28 Junho 2017
Um arcebispo do Mali que enfrenta acusações de irregularidades financeiras assegurou ao Vaticano que planeja aparecer na Basílica de São Pedro para ser nomeado cardeal pelo papa Francisco.
A informação é publicada por US News, 27-06-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Um arcebispo do Mali que está enfrentando acusações de irregularidades financeiras assegurou ao Vaticano na terça-feira que planeja aparecer na Basílica de São Pedro para ser nomeado cardeal pelo Papa Francisco.
O porta-voz do Vaticano, Greg Burke, disse que o arcebispo de Bamako, Jean Zerbo, "confirmou sua presença" na cerimônia de quarta-feira, onde ele e outros quatro religiosos serão elevados a cardeais.
A mídia europeia especulou que Francisco pode não nomear Zerbo para cardeal após relatos de que ele e dois outros bispos do Mali abriram contas na Suíça no valor total de 12 milhões de euros (US$13,5 milhões).
Declarando estar com problemas de saúde, Zerbo cancelou uma entrevista com a The Associated Press, em Roma, na terça-feira. Zerbo, com 73 anos, chegou a Roma de Paris no sábado, onde teve consultas médicas de acompanhamento de uma cirurgia no intestino realizada há algum tempo no Mali, de acordo com assessores.
Outro bispo do Mali, que dizem que também teria contas bancárias, Jean-Gabriel Diarra, não quis explicar as origens do dinheiro. Em uma entrevista na mesma residência dos missionários em Roma, perto do Vaticano, onde Zerbo estava hospedado, Diarra declarou: "Não temos nada a esconder".
"As pessoas dizem que escondemos o dinheiro dos fiéis na Suíça", disse Diarra, que é líder da diocese de San em Mali, uma das nações mais pobres da África.
"Nós podemos explicar, mas por enquanto, não podemos falar sobre o assunto à imprensa antes de dar explicações a quem é de direito", disse ele.
O Vaticano não comentou publicamente as reportagens do jornal francês Le Monde e outras publicações leigas e religiosas de que Zerbo, Diarra e outro prelado do Mali teriam contas na Suíça desde 2002.
Os relatórios foram publicados no final de maio, pouco depois que o papa anunciou que Zerbo seria cardeal.
"É realmente um escândalo, mas quando explicarmos, será possível dizer se, sim, nós, Igreja do Mali, roubamos o dinheiro ou não, colocamos o dinheiro dos pobres em um banco ou não, e por que isso foi feito com esse dinheiro", disse Diarra.
"Alguém vai falar sobre tudo isso - (o dinheiro) é para mim? É para Zerbo? Alguém vai dizer tudo isso, mas vão contar às autoridades, não a vocês, a imprensa", disse o bispo.
Diarra, que disse conhecer Zerbo desde que eram seminaristas juntos, disse que o dinheiro veio de fiéis católicos. Ele se recusou a revelar para que fins o dinheiro era designado ou usado.
O escândalo pode eclipsar algumas das realizações do arcebispo Zerbo que certamente chamaram a atenção do Papa Francisco.
Os muçulmanos constituem a maioria religiosa no Mali, enquanto os cristãos, em sua maioria católicos, são uma pequena minoria.
Em um país ensanguentado pelo extremismo islâmico, Zerbo se distinguiu como um religioso que trabalha pela reconciliação social - uma das prioridades do pontífice. Atuando como arcebispo de Bamako desde 1998, ele desempenhou um papel nas negociações de paz.
Funcionários do Vaticano, que não comentaram sobre as supostas contas da Suíça dos bispos de Mali, mencionaram que é comum que as instituições da Igreja católica em países africanos instáveis mantenham seus fundos em bancos europeus. Embora muitos tenham contas no próprio banco do Vaticano, isso não é obrigatório, destacaram os funcionários.
O presidente do Mali apoiou Zerbo. Os analistas do Mali dizem que houve pouca vontade política para instaurar uma possível investigação criminal.
A lei relativa a transferências de dinheiro para fora do país também é obscura. Embora seja permitida por empresas estrangeiras que operam no Mali, não se sabe como isso se aplicaria aos fundos da Igreja.
No Mali, havia sentimentos mistos sobre o escândalo ao redor do homem que foi escolhido para ser o primeiro cardeal do país.
"Conheci Zerbo há alguns anos em Mopti", disse Philippe Omore, católico presidente da comunidade cristã na cidade de Gao, no nordeste do país.
"Ele parecia leal e sincero, mas na vida tudo é possível. Desde que ouvimos esta notícia, rezamos todos os dias para saber toda a verdade sobre essa história", disse Omore no Mali.
Ecoando a insistência do Papa Francisco de que a Igreja limpe sua própria casa moral antes de pregar a moral aos outros, Omore acrescentou: "Se realmente seguimos a Cristo, precisamos parar com os escândalos financeiros".
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Bispo de Mali diz que vai participar de cerimônia para se tornar cardeal, apesar dos escândalos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU