27 Julho 2019
Na conferência de abertura, no dia 25 de julho, do 9º congresso anual do Instituto Napa, o renomado comentarista católico conservador George Weigel e o crítico papal de alto nível, o cardeal Raymond Burke, exortaram o público predominantemente rico e católico a combater o erro, a divisão e a apostasia generalizados na Igreja e a adotar os seus ensinamentos imutáveis.
A reportagem é de Dan Morris-Young, publicada por National Catholic Reporter, 26-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ambos convocaram os cerca de 700 participantes do evento entre os dias 24 e 28 de julho, em Napa, Califórnia, a “uma vida católica mais profunda e intensa” e a um “discipulado missionário”, nas palavras de Weigel.
Foi a primeira aparição do cardeal em uma conferência do Instituto Napa, realizado no elegante Meritage Resort and Spa, que está entre as propriedades do cofundador do instituto Tim Busch.
Burke foi extremamente crítico em relação ao documento de trabalho do próximo Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, que inclui a discussão sobre a potencial ordenação sacerdotal de homens casados amplamente respeitados, para aumentar o acesso aos sacramentos naquela região.
“O celibato deriva do exemplo de Jesus Cristo”, disse o cardeal. “O nosso grande sumo sacerdote fez essa escolha” e oferece um exemplo de “perfeita continência” para os padres.
Weigel concordou. “Suavizar, remover ou descartar os cerca de 1.000 anos de tradição que estão por trás do sacerdócio celibatário é render-se, de uma maneira muito profunda, ao canto das sereias da cultura saturada de sexo que está matando a si mesma e à sua prole”, disse ele.
Intitulada “Proclamando as verdades da fé em um tempo de crise”, a fala de Burke se centrou na revisão de uma recente “declaração” de 40 pontos assinada por ele e por outros quatro prelados – um cardeal aposentado da Letônia (Janis Pujats) e três bispos do Cazaquistão (o bispo auxiliar Athanasius Schneider, o arcebispo Tomash Peta e o arcebispo emérito Jan Pawel Lenga).
Divulgada em junho, a “Declaração das verdades relativas a alguns dos erros mais comuns na vida da Igreja do nosso tempo”, de oito páginas, examina “ensinamentos oficiais da Igreja em 40 pontos” sobre os quais “há muito erro e confusão”, acusou Burke, que tem se pronunciado abertamente em críticas aos ensinamentos do Papa Francisco.
Entre os 40 “erros generalizados” notados por Burke em Napa estavam:
- a “confusão” sobre o trabalho para trazer os muçulmanos ou os judeus ao cristianismo: muitos acham que as duas religiões “reivindicam sua própria integridade” e que “é errado trabalhar pela sua conversão”, mas “só há salvação pela fé em Cristo”, disse ele entre aplausos.
- a falta de clareza em relação ao fato de que a Igreja permite, sim, que a autoridade civil exerça a pena de morte, uma declaração que parecia entrar em conflito com a recente descrição da pena de morte por parte do Papa Francisco como “uma grave violação do direito à vida de cada pessoa” e com a medida dos bispos dos EUA de refundar o catecismo dos EUA sobre o tema.
- “sérias implicações para toda a vida da Igreja” quando o papel “divinamente indicado” para os padres, ao “agirem na pessoa de Cristo” na consagração na missa, é mal compreendido: um erro “atualmente em curso é que, se nenhum padre ordenado” estiver disponível, “é suficiente que os fiéis simplesmente designem um deles para oferecer o sacrifício”, disse.
- deixar de lado a doutrina da Igreja segundo a qual “o único exercício moral do sexo” só pode ocorrer “dentro de um matrimônio válido” entre um homem e uma mulher.
Burke colocou a proliferação de “erros sobre as verdades fundamentais da fé” na base de “décadas de catequese e pregação pobres (...) em uma sociedade completamente secularizada”.
O cardeal exortou os participantes a um “testemunho moral inequívoco” quando se depararem com um ensinamento da Igreja “ofuscado e enfraquecido” e com o “pecado generalizado contra a fé”.
Os católicos “em apostasia aberta não são um número pequeno”, disse ele, mas acrescentou que ele viu nos participantes de Napa um “movimento” de fiéis “que entendem a situação” e exibem “sabedoria e coragem diante de tanta confusão e erro”.
“Tal movimento”, disse ele, “não se julgará de acordo com os números, mas de acordo com a verdade. Deus não se deleita com os números. Deus se deleita com a verdade.” Suas considerações terminaram com uma ovação de pé.
Weigel disse que uma vida bem vivida se centra na questão: “Como eu levei outros a Cristo?”.
Defendendo o “catolicismo all-in”, Weigel zombou daqueles que chamou de “católicos light” e argumentou: “Não atrairemos outros a Jesus” se não “manifestarmos em nossas vidas” que estamos “a serviço dos pobres, marginalizados e feridos da nossa cultura decadente”, assim como da prática sacramental rigorosa.
“Teremos que ser corajosos ao falar com os amigos, vizinhos e colegas de trabalho” sobre questões como “a proteção legal da vida desde o nascimento até a morte natural”, disse Weigel.
Nesse sentido, ele disse que os católicos pró-vida devem fazer mais do que debater a questão do aborto e devem apoiar as mulheres grávidas em crise.
Weigel e Burke criticaram fortemente a aceitação de uniões entre pessoas do mesmo sexo, a modificação de gênero e os movimentos para tornar o celibato sacerdotal de rito latino opcional.
Cinco manifestantes – quatro do Thomas Merton Center de Palo Alto e um do capítulo da Call to Action do norte da Califórnia – chegaram na quinta-feira de manhã enquanto Weigel e Burke estavam falando. O grupo foi escoltado para fora do resort pela polícia local, chamada pela segurança do Meritage.
Entre outras coisas, os cinco disseram ao NCR que queriam chamar a atenção para o que descreveram como o viés anti-Francisco do Instituto Napa.
Em uma declaração, o Thomas Merton Center alegou que o Instituto “é aliado de líderes políticos e religiosos conservadores proeminentes – alguns dos mais vociferantes críticos do Papa Francisco. Vemos essa aliança como algo antitético aos ensinamentos cristãos das Bem-aventuranças”.
“A Igreja Católica é uma Igreja para todos”, acrescentou, “não apenas para aqueles que respondem à autopromoção do Instituto Napa como a ‘conferência católica preeminente nos Estados Unidos, reunindo líderes católicos pela fé, comunhão e comunidade (...). A taxa de inscrição de 2.600 dólares por pessoa limita a participação ao 1% que já exerce influência indevida nos EUA.”
A taxa de inscrição não inclui a hospedagem. Preços significativamente reduzidos estavam disponíveis para o amplo número de padres, religiosas e diáconos presentes.
Burke foi um dos quatro cardeais a assinar uma carta aberta a Francisco em 2016, apresentando cinco perguntas do tipo “sim ou não” que, segundo eles, esclareceriam o que descreveram como ambiguidade doutrinal da Amoris laetitia, a exortação apostólica de Francisco sobre a vida familiar.
Removido como chefe do mais alto órgão judicial da Igreja, a Signatura Apostólica, em 2014, por Francisco, Burke tem sido um destacado detrator do papa, incluindo sobre a abordagem de Francisco ao casamento e à vida familiar e sobre as suas reformas nos procedimentos de nulidade.
Francisco renomeou Burke como membro de destaque da Signatura em 2017.
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Cardeal Burke aponta ''erros generalizados'' no ensino da Igreja contemporâneo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU