04 Outubro 2023
Na Suíça, o número de pessoas que abandonam a Igreja aumentou enormemente. Os agentes pastorais sentem o descontentamento dos fiéis. A situação no leste da Suíça.
A reportagem é de Simone Herrmann, publicada por Swissinfo, 03-10-2023.
Desde um estudo externo que trouxe à luz mais de mil casos de abuso na Suíça nos últimos 70 anos, a Igreja Católica de Roma está em crise. Há um abandono da chuva.
Os primeiros dados vêm das quatro maiores paróquias de Zurique, Winterthur, Uster e Dübendorf, que juntas têm cerca de 145.000 membros. Nas últimas duas semanas, 778 pessoas deixaram a Igreja. Esse é o número de pessoas que normalmente saem em três meses.
Hella Sodies é agente pastoral, corresponsável pelo centro católico de Greifensee, que pertence à paróquia de Uster. Sodies diz que está desiludida após o último escândalo de abusos na Igreja Católica.
Ela e sua equipe querem estar presentes para todos, em sua diversidade. “Se as pessoas já não sentirem que estamos do seu lado, mais cedo ou mais tarde a Igreja Católica se tornará uma seita exclusivamente masculina”, diz ele, “e então apenas aqueles que se sentem ligados ao sistema atual, ao Vaticano, permanecerão”. E praticamente não restará nada na base populacional.
O agente pastoral Jonathan Gardy, com quem Sodies trabalha em estreita colaboração, percebe como as gerações mais jovens estão se distanciando da Igreja. Acima de tudo, a atitude da Igreja Católica para com os homossexuais não é compreendida.
Dado o grande número de abandonos, seria importante um sinal dos bispos. Mas Gardy não acredita: “Não esperamos muito mais dos bispos. Gostaríamos que eles parassem de falar tanto sobre a moralidade sexual. Isto sabota o nosso trabalho na raiz”.
Mesmo na paróquia de St. Gallen, nas últimas duas semanas, 120 pessoas abandonaram a Igreja, um número cinco vezes superior ao número normal no mesmo período. Este é o preço a pagar pelo estudo sobre o abuso, diz Armin Bossart, presidente do conselho paroquial de St. Gallen.
Bossart lamenta profundamente os abandonos. Até porque, como consequência, perdem-se receitas fiscais e a Igreja tem menos dinheiro para o seu compromisso social, por exemplo, ajudando as pessoas à margem da sociedade.
“Em última análise, denunciar o descontentamento através do abandono não funciona, acho que atinge as pessoas erradas. Há muitos padres que trabalham muito e, se faltam recursos, esse compromisso sofre”, afirma Bossart.
Em Uster, a visão é semelhante. O presidente da comunidade paroquial, Albin Mitsche, sublinha que 85% dos fundos vão diretamente para o centro católico, para que os operadores possam realizar o seu trabalho.
A desobediência aos superiores que não querem agitar o barco é uma forma de mudar, segundo Mitsche. Uma ideia poderia ser a abolição do celibato obrigatório. Ou a possibilidade de casamento na Igreja ou acompanhamento de casais do mesmo sexo. “A diocese deve mostrar uma mudança”.
Hella Sodies já vivencia essa desobediência. Porque: “Só os livres são bons agentes pastorais”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Suíça. “A Igreja Católica se tornará uma seita só de homens” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU