07 Fevereiro 2024
Por um lado, a doutrina dos fariseus, pelo outro, a misericórdia e o amor. Como falar de Cristo e do Evangelho ao outro, mesmo “distante”, para citar Dom Primo Mazzolari? Zuppi afirma: “Não repetir algo distante, pensando que o problema é dele e não nosso, que falamos 'latim' ou que pensamos aquecer o coração comunicando uma regra e não um amor".
O artigo é de Fabrizio D'Esposito, professor italiano, publicado por Il Fatto Quotidiano, 05-02-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Numa longa e densa entrevista publicada no último caderno da Civiltà Cattolica, a prestigiada revista quinzenal dos Jesuítas, o presidente dos bispos italianos Matteo Zuppi, cardeal e arcebispo de Bolonha, termina claramente com a ideia de um retorno ao passado (seja ruiniano ou ratzingeriano, em todo caso de direita e clerical) para enfrentar o fenômeno da crise das igrejas meio vazias.
Zuppi afirma: “As reações à observação desse fenômeno são variadas, como as reações às propostas do Papa Francisco. Existe aquela identitária, muscular, conflituosa', diante do mundo que se transforma e nos transforma. Podemos resumi-la como 'vamos nos fechar num mosteiro’, evocada por um conhecido livro de alguns anos atrás. Uma Igreja que deve resistir; que de dentro censura a si mesma por não ser suficientemente identitária".
A referência do presidente da CEI é ao conhecido livro do estadunidense Rod Dreher, A Opção Benedetina, que se tornou o emblema de uma Igreja que se sente sitiada e levanta as pontes levadiças para se isolar e se defender. Uma imagem que pode ser ligada ao pontificado de Ratzinger, o papa filósofo que alguém descreveu como uma “sentinela na noite, colocada sozinha para defender a casa de Deus”. Não por caso, o Cardeal Zuppi nunca menciona os valores não negociáveis e costuma criticar a insistência sobre a mera aplicação literal das regras morais da Igreja.
Mas o que mais chama a atenção é o tom do chefe dos bispos durante toda a entrevista - de forma alguma em cima do muro nesta ocasião, como havia acontecido recentemente – no qual se percebe (com o coração) um catolicismo oposto àquele que dominou a Igreja italiana durante quase vinte anos, de 1991 a 2007. Ou seja, a CEI pós-democrata-cristã, mas ainda mais militante e intervencionista na política do Cardeal Camillo Ruini. A pedra angular daquela Igreja foi o “Projeto Cultural” que esperava hegemonizar a Itália em nome dos mencionados valores não negociáveis, desde o nascimento até à morte. Na prática, uma fé ideologizada e fechada e sem misericórdia (basta recordar as portas fechadas de uma paróquia romana para o caixão de Welby).
O “Projeto” foi gradativamente derivando para a direita (em 2019, por exemplo, Ruini tinha simpatias por Salvini) e seu balanço negativo foi, em última análise, um prodrômico para os anos sombrios da Igreja italiana do Cardeal Tarcisio Bertone, o "primeiro-ministro" vaticano de Bento XVI que advogou para si a gestão das relações políticas dos Palácios romanos. Anos que renovaram o pesadelo sinistro das negociadas da P2 e mafiosas do IOR de Marcinkus e que estiveram na base da renúncia de Ratzinger e da subsequente eleição, em sentido anticurial, de Bergoglio. Este é, por sua vez, o pensamento de Zuppi sobre a política: “Pessoalmente, estou convencido de que, como na política, a presença dos católicos não deva mais assumir as características de uma pertença monolítica, declarada e alinhada”.
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Igreja italiana. Zuppi arquiva de vez a visão hegemônica e política do trágico vintênio de Ruini. Artigo de Fabrizio D’Esposito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU