27 Abril 2023
Na correlação de forças, o que temos agora é uma CNBB que pende para uma visão mais conservadora...
O artigo é de Jorge Alexandre Alves, sociólogo, professor e mestre em Educação. Faz parte do Movimento Nacional Fé e Política. O artigo é publicado por Faustino Teixeira no seu Facebook, 26-04-2023.
Ainda no calor dos acontecimentos, impactado pelos resultados das eleições na CNBB, arrisco-me a uma análise preliminar sobre a nova configuração da CNBB.
Inicialmente é preciso refletir se os segmentos mais wojtylianos do episcopado foram vitoriosos no processo eleitoral na CNBB. Independente das conclusões, a estratégia adotada foi bastante eficiente, uma vez que plantaram um cavalo de tróia muito bem sucedido nas articulações dos grupos mais "franciscanos".
Conseguiram fazer os bispos mais progressistas a se engajarem na campanha para um arcebispo bastante moderado para a presidência usando como espantalho um purpurado de perfil conservador. Ao mesmo tempo, se articularam em torno de um bispo gaúcho para a secretaria geral da entidade episcopal. Ora, é o secretario-geral quem toca a CNBB em seu dia-a-dia.
Este prelado é ligado a grupos pró-vida. Ligado ao campo da moral, conta com enorme simpatia da Opus Dei. Seu discurso gira em torno de temas da sexualidade e defende a infeliz expressão ideologia de gênero. Podemos antever uma complicada relação com as políticas públicas do Ministério da Saúde.
Mas o que isso significa para o futuro do catolicismo no Brasil?
Primeiro, precisamos reconhecer (com tristeza) que a maioria do episcopado brasileiro é mais conservadora que moderada. E precisamos admitir que erramos na avaliação do cenário eclesial.
Mais, fica evidente que há um núcleo de antagonismo ao Papa Francisco operando a partir do Dicastério dos bispos. Esse resultado eleitoral na CNBB aponta para essa possibilidade na medida em que mais de uma centena de bispos foi nomeada no atual pontificado. Não deveriam ser todos com "o cheiro das ovelhas"? Ao que parece, boa parte continua cheirando à sacristia.
Esses elementos nos permitem especular que uma peça-chave na montagem dessa "resistência anti-Francisco" passa pelo brasileiro que é o secretário do Dicastério dos Bispos. Junto com a nunciatura obviamente, embora o papel lamentável das nunciaturas apostólicas já era decantado por Pedro Casaldáliga há mais de 35 anos.
O "xis" da questão é que ser nomeado por Francisco não tem significado muita coisa nestes termos. E, lamentavelmente, o Papa interfere pouco nas nomeações para o Brasil. Diferente de outras conferências nacionais em que ele acompanha mais de perto, aqui parece que a coisa não está andando a contento ultimamente.
O pontificado de João Paulo II tenazmente desmontou episcopados progressistas como os da Holanda e do Peru, e foi paulatinamente reconfigurando a seu gosto grande conferências nacionais de bispos como as do Brasil e dos Estados Unidos. Ao compararmos com Francisco, é difícil compreender, em primeiro momento, como Bergoglio tem tantas dificuldades em organizar um episcopado mais à sua imagem e semelhança.
Hoje em dia se fala em crise da formação sacerdotal, tanto no plano acadêmico quanto no perfil dos candidatos. A isso podemos acrescentar que João Paulo II foi pontífice por mais de 27 anos. Em meados dos anos 1980 ele já tinha a máquina curial nas suas mãos. Além disso, ele teve apoio de muitas instituições católicas de viés conservador. A título de ilustração, basta saber que um de seus primeiros atos foi rezar na tumba de Mons Josemaria Escrivá, o fundador da Opus Dei.
Francisco, como ele mesmo disse, veio do fim do mundo. Passado o impacto dos primeiros anos, a oposição à ao Papa se reorganizou, azeitou a resistência e tem sido muito eficiente em barrar todas as linhas de ação do Papa. Basta ver a dificuldade de fazer ecoar os sínodos dos últimos anos, sobretudo o da Amazônia.
Bergoglio tem em segmentos da Cúria Romana uma oposição que não se pode menosprezar. Não ser autoritário e nem governar com mão de ferro tem seu preço...
Recentemente, os resultados da conferência episcopal norte-americana tem muita semelhança com os ocorridos na CNBB. Bispos mais alinhados à Francisco foram preteridos por seus pares.
Para continuar no caminho das Reformas, o Papa precisa de bispos mais alinhados com seu magistério. Os resultados eleitorais dos bispos americanos e do episcopado brasileiro acendem o sinal de alerta. A sucessão de Francisco não está definida.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Uma nova correlação de forças na Igreja do Brasil? Artigo de Jorge Alexandre Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU