra a seguir. 

Mais ataques

Além dos indígenas, os ruralistas também estão mirando na reforma agrária e no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST. O Incra está trabalhando na reintegração de posse de seis lotes de terras ocupados ilegalmente por fazendeiros no Projeto de Assentamento Tapurah/Itanhangá. Em plena luz do dia e mostrando que estão alheios às leis, fazendeiros de soja e pecuaristas se reuniram em praça pública em Itanhangá (MT) para discutir como impedir a retomada da área. Na sequência, homens armados ameaçaram os assentados e os funcionários do Incra.

Selvageria na civilizada Europa

No Reino Unido, após a repercussão de uma fake news, a extrema direita disseminou o ódio e promoveu uma caçada aos migrantes. Os protestos violentos se espalharam pelo país, foram marcados por saques e vandalismo aos abrigos e casas dos migrantes e negros, além de confrontos violentos com a polícia.

 

Caixa de Pandora

No Oriente Médio, "Israel abriu a Caixa de Pandora nessa pós-modernidade ao eliminar sem clemência o chefe do Hamas". Ao fim, parece que Benjamin Netanyahu deseja a guerra total. Bezalel Smotrich, ministro israelense das Finanças, afirmou que “pode ser justo e moral” matar de fome 2 milhões de moradores de Gaza até que os reféns israelenses sejam devolvidos. Além da guerra contra os palestinos, a possibilidade da propagação da guerra na região amplia as tensões. "O assassinato do líder da ala política do Hamas, Ismail Haniyeh, abre novos cenários para a expansão do conflito no Oriente Médio, com Israel sendo conduzido pela estratégia do vale-tudo". O papa Francisco continua a ser a voz dissonante, que continua clamando por paz. 

Venezuela

A disputa internacional na Venezuela deixou o resultado da eleição em suspenso. Um tema espinhoso. Alguns consideram que o governo Maduro é um risco para a esquerdaLuz Mely Reyes e Andrés Caleca colocaram chaves para compreender a disputa. Juan Carlos Monedero expôs 14 pontos sobre a realidade venezuelana. Há ainda a possibilidade de uma saída pela terceira via

Tensão

Daniel Ortega expulsou o embaixador brasileiro, que se ausentou das comemorações da revolução sandinista. O governo brasileiro respondeu na mesma moeda. A igreja está exilada, um reitor seminarista está preso e mais padres foram expulsos. A perseguição na Nicarágua não se restringe à Igreja, mas também acontece com os jornalistas e todos os opositores do regime orteguista.  

Lembrar para não repetir

No dia 6 de agosto, o mundo lembrou os 79 anos do bombardeio em Hiroshima. Infelizmente, o retorno das guerras colocou o mundo em suspenso na iminência de um novo ataque nuclear, pois o "armamento nuclear continua sendo construído, testado e implantado. Acima de tudo, nos últimos anos, está se perdendo a consciência do horror da guerra nuclear, de sua irreversibilidade", destacou Marco Impagliazzo. "Saber e relembrar o crime de Hiroshima, assim como o de Nagasaki, não é apenas história, mas o desejo de uma nova história humana sem a destruição da humanidade", afirmou Enrico Peyretti. Em alusão à data, o Conselho Mundial de Igrejas - CMI promoveu o Dia da Oração Nuclear, chamando todos à oração por um mundo livre de armas nucleares. 

Novos sujeitos de direitos

Em meio à catástrofe climática que assola o mundo e o Brasil que arde em chamas, o reconhecimento da natureza como "sujeito de direito" desencadeia a possibilidade de uma mudança de rota. No Equador, o rio Machángara, um dos mais poluídos do mundo e, na Espanha, o Mar Menor, obtiveram o reconhecimento de personalidade jurídica própria. O clima seco no Pantanal faz com que os incêndios se mantenham em alta, na Amazônia, o rio Madeira tem a maior baixa dos últimos 60 anos. No hemisfério Norte, a onda de calor, decorrente das mudanças climáticas, castiga em diferentes localidades. Em palestra na capital gaúcha, o cientista Carlos Nobre foi enfático: “Não evoluímos para suportar o clima que estamos levando ao planeta”.

A literatura e o poder de transformação

Papa Francisco publicou nova Carta que tem como tema o papel da literatura na educação. No documento, o pontífice conclama a não nos esquecermos "o quanto é perigoso deixar de ouvir a voz do outro que nos interpela". Antonio Spadaro, considera que o documento "sublinha o valor da leitura de romances e poemas no caminho do amadurecimento pessoal. Uma academia que pratica ver através dos olhos dos outros". 

Memória

No dia 10 de agosto fazemos memória à morte do Frei Tito Alencar, brutalmente torturado durante a Ditadura Militar. No dia 26 de julho, a Universidade de Brasília outorgou o Título de Geólogo na modalidade post mortem a Honestino Monteiro Guimarães, outro ativista pelos direitos humanos durante o regime militar. 

Desejamos a todas e todos uma boa semana!