31 Julho 2024
"Sobre o futuro pontífice, o especialista Vian não se compromete, mas cita várias previsões, inclusive as de Bergoglio, sobre o nome que ele escolherá: João XXIV", escreve Fabrizio D'Esposito, professor italiano, publicado por Il Fatto Quotidiano, 29-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um novo papa, pobre, que ia direto ao coração dos fiéis com explicações simples do Evangelho. Um papa novo, mas centralizador, por estas razões:
"A desconfiança no mundo curial, o medo dos longos tempos da burocracia romana, o seu temperamento naturalmente centralizador, a vontade de nunca perder o controle da situação, provavelmente também a necessidade de se relacionar com o mundo sem que seja filtrado por outros".
Parece um retrato de Francisco. Mas não. É o de Giuseppe Melchiorre Sarto, que foi o primeiro papa eleito no século XX, no conclave de 1903, e escolheu o nome Pio X. Um pontífice reformador, depois santo, mas que entrou para a história por sua implacável repressão ao modernismo em nome da rígida doutrina católica. Hoje, justamente Francisco é acusado de ser um modernista por seus opositores da direita clerical, mas a figura do teólogo "herege" e excomungado de dom Ernesto Buonaiuti, ainda não foi reabilitada. Esse retrato complexo de Sarto, reformador e inquisidor fundamentalista, é um dos capítulos do livro de Giovanni Maria Vian, intitulado L'ultimo papa (Marcianum Press, 227 páginas).
L'ultimo papa (Marcianum Press, 2024), livro de Giovanni Maria Vian.
A passagem citada acima é retomada de Pio X, de Gianpaolo Romanato. Historiador, jornalista, filólogo e atualmente colunista do jornal Domani, Vian dirigiu o L'Osservatore Romano de 2007 a 2018 e, nesse volume, reuniu e reelaborou artigos publicados por vários jornais nos últimos quatro anos. O título é inspirado na profecia de São Malaquias (século XVI) que acredita que Bento XVI, "glória da oliveira", seria o último papa, antes de outro pontífice Pedro, prelúdio da ruína de Roma e do julgamento de Deus.
A profecia é uma falácia, mas a pergunta, lembra Vian, foi feita a Ratzinger em 2016 e ele respondeu falando sobre a crise do cristianismo no Ocidente. O livro é uma inteligente reconstrução histórico-institucional do papado, central e lateral ao mesmo tempo: oração e sexualidade, arte sacra e a santidade dos papas, o papel primordial da França (o "cativeiro" do século XIV, onde os papas se sentaram em Avignon), a difícil relação com o dinheiro e os pontífices dos últimos dois séculos (em especial).
Mais longos e densos são os capítulos dedicados a Ratzinger, o papa da renúncia de 2013, e ao seu sucessor Bergoglio. Sobre Bento XVI, Vian privilegia o perfil intelectual do papa teólogo em detrimento da fraqueza de seu governo, causada por escolhas erradas, como a de Tarcisio Bertone como secretário de Estado. Na prática, um "incompreendido", assim como foi Paulo VI. Por outro lado, ao pontificado do "autocrata e não resolvido" Bergoglio nada é poupado. E, no entanto, sem a profunda crise da transição de Bento XVI após São João Paulo II, nunca teria havido a renúncia de Ratzinger e a subsequente eleição do papa que veio "do fim do mundo".
E sem esquecer que Bento XVI, como papa emérito, pode ter sido instrumentalizado pelos clericais de direita, mas sua postura teológica inspira a atual oposição a Francisco. Sobre o futuro pontífice, o especialista Vian não se compromete, mas cita várias previsões, inclusive as de Bergoglio, sobre o nome que ele escolherá: João XXIV.