24 Junho 2017
"Esse é o problema do movimento de suicídio assistido ao avançar em seu caminho viscoso, de cultura para cultura, de país para país. Hoje, leis de todos os tipos supostamente resguardam o indivíduo. Normalmente, dois médicos devem afirmar a escolha livre do indivíduo e aprovar a morte. Tudo muito claro e organizado. Há não muito tempo, na Bélgica , o conselho de leigos Brothers of Charity disse que permitiria a eutanásia em seus 15 centros psiquiátricos, que abrigam mais de 5.000 pacientes por ano. Em 2016, um de seus centros foi multado em 6.000 euros por não permitir uma injeção letal em um paciente. Apesar das objeções de seu superior geral, e agora sob o olhar do Vaticano, o conselho publicou critérios para o suicídio assistido em pacientes psiquiátricos que parecem seguir", escreve Phyllis Zagano, teóloga estadunidense, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 22-06-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Primeiro, o livro de 1935. Depois, o filme de 1969. Ela não pode se matar. Ele a mata, porque ela pediu. Ele explica, "mas não se matam cavalos?" - intitulando a história.
É suicídio assistido? Ou é assassinato?
Com certeza, o chamado suicídio assistido tem acontecido. É legal na Bélgica, no Canadá, em Luxemburgo, na Holanda e na Suíça. Nos Estados Unidos, nenhuma lei federal proíbe e seis estados circunavegam suas próprias leis ao permitir "assistência médica à morte". Nesses estados, as pessoas podem morrer de overdose com drogas prescritas. Pelo menos 17 outros estados têm movimentos ativos pro-eutanásia. Pode ser por isso que a capa do The New York Times trouxe uma reportagem sobre um estadunidense no Canadá que "queria que sua última ceia fosse como as que ele tinha nas noites de sexta-feira quando era um jovem padre católico - coxas de frango assadas com molho".
Sério? Ele foi sacerdote de 1965 a 1969, antes da mudança nas leis de jejum.
Não importa. Página após página, o jornal exalta John Shields, pois "poder administrar os termos de sua morte fez com que ele se sentisse empoderado". Afinal, o New York Times relata, sem fôlego, que ele "desempenhou a atuação de cinco vidas em uma só: ... ativista de direitos civis, trabalhador social pelas crianças, chefe da maior união de British Columbia e, mais recentemente, o salvador de uma organização (sic) de preservação da terra".
O artigo é envolvente e o homenageia. Vejam Shields, cercado por amigos enquanto um médico administra as doses finais; em 13 minutos, ele estará morto. Shields, debaixo de uma conífera balançando, os pássaros cantando, as velas cintilando, enquanto os amigos relembram sua vida. Shields, na primeira página do New York Times, o sonho de um propagandista que se torna realidade. Uma pesquisa recente da Gallup Poll descobriu que 68% das pessoas nos Estados Unidos pensam que o suicídio assistido é bom. Nos dias seguintes à reportagem de Shields, poucas correspondências apareceram na seção do jornal alertando para que o estado pense duas, três vezes, antes de apoiar a antiga Sociedade Hemlock, cujo nome agora é Compassion & Choices. Foram postados 826 comentários no site do jornal, grande parte deles com as palavras "ótimo", "incrível", "emocionante" e "sensível". Apenas uma pessoa, da Holanda, escreveu: "Se essa narrativa for regra, preparem-se para uma mudança completa na maneira como lidamos com doenças, vulnerabilidade, velhice e enfrentamento daqui a 20 ou 30 anos".
Esse é o problema do movimento de suicídio assistido ao avançar em seu caminho viscoso, de cultura para cultura, de país para país. Hoje, leis de todos os tipos supostamente resguardam o indivíduo. Normalmente, dois médicos devem afirmar a escolha livre do indivíduo e aprovar a morte. Tudo muito claro e organizado. Há não muito tempo, na Bélgica , o conselho de leigos Brothers of Charity disse que permitiria a eutanásia em seus 15 centros psiquiátricos, que abrigam mais de 5.000 pacientes por ano. Em 2016, um de seus centros foi multado em 6.000 euros por não permitir uma injeção letal em um paciente. Apesar das objeções de seu superior geral, e agora sob o olhar do Vaticano, o conselho publicou critérios para o suicídio assistido em pacientes psiquiátricos que parecem seguir.
estritamente as leis: 1. O paciente tem que ser maior de idade ou emancipado; 2. O paciente faz o pedido de forma independente; 3. O paciente ponderou devidamente, fez uma escolha clara de não continuar vivendo com esse sofrimento insuportável, e avaliou sua situação adequadamente; e 4. O pedido do paciente é claro e persistente. Os bispos belgas e o Vaticano não estão contentes com essa mudança, mas o que eles podem fazer? O povo da Bélgica considera o suicídio assistido algo bom, até mesmo para pacientes psiquiátricos.
Será que a civilização perdeu a mentalidade coletiva? Quanto tempo ainda temos antes que a população possa regular tudo? Quanto tempo temos antes que assassinato e homicídio tornem-se suicídio assistido? Há não muito tempo atrás, um juiz encontrou uma jovem de Massachusetts condenada por homicídio involuntário, porque ela enviou mensagens de texto e conversou com um rapaz sobre suicídio. Como disse o procurador: "Ela estava no ouvido dele, ela estava em sua mente, no telefone, dizendo para ele voltar para o carro, sabendo que ele morreria". Os que a defendem na internet deixam a porta aberta entre o suicídio assistido e o assassinato: "Talvez ela apenas seja incrivelmente equivocada pela ignorância e pela ilusão de que, de alguma forma, seria melhor para o namorado que ele morresse".
Tenho certeza que sim. Também tenho certeza de que o Grupo Brothers of Charity pensa que permitir que pacientes psiquiátricos optem pela morte é bom. Tenho a mesma certeza de que os amigos e a família de John Shields acham que participaram de um momento grandioso e maravilhoso. E tenho certeza de que o New York Times continuará empurrando sua agenda de suicídio assistido disfarçada de "notícia".
Sim, matam-se cavalos. Mas não se trata de sacrificar um cavalo inválido. São seres humanos.
Muitos anos atrás, falando sobre os problemas da vida, John Cardeal O'Connor me disse: "A vida poupada pode ser sua". Pense sobre isso.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
'Mas não se matam cavalos?' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU