02 Outubro 2020
Os planos do governo divulgados pelo Financial Times e pelo Times. A Itália também está envolvida: Londres estaria negociando com Roma a compra de uma antiga embarcação que poderia acomodar 1.400 pessoas enquanto esperam que seu status seja avaliado pelas autoridades. Segundo o jornal britânico, os planos do governo Johnson para a imigração incluiriam também a instalação de muros flutuantes no Canal da Mancha, tanto para desencorajar os migrantes como para impedir fisicamente a sua chegada.
A reportagem é de Antonello Guerrera, publicada por La Repubblica, 01-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
A solução do Reino Unido para os migrantes e requerentes de asilo que cada vez mais desembarcam em Dover e arredores do Canal da Mancha? Deixá-los no mar, em navios especiais, até que seu destino seja decidido pelas autoridades britânicas.
Canal da Mancha. (Foto: Goole Maps)
É a medida drástica, e para muitos chocante, que o governo de Boris Johnson está avaliando, através de sua Ministra do Interior, a "falcão" Priti Patel, sempre muito dura com a imigração (inclusive da UE), apesar de ela mesma ser filha de refugiados.
Tudo começou ontem, com uma matéria no Financial Times, segundo a qual o governo Johnson teria considerado, entre as várias opções possíveis na luta contra a imigração irregular, a possibilidade de transferir todos os requerentes de asilo ou migrantes à espera de um estatuto na Ilha de Ascensão, um pequeno e rochoso território britânico no Atlântico Sul.
Uma solução drástica baseada no duro modelo australiano ou, por exemplo, naquele estadunidense até algumas décadas atrás, na ilha de Ellis Island. Após o choque das associações humanitárias, o executivo britânico especificou ontem que se tratava apenas de uma das hipóteses entre outras em consideração.
Na realidade, existe um plano bastante concreto. A própria Downing Street confirmou isso nas últimas horas, de modo que “o governo está procurando alternativas para mudar nossas políticas sobre a imigração ilegal e requerentes de asilo, de forma a proteger aqueles que acabam nas mãos dos traficantes de seres humanos”.
A tradução dessa língua sibilina está em um artigo no Times de hoje, de forma que o caminho que o governo de Boris Johnson poderia tomar em breve é aquele de colocar os requerentes de asilo e migrantes em aguardo de status em grandes navios, tipo os antigos navios de cruzeiro, ao largo da costa britânica. Por exemplo, Londres estaria negociando com a Itália a compra, por mais de 6 milhões de euros, de um navio construído há 40 anos que poderia acomodar 1.400 pessoas em 141 cabines. Enquanto outro navio, dessa vez um navio de cruzeiro e, portanto, muito maior, atualmente ancorado em Barbados, custaria quase 100 milhões, teria mil cabines e capacidade total para 2.417 pessoas.
O recurso a navios antigos para relegar migrantes que aguardam o julgamento de seu pedido de asilo parece ser a melhor solução para a Ministra Patel. Parte do executivo, de fato, não concorda com a alternativa de colocá-los nas antigas plataformas petrolíferas britânicas que caíram em desuso, enquanto a hipótese de uma transferência em massa para uma ilha escocesa não encontraria a aprovação da primeira-ministra de Edimburgo, Nicola Sturgeon. Também foi pensada a transferência de migrantes que aguardam avaliação para países estrangeiros como Moldávia, Marrocos e Papua-Nova Guiné, mas poderia haver problemas legais.
De fato, de acordo com o Financial Times, os planos do governo Johnson sobre a imigração também incluiriam a instalação de muros flutuantes no Canal da Mancha, tanto para desencorajar os migrantes quanto para impedir fisicamente sua chegada, quando possível.
Esta última guinada dura sobre os migrantes de parte do governo Johnson chega em um momento muito delicado para o premiê, com o executivo sob fogo até mesmo de parte do próprio partido conservador pelo caos sobre as normas anti-Covid, sobre as quais se confundiu ao vivo na TV até mesmo Johnson, e uma gestão da crise pandêmica atormentada por numerosos e graves erros e superficialidade, pelo menos no início.
O duro golpe para os migrantes tem duas razões principais. A primeira: o crescente número de desembarques de migrantes do Canal da Mancha rumo ao Reino Unido, que nos últimos meses aumentou mais de 300% em relação a 2019, números que fizeram Londres se indispor com Paris, acusada de não fazer o suficiente para bloquear os migrantes nas costas francesas.
Mas, por parte do governo Johnson, também há uma vontade de recuperar o consenso perdido nos últimos meses devido à Covid que, pela primeira vez em quase dois anos, viu o Partido Trabalhista do novo líder Keir Starmer alcançar os conservadores nas pesquisas.
Justamente outra pesquisa na noite passada, realizada pelo YouGov, enfatizava como a maioria dos britânicos (40% contra 35%) seria a favor da transferência dos migrantes em aguardo do status para uma ilha distante, com os eleitores conservadores favoráveis até mesmo em 62 %. Nada mal, em tempos de baixo consenso para o governo Johnson.
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Reino Unido. “Colocar os migrantes em navios ao largo das costas”: Johnson estuda uma solução drástica para parar a imigração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU