13 Setembro 2023
Os seis casos são diferentes entre si, mas relacionam-se todos com encobrimentos, sob a forma de inação, promoção dos perpetradores ou mudança de local de trabalho.
A reportagem é de Manuel Pinto, publicada por 7Margens, 12-09-2023.
Seis bispos suíços estão acusados de encobrimento de abusos sexuais na Igreja Católica. O dicastério responsável por estes casos desencadeou uma investigação preliminar que deverá ser concluída até o fim do ano. Os resultados de um estudo geral sobre abusos sexuais, desenvolvido pela Universidade de Zurique, que deverá estar disponível nesta terça-feira, dia 12, pode, no entanto, obrigar a refazer o calendário da investigação.
No último domingo, 10 de setembro, o jornal SonntagsBlick (com edições em alemão e francês) revelou que um ex-vigário geral da Diocese de Lausanne, Nicolas Betticher, escreveu em maio deste ano ao núncio apostólico no país, fazendo acusações de acobertamento contra seis membros do episcopado nacional, quatro dos quais ainda em atividade e os demais já eméritos. Refere ainda outros casos de abuso sexual envolvendo vários padres.
Na sequência da denúncia, o Dicastério para os Bispos ordenou, no fim de junho, uma investigação, confiando a tarefa ao bispo de Chur [Coire, em francês], dom Joseph Maria Bonnemain, que tem já experiência de missões semelhantes.
Estes fatos foram, entretanto, mantidos em segredo, até que o jornal SonntagsBlick deu a notícia. Só então, logo de manhã, neste domingo, a Conferência Episcopal Suíça entendeu pronunciar-se para, no essencial, confirmar o que o jornal deu a conhecer.
Os casos, segundo o jornal, são diferentes entre si, mas relacionam-se todos com encobrimentos, sob a forma de inação, promoção dos perpetradores ou mudança de local de trabalho. Entre os acusados figura um antigo diplomata do Vaticano e núncio apostólico em Berlim de 2007 a 2013, hoje com 84 anos.
Comentando a vinda a público do caso, o padre denunciante congratulou-se com as medidas tomadas por Roma, salientando ser necessário não apenas um inquérito de natureza histórica sobre os abusos, mas também no âmbito do direito canônico, assim como “outros procedimentos para fazer justiça às vítimas”.
O bispo inquiridor, dom Joseph Maria Bonnemain, deverá avaliar se as denúncias de abusos por parte de membros do clero tiveram o tratamento devido nas respectivas dioceses. "Trata-se de examinar se os responsáveis reagiram de modo apropriado em diferentes momentos ou se se demitiram de cumprir as suas obrigações de notificação", diz ele numa entrevista ao jornal que revelou o caso.
Nessa entrevista, o jornalista coloca a questão de os visados pelas acusações continuarem em funções. A resposta é que ninguém foi, até agora, suspenso e que ele próprio não dispõe desse poder.
“Mas estamos em 2023. Será pedir demais suspender uma pessoa da sua função até que as acusações sejam clarificadas?”, pergunta o jornalista. Ao que Bonnemain responde: “Não posso falar nem decidir por outrem. Pessoalmente, se existissem acusações contra mim, tomaria a decisão de deixar as minhas funções”.
Fica-se a saber, pela entrevista, que, apesar de, há duas décadas, a Igreja Católica da Suíça estar envolvida em ações preventivas dos abusos, ela não possui, até hoje, qualquer documento normativo (ainda que, por exemplo, a diocese do bispo inquiridor o tenha).
Entretanto, a Conferência Episcopal, a Conferência Central Católica Romana da Suíça e a Conferência das Ordens Religiosas do país tomaram, há mais de um ano, a decisão de encomendar um estudo aprofundado de caráter histórico sobre os abusos sexuais na Igreja Católica suíça, recuando até meados do século passado.
O estudo começou em 01-05-2022, levado a cabo por uma equipa liderada por duas investigadoras do Departamento de História da Universidade de Zurique, que é acompanhado por uma comissão científica designada pela Sociedade Suíça de História. Os investigadores tiveram livre acesso aos arquivos das dioceses. Os resultados que serão apresentados esta terça-feira estão a suscitar grande expectativa, podendo vir a influenciar o trabalho de dom Joseph Maria Bonnemain.
Segundo os promotores, “o foco deveria ser posto nas estruturas que permitiram os abusos sexuais de crianças e adultos, e que tornaram difícil a detecção e o sancionamento”.
Quem deixou já um recado aos bispos suíços foi o padre jesuíta Hans Zollner, ex-membro da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores, da qual se demitiu, no início deste ano, por considerar haver falta de transparência no funcionamento daquele órgão.
Para Zollner, os bispos deveriam “escutar e aceitar” “sem interferências” o que o estudo vai concluir e, ao mesmo tempo, “tirar conclusões concretas e eficazes das suas próprias reflexões”, as quais devem ser tornadas públicas.
Sobre os bispos, Zollner entende que “a responsabilidade deve ser assumida – mesmo que não haja culpa direta”. “Os bispos, os provinciais e outros funcionários representam as suas respectivas instituições, incluindo a sua história. Ao mesmo tempo, é verdade que é necessária uma mudança de estrutura e de mentalidade na Igreja. Mas nem mesmo uma demissão pode provocar isso de um dia para o outro”, concluiu.
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Seis bispos da Suíça acusados de encobrimento de abusos sexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU