20 Abril 2024
"O que se quer é chamar a atenção para a importância da Igreja particular, onde, assim se espera, deveria começar a Reforma da Igreja de maneira mais profunda e radical. Quiçá sirva também de alerta para indicar o quanto ainda há de resistências, apatias e retrocessos quando se trata de dar recepção ao Magistério do Papa Francisco nas Igrejas locais", escreve Vitor Hugo Mendes.
Vitor Hugo Mendes é doutor em Educação (UFRGS), doutor em Teologia (UPSA/Salamanca), tendo realizado pós-doutorado em Pensamento Ibérico e Latino-americano e pós-doutorado em Educação. Presbítero da Diocese de Lages (SC), é orientador de retiros, conferencista, assessor e consultor em temas de Teologia, Pastoral, Espiritualidade, Educação e Psicopedagogia. É especialista em Pastoral Urbana e autor do livro, em dois volumes, Liberación, un balance histórico bajo el influjo de Aparecida y Laudato si’: el aporte latinoamericano de Francisco (Editora Appris, 2021).
No dia 17 de janeiro de 1927, pela bula Inter Praecipuas, o Papa Pio XI criou os bispados de Lages e de Joinville, sufragâneas de Florianópolis, elevada à condição de sede arquidiocesana. Apesar disso, a Região serrana precisou ainda esperar. Somente em 18 de outubro de 1929 a diocese de Lages foi devidamente instalada com a chegada do seu primeiro bispo, o catarinense D. Daniel H. Hostin, franciscano, nomeado em agosto daquele mesmo ano. Por conta destes marcos históricos, aproximam-se as efemérides centenárias de criação (2027) e instalação (2029) da Diocese de Lages, Santa Catarina.
A partir da fundação da Vila de Lages (1766), elevada a Paróquia em 1768, a evangelização na Região Serrana experimentou muitos desafios e passou por muitas transformações. De acordo com a memória histórica registrada nas Diretrizes da Diocese, em suas origens e, por um longo tempo, vicejou uma Igreja “cabocla” (1766-1920). Com a instalação da diocese, estruturou-se um estilo de Igreja “Romana” (1926-1960), ajustada pelo seu perfil mais institucional, doutrinal e canônico. Com a realização do Concílio Vaticano II e das Conferências do Episcopado Latino-americano, floresceu a Igreja “Povo de Deus” (1962-2009).
A partir da primeira década do novo milênio, o “rosto” da Igreja Católica, na Serra Catarinense, vem se mostrando cada vez mais “pálido” e “difuso”. Muito embora, por vezes, tem-se a impressão de que prospera uma anacrônica “romanização” determinada em sanitarizar ou mesmo suprimir os traços de uma Igreja inculturada na Região Serrana. Em meio a toda essa “instabilidade”, o apregoado “novo” Plano de Pastoral segue um caminho um tanto “obscuro”, sendo uma vaga promessa de futuro que tarda em chegar. Enquanto isso, os dados regionais, acompanhando as estatísticas nacionais, apontam para um visível e progressivo “declínio” da Igreja Católica na Serra Catarinense.
Desde a periferia (da periferia), tratamos de refletir e discernir estes tempos de travessias difíceis que antecipam o centenário da Diocese de Lages. Todavia, sem saber ao certo se este cenário comporta uma “crise” ou um “colapso” (R. Zibechi). De toda maneira, o que se quer é chamar a atenção para a importância da Igreja particular, onde, assim se espera, deveria começar a Reforma da Igreja de maneira mais profunda e radical. Quiçá sirva também de alerta para indicar o quanto ainda há de resistências, apatias e retrocessos quando se trata de dar recepção ao Magistério do Papa Francisco nas Igrejas locais. Situação que não só retarda a Sinodalidade na Igreja, mas que confirma que o esperado processo sinodal, em curso, tarda em ser efetivo na(s) periferia(s). Tudo isso, sem lugar a dúvidas, aumenta a expectativa com a próxima sessão de trabalho da Assembleia Sinodal, que se realizará de 02 a 27 de outubro em Roma. Enfim, fortemente sintonizados com o bispo de Roma e suas iniciativas de reforma e de sinodalidade da Igreja, tomamos em consideração temas, questões e problemas próprios de uma teologia pastoral que, como faz notar A. Brighenti, é “inteligência reflexa da ação evangelizadora” (A. Brighenti).
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Glosas sobre a Igreja Católica na Serra Catarinense (parte 1). O centenário de uma diocese em “crise” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU