06 Agosto 2024
“Ao refletirmos sobre Hiroshima, que essa memória sirva como um chamado à ação: para proteger nosso planeta, para preservar nossa humanidade, e para garantir que nunca mais enfrentemos tal devastação – seja por bombas ou pela destruição do nosso meio ambiente”, escreve Roberto Mistrorigo Barbosa, membro das Comunidades de Vida Cristã – CVX e da Comissão Nacional de Formação do Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB.
No dia 6 de agosto, o mundo relembra os 79 anos do bombardeio atômico em Hiroshima, um dos momentos mais devastadores da história humana. Esta data nos convida a refletir sobre os impactos catastróficos que a ação humana pode ter sobre o planeta. À medida que o tempo avança, nos deparamos com ameaças que, embora de natureza diferente, têm o potencial de serem igualmente destrutivas. As mudanças climáticas, os desastres naturais e as ações irresponsáveis continuam a ameaçar nosso mundo de formas tão letais quanto as bombas de outrora.
A explosão em Hiroshima foi um ato de destruição imediata que ceifou vidas e deixou cicatrizes que perduram até hoje. Entretanto, as bombas que enfrentamos agora são de uma natureza diferente, mas igualmente letais. Não são bombas nucleares, mas sim os efeitos acumulativos de anos de descaso ambiental e exploração insustentável. As cheias no Rio Grande do Sul, os incêndios devastadores nos biomas brasileiros e a seca na Amazônia são exemplos claros de uma crise que, como uma bomba, pode destruir comunidades inteiras, alterar ecossistemas e gerar sofrimento humano incalculável.
A comparação entre uma bomba nuclear e as mudanças climáticas pode parecer exagerada à primeira vista, mas os números contam uma história preocupante. Segundo dados recentes, o Brasil teve 745.000 migrantes forçados em 2023 devido a eventos climáticos extremos, demonstrando como essas catástrofes podem desestabilizar vidas tanto quanto qualquer ataque militar.
O Brasil está enfrentando uma série de crises ambientais que destacam a urgência de ações sustentáveis. No sul do país, eventos extremos de seca seguidos de enchentes mostram um padrão climático desequilibrado. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), algumas regiões do Rio Grande do Sul registraram, em 2023, precipitações acima da média histórica, seguidas por períodos de seca intensa, causando uma destruição sem precedentes.
A Amazônia, conhecida como o pulmão do mundo, também enfrenta ameaças alarmantes. Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que o desmatamento e os incêndios florestais têm aumentado, com mais de 13.000 km² desmatados apenas em 2023. Essa destruição não apenas contribui para a perda de biodiversidade, mas também altera os padrões de chuva e agrava a seca na região, afetando severamente as comunidades ribeirinhas que dependem dos recursos naturais para sobreviver.
Quando comparamos a capacidade destrutiva de uma bomba como a de Hiroshima com as consequências das mudanças climáticas, percebemos que ambas compartilham características alarmantes:
Escala de Destruição: Enquanto Hiroshima destruiu uma cidade, as mudanças climáticas têm o potencial de afetar todo o planeta. As secas prolongadas, as cheias catastróficas e os incêndios florestais são evidências dessa destruição em massa.
Impacto Duradouro: Os efeitos da radiação em Hiroshima ainda são sentidos décadas depois, assim como as mudanças climáticas causarão impactos irreversíveis se não agirmos rapidamente. Estudos indicam que o aumento da temperatura global pode levar à extinção de 25% das espécies até 2100, se medidas eficazes não forem implementadas.
Custo Humano: Em ambos os casos, as comunidades vulneráveis sofrem mais. No Brasil, a população ribeirinha, os indígenas e os pequenos agricultores são frequentemente os mais atingidos pelas mudanças climáticas, enfrentando deslocamentos forçados e perda de meios de subsistência.
O governo federal está atualmente recebendo propostas para a construção do Plano Clima, uma oportunidade crucial para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e prevenir desastres futuros. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) está à frente, propondo medidas como:
- Criação da Política Nacional de Auxílio Climático para Populações Atingidas: Um suporte essencial para aqueles que enfrentam desastres climáticos.
- Garantia de mecanismos de participação social: Para que as vozes das comunidades afetadas sejam ouvidas em todas as etapas de implementação das políticas climáticas.
- Criação da Política de Segurança para Populações Atingidas por Desastres Climáticos: Para proteger e garantir a segurança das populações mais vulneráveis.
Neste aniversário de 79 anos de Hiroshima, somos lembrados de que a capacidade humana de destruir é real e, infelizmente, recorrente. Porém, também temos a capacidade de curar e proteger. As ações que tomarmos agora para enfrentar as mudanças climáticas podem evitar catástrofes que rivalizem com os piores momentos da história. Devemos agir com urgência e solidariedade, lembrando que a luta por um meio ambiente saudável é uma luta pela paz e pela justiça.
A mensagem do Papa Francisco na Encíclica Laudato Si' ressoa mais forte do que nunca: "Quando falamos de meio ambiente, fazemos referência também a uma particular relação: a relação entre a natureza e a sociedade que a habita." A crise ambiental não é apenas um desafio ecológico; é um desafio moral e social que exige ação coletiva e uma nova forma de viver em harmonia com a Terra.
Portanto, ao refletirmos sobre Hiroshima, que essa memória sirva como um chamado à ação: para proteger nosso planeta, para preservar nossa humanidade, e para garantir que nunca mais enfrentemos tal devastação – seja por bombas ou pela destruição do nosso meio ambiente.
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79 anos de Hiroshima: reflexões sobre o impacto da destruição ambiental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU