03 Mai 2024
"No coração de estudante mora outra batida. Que o som dela, multiplicado nesses protestos, ecoe o mais longe possível e restabeleça o vigor da rede onde outra humanidade deseja ser embalada e crescer com uma Palestina reconhecida, livre e soberana".
O artigo é de Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Processos Socioculturais da Amazônia, articulista no jornal A Crítica de Manaus, cofundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).
Zuenir Ventura tem razão. 1968 não terminou. Está mais longo e mais complexo diante da tirania de amoldamento do mundo. As manifestações estudantis de ontem inauguram, hoje, as performances de protestos e de ocupações viralizadas pelas redes sociais rompendo o silêncio das universidades nos Estados Unidos e em países da Europa. No abril de 2024, a revolta estudantil segue como rastilho de pólvora. A repressão prendeu mais de mil jovens, somente nos EUA, enquanto os estudantes impõem outra pauta na pauta hegemônica dos comandos do mundo.
As universidades estão sob pressão para retirar investimentos, a partir de fundos, a empresas israelenses ligadas à indústria militar. Não ao financiamento da guerra que implica, nesse item, a luta por liberdade para a Palestina. São estudantes de mais de 20 universidades estadunidenses em protestos contínuos. Na Europa, a partir da França, Espanha, e Alemanha, as manifestações avançam. Cartazes, faixas, bandeiras espalham o texto nas paredes, nas janelas, no chão, nos corpos.
Nessa guerra, quando as potências do mundo, a partir dos EUA, entregaram ao primeiro ministro Benjamin Netanyahu o passaporte para a matança na Palestina, é pelas mãos dos estudantes, mais uma vez, que a história escreve outras páginas: quais são os financiadores dos armamentos e da guerra? Onde estão e como são utilizados? Qual é a função das universidades nesse jogo? Como estão sendo usados os recursos financeiros administrados por essas instituições? Que nível de transparência é utilizado pelas universidades no manejo desse dinheiro?
Em 1968, a Ku Klux Klan permanecia poderosa, autorizada a praticar barbaridades contra os negros. A guerra no Vietnã, os protestos estudantis na França asfixiada pelo ditador Charles De Gaulle; a passeata dos cem mil no Rio de Janeiro em um Brasil sob ditadura do general Arthur da Costa e Silva, a sexta-feira sangrenta, cujas mortes até hoje não esclarecidas, são alguns dos acontecimentos.
Há 56 anos, os protestos estudantis e, em seguida, os de trabalhadores, a partir da França, sacudiram o mundo e forçaram outros acordos, outras condutas, brotadas do sangue de milhares de inocentes utilizados como joguetes em negócios dos governantes do mundo.
Os estudantes universitários voltaram a gritar neste século e no abril deste ano diante da determinação reafirmada por Netanyahu de prosseguir a destruição da Palestina e da “tentativa” dos apoiadores dessa ação de, supostamente, apresentar uma proposta para a qual o ministro israelense diga sim. Este tem avisado, sem rodeio, que não irá parar. Ignora o clube de governos apoiadores. A mídia hegemônica no mundo e no Brasil agiu para referendar a política do primeiro-ministro, acossado por denúncias e popularidade despencando, hoje, tem dificuldade para encontrar os adjetivos possíveis de uso na descrição das cenas de horror.
O mundo assiste, em tela grande, sentado no sofá, ou na pequena tela, na palma da mão, os mais de um milhão de palestinos encurralados em Rafah, sob agonia, à espera da morte ou de um acerto entre agências internacionais, governos e os donos dos mercados financeiros globais. No coração de estudante mora outra batida. Que o som dela, multiplicado nesses protestos, ecoe o mais longe possível e restabeleça o vigor da rede onde outra humanidade deseja ser embalada e crescer com uma Palestina reconhecida, livre e soberana.
Quero falar de uma coisa: “Coração de estudante / Há que se cuidar da vida / Há que se cuidar do mundo / Tomar conta da amizade”, pois, os estudantes renovam a esperança.
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Coração de estudante pulsa contra a guerra genocida. Artigo de Ivânia Vieira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU