05 Agosto 2024
Dezenas foram presos em atos convocados pela extrema direita em reação ao crime, que tem alimentado ressentimentos anti-imigração. Turba invadiu hotel que abriga refugiados, e premiê reage: "Vão se arrepender."
A reportagem é publicada por DW, 03-08-2024.
Neste domingo (04/08), em mais uma escalada da violência que se abateu sobre o Reino Unido após o esfaqueamento de três crianças, um hotel na cidade inglesa de Rotherham que abrigava refugiados foi invadido por extremistas de direita.
A turba entrou em confronto com a polícia, que não foi capaz de impedir o grupo de quebrar janelas, tentar atear fogo ao local aos gritos de "tirem eles daí" e atirar parte do mobiliário do hotel contra os agentes.
ATENÇÃO: na Inglaterra e na Irlanda do Norte a direita está saindo às ruas para "caçar imigrantes". Ontem eles agrediram todos os negros, latinos e muçulmanos que encontraram pelas ruas. Agora estão destruindo e saqueando os comércios e casas dos imigrantes. Nós já vimos isso em… pic.twitter.com/dufwJZbFug
— Vinicios Betiol (@vinicios_betiol) August 4, 2024
Imagens exibidas na TV britânica mostram policiais com escudos sendo atingidos por objetos na área externa de um hotel em Rotherham. Poucos minutos depois, os agressores, muitos deles mascarados, invadiram o prédio e retiraram cadeiras de dentro do imóvel para usá-las contra os agentes – ao menos dez deles saíram feridos.
Horas mais tarde, em Tamsworth, distante mais de 100 quilômetros dali, um grupo atacou outro hotel que abrigava requerentes de asilo, segundo a emissora Sky News.
Vídeos nas redes sociais mostravam fogo em uma parte do edifício.
How much worse does it have to get before the army is sent in @Keir_Starmer ? The Police clearly do not have a handle on this situation.
— Humza Yousaf (@HumzaYousaf) August 4, 2024
This pogrom against Muslims and People of Colour is going to cost lives unless these far-right thugs are stopped. https://t.co/U279igA5CV
As cenas de violência deste domingo são as mais recentes de uma série de protestos violentos liderados por grupos anti-imigração e anti-islã em cidades britânicas desde o ataque a facadas, em 29 de julho, a um estúdio de dança em Southport, cidade litorânea no noroeste da Inglaterra.
Três crianças morreram e outras dez pessoas ficaram feridas no episódio – das quais oito também são crianças.
O suspeito, Axel R., é um rapaz de 17 anos nascido no Reino Unido e filho de imigrantes vindos de Ruanda. Desde o ataque, pululam em perfis de extrema direita nas redes sociais falsas alegações de que o suspeito seria um refugiado e terrorista muçulmano, e que o caso estaria sendo abafado pelas autoridades britânicas.
Líderes comunitários e familiares das vítimas do esfaqueamento criticaram os protestos.
"Desde a segunda-feira, muitas pessoas tentaram usar a tragédia para criar divisão e ódio", afirmaram lideranças religiosas de Liverpool em comunicado conjunto ecumênico. "Isso pode levar – e levou – medo a comunidades e pôs as pessoas em perigo."
A OTAN será convocada a invadir a Inglaterra, para garantir liberdade e democracia? https://t.co/cTTzjBGE7j
— rodrigo vianna 🇧🇷🇺🇾🇦🇷🇧🇴🇻🇪🇨🇺🇨🇴🇵🇸 (@rvianna) August 5, 2024
Os protestos, que se espalharam por diversas cidades do país, foram marcados por saques e vandalismo, além de confrontos violentos com a polícia e com manifestantes contrários à extrema direita.
Desde o sábado, mais de 140 pessoas foram detidas em protestos violentos convocados pela extrema direita em várias cidades britânicas, informou a polícia do Reino Unido.
Em Hull, Liverpool, Bristol, Manchester, Stoke-on-Trent, Blackpool e Belfast, os participantes das manifestações atiraram garrafas de cerveja, pedras e cadeiras contra os policiais e atearam fogo em contêineres de lixo. Algumas lojas foram saqueadas.
Em Hull, janelas de outro hotel que abrigava imigrantes também foram quebradas pelos manifestantes, segundo a BBC.
Em Belfast, Nottingham e Bristol, extremistas e antirracistas protagonizaram confrontos violentos.
Na sexta-feira, o país já tinha vivido a terceira noite de tumulto após protestos em Sunderland, no norte da Inglaterra, degringolarem. O centro da cidade foi vandalizado e prédios e veículos, incendiados. Três policiais tiveram que ser levados ao hospital, e oito pessoas foram presas por crimes como desordem violenta e roubo.
O Ministério do Interior anunciou que ofereceria proteção extra a mesquitas, que têm sido alvo dos manifestantes.
"Não toleraremos a violência criminosa em nossas ruas", disse a Secretária do Interior do Reino Unido, Yvette Cooper, acrescentando que os que participarem de baderna enfrentarão "as penas mais severas possíveis".
O primeiro-ministro britânico Keir Starmer assegurou total apoio às forças da ordem contra os "extremistas" que tentam "semear o ódio", afirmou um porta-voz.
"Garanto que vocês vão se arrepender de participar dessa baderna, seja diretamente ou atiçando essa ação online", afirmou Starmer horas depois, em pronunciamento à nação. "Vamos fazer o que for preciso para levar esses agressores à Justiça."
Antecessor de Starmer no cargo até bem pouco tempo, o conservador Rishi Sunak também condenou a violência dos manifestantes. "As cenas chocantes que estamos vendo nas ruas da Grã-Bretanha não têm nada a ver com a tragédia em Southport. Isso é um comportamento criminoso e violento que não tem lugar em nossa sociedade."
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Tumulto no Reino Unido após protestos por morte de crianças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU