09 Junho 2023
"O aviso é forte e claro, alguém o escutará e agirá de acordo? Os tomadores de decisão políticos são chamados em causa, mas cada um de nós pode fazer a sua parte", alerta Andrea Tolomelli, vice-presidente do Circolo Legambiente Pianura Nord Bologna, publicado por Settimana News, 07-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O verão está chegando: vocês estão na praia e olham as crianças que brincam na areia, construindo castelos, cavando buracos, modificando substancialmente a orla, mas, à noite, as ondas do mar colocam tudo de volta no lugar.
Na manhã seguinte, o jogo recomeça com alegria e descontração. No fundo, todos temos a convicção de que as nossas ações, mesmo em colaboração com os outros, podem apenas modificar de maneira marginal o planeta que nos acolhe; no final, a Terra, como um gigante gentil, vai consertar as coisas, assim como as ondas do mar arrumam a praia ao entardecer.
Na verdade, foi exatamente isso que aconteceu no passado: os homens construíam cidades, desmatavam terras, mas depois de um tempo a Natureza voltava a prevalecer, devolvendo o ambiente à sua aparência natural.
Hoje, porém, existem amplas áreas do nosso planeta que foram radicalmente modificadas pela ação humana de forma definitiva, tanto que a Comunidade Científica chamou a atual era geológica de Antropoceno.
É um importante reconhecimento das capacidades e das forças que a humanidade construiu ao longo dos séculos e as revoluções industriais são a coroação de uma evolução milenar. O homem ainda é muito pequeno em relação à Terra, mas todos juntos conseguimos explorar os recursos para satisfazer as nossas necessidades primárias e muito mais.
O revés da moeda, já destacado em meados do século passado, são as consequências do progresso humano no nosso planeta.
O ponto de virada chega com a publicação de Os limites do desenvolvimento em 1972 pelo Clube de Roma. A tese é que o crescimento econômico ilimitado, em um contexto de recursos finitos, não é possível, e indicava as primeiras décadas do século XXI como o momento em que os recursos se teriam reduzido significativamente e a humanidade teria que enfrentar os problemas decorrentes.
Apesar do grande ceticismo, principalmente por parte dos economistas, a tese do livro demonstrou estar correta. Há pelo menos 20 anos existe uma quantidade colossal de documentos que atestam que o homem é o principal causador das mudanças ambientais que estão se manifestando com intensidade cada vez maior em todo o mundo.
Só para se ter uma ideia, um negacionista climático, que afirma que as mudanças climáticas não são consequência das atividades humanas, tem o mesmo valor científico de um terraplanista, ou seja, aquele que acredita que a Terra é plana! Cuidado, portanto, com os debates de TV onde duas pessoas se confrontam, uma representando 99,9% da Comunidade Científica e a outra representando a si mesma: o objetivo é esconder a verdade e não conscientizar as pessoas sobre os efeitos das nossas ações.
Porque exatamente aqui está o ponto, hoje estamos enfrentando desafios que a humanidade nunca enfrentou e a maioria das pessoas não está ciente do que está acontecendo; muitos vivem com a certeza de que hoje será mais ou menos como ontem e amanhã também, eliminando de suas mentes os muitos alarmes que estão soando por toda parte.
De fato, todos queremos manter o nosso conforto e não estamos dispostos a mudar radicalmente o nosso modo de vida. De fato, muitos pensam que a mudança levará a uma piora na qualidade de vida, mas nem sempre é assim, pelo contrário, às vezes existem grandes oportunidades.
O exemplo mais interessante é a mobilidade elétrica, contestada por muitos, principalmente na Itália. Fechem os olhos e imaginem que, amanhã, todos os meios de transporte serão elétricos: a primeira consequência é o desaparecimento quase total das partículas finas, que, só no Vale do Pó, reduzem a qualidade do ar para dezenas de milhões de pessoas e causam mais de 50.000 mortes prematuras por ano, uma mudança nada ruim.
Claro que nem sempre tudo funciona assim, mas é importante valorizar as grandes oportunidades que existem na Transição Ecológica, que começa justamente pela Transição Energética, que é a base do nosso sistema econômico. É evidente que os grupos de poder que enriqueceram, e continuam a fazê-lo, estão tentando frear o processo que já está em curso e que é avassalador em algumas partes do mundo.
O primeiro conceito a estabelecer é que o aparente equilíbrio entre o homem e o planeta na realidade não existe e a confirmação está nos eventos extremos, que estão se tornando a normalidade.
O aumento da temperatura da Terra é de pelo menos 1,2°C em relação a 1800, na Itália é em média o dobro, enquanto nos polos é o quádruplo.
Quais são as razões que levaram a um aumento tão rápido (pouco mais de dois séculos) na temperatura da Terra? A resposta está na concentração de determinados gases, chamados gases de efeito estufa, na atmosfera. O principal é o dióxido de carbono, ao qual se adicionam o metano e o dióxido de nitrogênio. Todos são produzidos pela atividade humana e são liberados no meio ambiente, onde se acumulam e aumentam a capacidade da atmosfera de conservar o calor solar.
Considerando apenas o dióxido de carbono, a concentração passou de 280 ppm (partes por milhão) na época pré-industrial para 425 ppm em abril de 2023, um aumento de mais de 50%! São valores impressionantes, pois os estudos realizados atestam que esses níveis foram atingidos há mais de três milhões de anos.
A Terra, portanto, já viveu com níveis mais altos de gases de efeito estufa, mas não o ser humano e a maioria das outras espécies vivas, então estamos em um território completamente inexplorado.
Outro aspecto importante é a velocidade com que o fenômeno ocorre, passamos de escalas de milhões de anos para décadas. Tudo isso leva os cientistas a afirmar que "a humanidade está realizando um gigantesco experimento geofísico, inimaginável no passado e impossível de repetir no futuro: dentro de alguns séculos introduziremos na atmosfera e nos oceanos todo o carbono orgânico armazenado nos sedimentos durante centenas de milhões de anos".
O aumento da temperatura dá força a fenômenos já existentes, como o El Niño, um aquecimento das águas do Oceano Pacífico que tem efeitos sobre todo o mundo.
No início de maio, a Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas comunicou que "o desenvolvimento de um El Niño provavelmente levará a um novo pico no aquecimento global e aumentará a possibilidade de quebra de recordes de temperatura" e afirma que "o mundo deveria se preparar para o desenvolvimento do El Niño. Poderia trazer alívio para a seca no Chifre da África, mas também poderia desencadear eventos climáticos mais extremos, como ondas de calor, secas e inundações no resto do mundo".
O aviso é forte e claro, alguém o escutará e agirá de acordo? Os tomadores de decisão políticos são chamados em causa, mas cada um de nós pode fazer a sua parte. É um tema decisivo, que carece de um aprofundamento específico.
Voltando ao tema da consciência coletiva, o alarmismo sobre o aumento da temperatura não nos afeta muito, porque temos os instrumentos para nos defender, pelo menos dentro de certos limites.
Infelizmente, a temperatura média é apenas um dos efeitos da mudança climática antropogênica, outros são muito mais difíceis de administrar. Chamo a atenção para dois entre os vários fenômenos que já estão em curso, ou seja, a seca e a elevação do nível do mar.
Divulgado há poucos meses, o último relatório do IPCC (órgão da ONU que trata do estudo do clima) indica que, em todos os cenários desenvolvidos de hoje até 2050 e 2100, haverá uma redução significativa das chuvas em toda a região norte mediterrânea e seu aumento em toda a área subsaariana. É como se o Trópico de Câncer estivesse se deslocando para o norte e, nesse movimento, carregasse consigo o anticiclone norte-africano que está estacionado sobre o Saara.
Consequentemente, o deserto aproxima-se de nós, enquanto no sul do Saara se abre um espaço de correntes que, dentro de algumas décadas, poderiam atenuar os problemas crónicos de falta de água naquela zona. Os últimos anos confirmam o que está escrito acima; de fato, na Catalunha, não há chuvas significativas há quase três anos, uma situação semelhante ao noroeste da Itália.
As consequências são diversas: desde a perda significativa da produção agrícola até a necessidade de caminhões-pipa porque nascentes e rios secam.
A água é fundamental para a vida humana e todas as previsões apontam para guerras pelo controle da pouca que resta disponível.
O outro efeito muito difícil de gerir é a elevação do nível do mar, que corre o risco de ser a principal causa de migrantes climáticos nos próximos anos. Só para se ter uma ideia, o derretimento total do gelo na Groenlândia leva a uma elevação do nível do mar de dezesseis metros, enquanto para a Antártica se fala de quarenta metros. São números absurdos, mas o delicado equilíbrio de inúmeras áreas costeiras já estaria comprometido com um aumento de cerca de um metro. Das ilhas da Polinésia às Maldivas, até megalópoles como Xangai, Dhaka, Jacarta ou Bombaim, passando por Nova Iorque, Veneza e a costa holandesa, só para citar algumas. Uma volta ao mundo envolvendo bilhões de pessoas que, em pouquíssimo tempo, teriam que se deslocar para evitar serem submersas.
O desafio que temos diante de nós é imenso e somente com uma forte tomada de consciência é possível agir rapidamente para limitar ou remover as causas das mudanças climáticas antrópicas e, ao mesmo tempo, ativar ações para mitigar os efeitos que já hoje, e ainda mais amanhã, vemos em todo o planeta.
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Crise climática. Artigo de Andrea Tolomelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU