24 Mai 2024
"A crise climática/ecológica atual possui raízes humanas, de modo que uma consistente formação integral da pessoa humana é caminho singular para a transformação da delicada situação ambiental que estamos vivendo. O universo temático aqui proposto pode auxiliar na elucidação da tarefa educativa que hoje se nos impõe", escreve o professor Elvis Rezende Messias, em artigo enviado ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Elvis Rezende Messias é professor-pesquisador da UEMG-Campanha, doutor em Educação pela UNINOVE, mestre em Educação pela UNIFAL, especialista em Doutrina Social da Igreja pela PUC Goiás, especialista em Ensino de Filosofia pelos Claretianos, licenciado em Filosofia pela UEMG-Campanha, bacharel em Teologia pela UCDB e assessor diocesano do Movimento Fé e Política na Diocese da Campanha. É pesquisador do GRUPEFE (CNPq, UNINOVE).
Este texto é uma homenagem especial ao Papa Francisco, ao filósofo Edgar Morin e aos povos originários do Brasil, profetas da ecologia integral, do pensamento complexo e do amor filial à Terra, Casa Comum dada por Deus, chão único da condição da vida humana, Mãe de todos os viventes.
O paradigma tecnocrático, para o qual tudo se resolve com tecnologia e dinheiro, é uma ideologia desordenada e destrutiva, que coloca o poder acima de tudo e o deus do lucro acima de todos. Precisamos nos atentar para o fato de que temos sido sistematicamente “educados” por uma “pedagogia do consumo”, a partir da qual são naturalizadas entre nós e dentro de nós a competitividade individualista e a busca acelerada por enriquecimento a todo custo.
O capitalismo se transformou numa “religião” global que tem incontáveis “fieis” espalhados pelo mundo, e não nos demos conta disso. Nessa “religião”, vale tudo em nome da defesa dos “dogmas” da propriedade privada e da livre concorrência. Sem a conscientização crítica desse contexto complexo não conseguiremos sair da grave crise socioambiental na qual nos afundamos, e, “baixadas as águas”, com elas também vão embora as solidariedades e sensibilidades momentâneas, e nada muda no estilo de vida capitalista, economicista, individualista e tecnocrata que temos levado.
Seguir com o paradigma tecnocrático, com o antropocentrismo egoísta, com uma racionalidade fechada, com um conhecimento excessivamente disciplinar e com uma economia capitalista neoliberal que nada mais enxerga além do lucrativismo produtivista e da defesa ideologizada do individualismo e da mentalidade privatista, é seguir numa cultura de morte, numa necrofilia, numa necropolítica, numa necro-economia, num ecocídio suicida, e isso não nos é mais possível. A depredação ambiental é uma autodepredação. Nunca deveríamos ter chegado ao ponto que chegamos, mas houve complecência demais com a ideologia capitalista e, de concessões em concessões, produzimos um cenário crítico de grandes proporções.
Desse modo, se faz necessário que vivenciemos um profundo combate de lucidez formativa que nos eduque para uma ecologia integral e complexa. Ainda não nos demos conta do que significa vivermos num planeta no qual, de fato, “tudo está interligado”, no qual tudo está “tecido junto”. Precisamos nos aprofundar cada dia mais na vivência de uma educação (em nível formal, informal e não formal) que inicie e difunda processos sistemáticos e universalizados de conscientização para uma nova cultura vital, para um novo estilo de vida.
Seguem, então, algumas pistas reflexivas para a tarefa educativa atual sobre a questão ambiental. São propostas de um universo temático para ser trabalhado em nosso dia a dia formativo, nas escolas e universidades, mas também em nossos hábitos familiares, nas conversas entre amigos, nas discussões políticas, nos projetos políticos, nas políticas públicas, nos grupos paritários, em conselhos de bairro, em movimentos sociais, em grupos de fé e política, nas comunidades de base, em nossas redes sociais, nos eventos promovidos pelas várias instituições sociais do país e do mundo etc. A essas propostas, muitas outras temáticas podem ser acrescidas, pois elas não esgotam as possibilidades, antes, apenas abrem caminhos. Ei-las:
Convergindo ecologia integral e pensamento complexo, nossos estilos de vida, com seus modos de consumir, produzir e planejar, devem ser profundamente questionados e intimamente compreendidos. Como estamos sendo educados para ler os fenômenos, para almejar nossos sonhos de “felicidade”, de “sucesso”, nossos projetos de “desenvolvimento”? Em geral, temos muitas metas. Mas de onde elas nascem? Antes de pensar no elenco de nossos objetivos, temos clareza de quais são nossos princípios? Que forças nos movem, que princípios nos alimentam?
Contudo, um novo estilo de vida, não predatório de nosso ambiente vital, não se consolidará concretamente na história humana sem que seja desenvolvido um profundo processo educativo para ele. Ampliar nossa consciência, revisar nossos costumes e questionar nossas prerrogativas de conduta; conhecer com profundidade nosso entorno natural, social, cultural, político, econômico, formativo; reler nossas histórias locais e globais; religar saberes, complexificar nossas interpretações dos fatos, são tarefas educativas inadiáveis para nossos dias. Tudo passa pela educação, mas por uma educação amiga da vida, amiga da nossa Casa Comum.
A crise climática/ecológica atual possui raízes humanas, de modo que uma consistente formação integral da pessoa humana é caminho singular para a transformação da delicada situação ambiental que estamos vivendo. O universo temático aqui proposto pode auxiliar na elucidação da tarefa educativa que hoje se nos impõe.
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Crise climática e educação: proposta de um universo temático para a tarefa educativa ambiental. Artigo de Elvis Rezende Messias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU