05 Dezembro 2023
"Obviamente, a decisão firme do papa (reportada dias atrás por um site amigo de Burke) excitou a propaganda clerical sobre a suposta maldade do Papa argentino. Na verdade, nesses dez anos do pontificado franciscano, a ferocidade anti-bergogliana de Burke não foi menor nem daquela de Viganò", escreve Fabrizio D'Esposito, professor italiano, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 04-12-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O arcebispo Carlo Maria Viganò e o Cardeal Raymond Leo Burke. Também conhecidos como o Gordo e o Magro da direita clerical e farisaica que há duas décadas luta contra Francisco, o Papa da misericórdia e de uma Igreja aberta, não entrincheirada como um forte na defesa da Doutrina.
Justamente algumas semanas atrás, nesta coluna, noticiando as últimas explosões anti-bergoglianas do iracundo Viganò (de fato, já um sedevacantista), nos perguntamos como o Papa podia ainda tolerar essa contínua série de insultos. Mas, alguns dias depois, um sinal chegou: a notícia de que Francisco decidiu cortar o salário e a confortável mansão vaticana (400 metros quadrados em comodato gratuito, revelou no sábado Franco Bechis no Open) ao rechonchudo Burke, cardeal estadunidense da Tradição. Afinal, não há motivos para manter Burke no Vaticano: não é mais prefeito do tribunal da Assinatura Apostólica nem patrono da poderosa Ordem de Malta.
Sem esquecer o que disse o cardeal hondurenho Óscar Rodríguez Maradiaga sobre o seu colega fariseu: “Um pobre homem, um homem desiludido porque queria o poder e o perdeu”. Um "pobre homem" que também é amigo de Matteo Salvini: em 2019 a investigação sobre a energia eólica que envolveu o membro da Liga Norte Armando Siri, revelou que o empresário Paolo Arata ligava para Burke para pressionar o próprio Siri no governo.
Obviamente, a decisão firme do papa (reportada dias atrás por um site amigo de Burke) excitou a propaganda clerical sobre a suposta maldade do Papa argentino. Na verdade, nesses dez anos do pontificado franciscano, a ferocidade anti-bergogliana de Burke não foi menor nem daquela de Viganò. Pelo contrário, foi ele quem comparou explicitamente Francisco ao Anticristo evocado pelo livro bíblico do Apocalipse. Era 2018 e o cardeal estadunidense realizou uma conferência clerical junto com o ratzingeriano Marcello Pera, ex-presidente do Senado hoje senador da FdI.
Pouco antes do evento, Burke concedeu uma clamorosa entrevista a um jornal online (o mesmo que antecipou a notícia da “punição” bergogliana) na qual descreveu como a Igreja estivesse vivendo o seu “tempo último”. O cardeal citou solenemente o parágrafo 675 do Catecismo Católico: “Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes. A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na Terra, porá a descoberto o ‘mistério da iniquidade’, sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do Anticristo”.
E quando Avvenire citou depois a notícia relatada pelo Il Fatto sobre essa entrevista, Burke escreveu ao jornal dos bispos: fez o papel da parte ofendida, desmentindo a si mesmo e pediu “públicas desculpas”.
Esta foi a dura resposta do então diretor do Avvenire, Marco Tarquinio: “Quem vai se desculpar por ter alimentado, inclusive por meio de uma ‘rede dura e de mexericos’ espalhada pela Internet, confusão e divisão na Igreja e contra o Sucessor de Pedro? Quem irá reparar e como?”. Aqui está.
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Burke sem casa (de 400 m2): é o cardeal que comparou Francisco ao Anticristo. Artigo de Fabrizio D'Esposito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU