15 Fevereiro 2024
A reportagem é publicada por Religión Digital, 13-02-2024.
O convento das irmãs da Fraternidade Pobres de Jesus Cristo, localizado no centro da cidade de León, é o último de 15 imóveis confiscados nos últimos dois anos pela ditadura de Daniel Ortega e Rosario Murillo à Igreja católica, que é perseguida e economicamente asfixiada. No início de fevereiro, a ditadura habilitou novos escritórios da Direção de Migração e Estrangeiros nesse imóvel, uma das dependências do Ministério do Interior.
A propriedade das irmãs Pobres de Jesus Cristo foi tomada pela polícia em julho de 2023, quando as religiosas foram expulsas do país, segundo informações divulgadas pela advogada Martha Patricia Molina.
“Eles nem mudaram a cor das paredes nem os móveis que as irmãs estavam usando. O Ministério do Interior criminoso está fazendo das suas”, criticou Molina em suas redes sociais.
Antes dessa propriedade, a ditadura orteguista confiscou uma casa paroquial em San Pedro del Norte, no município de Chinandega. Até 15 de dezembro de 2023, este imóvel era utilizado pela Igreja para reuniões, preparação de refeições para atividades paroquiais e para receber fiéis de diferentes comunidades.
“Uma comissão chegou de Manágua e obrigou o padre a entregar a chave. Ao ver a presença da polícia, o padre entregou a chave e, para evitar problemas, começou a desocupar a casa paroquial que estava ao lado da igreja”, relatou um fiel cujo depoimento foi publicado no último boletim Liberdade Religiosa na Nicarágua do Coletivo de Direitos Humanos Nicarágua Nunca Mais.
Para o Coletivo de Direitos Humanos, as confiscações à Igreja constituem uma "nova fase repressiva" no contexto de violações à liberdade religiosa, que consiste em "sufocar operacionalmente a Igreja católica por meio do fechamento de contas e confiscações".
Essas confiscações são precedidas pelo aprisionamento de líderes religiosos, restrição à celebração de atividades religiosas, perseguição a líderes religiosos e discursos de ódio contra a Igreja.
Em maio de 2023, a ditadura também ordenou "congelar" as contas bancárias da Igreja católica na Nicarágua, gradualmente e sem qualquer notificação oficial. Primeiro, cancelaram contas bancárias da Igreja em Estelí, e depois em Matagalpa, Manágua e em todo o país.
Entre 2022 e agosto de 2023, "treze edifícios privados pertencentes à Igreja católica foram confiscados pelo Governo da Nicarágua e na maioria deles foram transformados em instituições públicas", detalha o estudo Nicarágua: ¿Uma Igreja perseguida?, elaborado por Molina.
"Às vezes os religiosos tiveram tempo para retirar os pertences sagrados e artigos pessoais dos edifícios. A maioria dessas propriedades estava sob a figura jurídica de Organizações Sem Fins Lucrativos (OSFL) religiosas", lê-se na pesquisa de Molina.
Entre os imóveis confiscados, destaca-se a Universidade João Paulo II, propriedade da Conferência Episcopal da Nicarágua, que foi transformada em uma universidade estatal chamada Universidade Nacional Multidisciplinar Ricardo Morales Avilés.
O mesmo aconteceu com a Universidade Católica do Trópico Seco (Ucatse), que pertencia à Diocese de Estelí e foi transformada na estatal Francisco Luis Espinoza Pineda.
Também foi confiscada a residência Villa Carmen, onde moravam os padres jesuítas responsáveis pela Universidade Centro-Americana (UCA), confiscada em 16 de agosto de 2023.
Além disso, foi confiscada a casa de repouso das freiras da ordem Missionárias da Caridade, em Granada, e transformada em um Centro de Desenvolvimento Infantil (CDI) estatal.
A ditadura também se apropriou de uma escola da congregação Filhas de Santa Luísa de Marillac e do mosteiro das freiras trapistas localizado em San Pedro de Lóvago, Chontales, que foi entregue ao Instituto Nicaraguense de Tecnologia Agropecuária (INTA).
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Nicarágua confiscou quinze propriedades da Igreja Católica nos últimos dois anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU