01 Dezembro 2023
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 30-11-2023.
"Eu me encontrei com o Papa Francisco na tarde de 27 de novembro. Foi uma reunião curta devido à sua inflamação pulmonar, o que exigiu um certo esforço para falar. (Na noite seguinte, sua viagem a Dubai foi cancelada porque ele não tinha melhorado o suficiente). No decorrer de nossa conversa, Francisco me disse que havia decidido retirar os privilégios cardinalícios do cardeal Burke (seu apartamento e salário) porque ele estava usando esses privilégios contra a Igreja. Ele me disse que, embora a decisão não fosse um segredo, ele não tinha a intenção de fazer um anúncio público, mas, nesse mesmo dia (segunda-feira), a informação vazou."
Após os rios de tinta derramados sobre essa divulgação, que surgiu com grande estrondo nos meios tradicionalistas que alimentam diariamente a oposição implacável ao Papa Francisco, seu biógrafo, Austen Ivereigh, foi diretamente à fonte para contrastar o que ele intuía de antemão ser uma montagem para fazer passar por uma vítima aquele que foi e continua sendo um dos principais críticos do Pontífice argentino, apoiando-se para isso, precisamente, nesses mesmos meios que agora lhe concediam sem constrangimento a palma do martírio.
Burke em sua capa magna. (Foto: Reprodução | dappledthings.org
Não poucos meios caíram na armadilha da punição despótica ao cardeal norte-americano seguindo a 'linha dura' que o Papa havia traçado duas semanas antes com a destituição do bispo de Tyler (também nos Estados Unidos), Joseph Strickland, que, na mesma trilha de ataques ao Papa Bergoglio, chegou a acusá-lo de minar o depósito da fé.
Dando início a essa análise, a mencionada divulgação de um funcionário do Vaticano sobre a reunião de Francisco, em 20 de novembro, com os chefes dos dicastérios. Segundo a mesma, o Papa havia decidido retirar o salário mensal de cerca de 5.000 euros como cardeal, assim como o apartamento de cerca de 400 metros quadrados que Burke desfrutava no Vaticano (embora passe longas temporadas em sua terra natal em Wisconsin) porque "o cardeal Burke é meu inimigo, então estou retirando o apartamento e o estipêndio."
A citação, como era de se esperar, não ficou restrita aos portais informativos antifrancisco. "Na terça-feira de manhã, escrevi uma nota ao Papa Francisco alertando sobre essa citação e oferecendo corrigi-la com a verdade, tal como ele me disse. Por coincidência, outros que estiveram na reunião de 20 de novembro já o haviam feito, falando sob condição de anonimato com jornalistas credenciados", relata agora o próprio Ivereigh no portal wherepeteris.
Responding to media confusion over Pope Francis' reasons for removing the Vatican privileges of Cardinal Burke — who has spent a decade publicly attempting to undermine Church unity and the papacy — @austeni reached out to the pope himself.https://t.co/PtSEKzV4Dw
— Where Peter Is (@Where_Peter_is) November 29, 2023
Na terça-feira à tarde, o biógrafo, autor de "O Grande Reformador: Francisco, um Papa Radical", recebeu uma nota do Papa. "Nunca usei a palavra 'inimigo' nem o pronome 'meu'. Simplesmente anunciei o fato na reunião dos chefes dos dicastérios, sem dar explicações específicas". "Ele me agradeceu por esclarecer isso", conclui Ivereigh.
Em todo caso, qualquer observador atento pode perceber que a pressa ou a indignação do momento geralmente não são os principais fatores que movem a ação de Francisco. Burke vinha há anos em sua oposição dura e frontal contra Francisco. O mesmo ocorreu com o cardeal Müller e o próprio cardeal Sarah. Os maiores exemplos de ruptura na comunhão de cardeais que juraram obediência "ao bem-aventurado Pedro na pessoa do Sumo Pontífice" só foram afastados de seus cargos quando ultrapassaram a idade canônica prescrita. Não antes. São concedidas segundas oportunidades àqueles que estão convencidos da sempre necessária "conversão pessoal e pastoral".
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Por que Francisco retirou os privilégios do Cardeal de Burke? “Ele os usou contra a Igreja” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU