25 Agosto 2023
"Um lugar de culto": é o que as pessoas costumam dizer quando se fala de uma igreja. Aqui é uma casa para 352 igrejas! Protestante, anglicana, ortodoxa e católica antiga.
A reportagem é de Alexander Brueggemann, publicada por Settimana News, 24-08-2023.
O edifício pouco atraente do lado de fora na Route de Ferney 150, no bairro de Le Grand-Saconnex, em Genebra, inicialmente chama a atenção apenas pela placa na porta: o edifício plano de concreto-aço-vidro dos anos 60 tem mais inquilinos do que um complexo residencial pré-fabricado. Cerca de 580 milhões de cristãos de mais de 110 países são representados aqui pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Esta aliança mundial foi fundada em 23-08-1948, há exatos 75 anos, em Amsterdã. Estiveram presentes 351 delegados de 147 Igrejas de diferentes confissões e tradições. Três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, em quase todo o mundo voltou a existir o desejo de resolver em conjunto os futuros conflitos da humanidade, através da compreensão e do diálogo. Até hoje, o CMI se considera principalmente uma comunidade de igrejas, não uma "superigreja".
O esplendor e o coração da sede do CMI em Genebra são representados pelo grande e luminoso salão da igreja. O cubo, com seus elegantes tons de madeira e vitrais, respira o espírito de compreensão evocado pela função de liderança do CMI. Um grande gongo na entrada simboliza a amplitude espiritual que se estende além da Europa e do cristianismo ocidental.
E os objetos de arte, a caminho do altar, todos têm sua própria história: o mosaico russo com o batismo de Cristo; o extraordinário grupo da Crucificação, mais alto que o tamanho do homem, vindo da África negra; a grande cruz de chumbo fundido do telhado da Catedral Anglicana de Coventry; o ícone do apedrejamento do mártir Estêvão; o crucifixo de um homem que sofre escravidão no mundo, um presente do Papa Francisco durante sua visita a Genebra em 2018.
Um dos muitos sinos na entrada quer nos fazer entender como a cooperação fraterna pode ser delicada e difícil nas atividades diárias: inclui também o patriarcado ortodoxo russo de Moscou – cujo chefe, o patriarca Kirill – abençoa os canhões contra o país cristão vizinho da Ucrânia e mantém excelentes relações com o senhor da guerra, o russo Vladimir Putin. Em 2022, uma igreja evangélica chegou a entrar com um pedido de expulsão da Igreja Ortodoxa Russa do CMI.
Desde o início do ano, o secretário-geral do CMI é o teólogo reformado sul-africano e pastor Jerry Pillay (58), ex-primeiro presidente da Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas. A comissão central do CMI é presidido pelo alemão Heinrich Bedford-Strohm (63 anos), até novembro de 2021 presidente do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD).
Na celebração ecumênica realizada no fim de junho passado na Catedral de São Pedro, em Genebra, para comemorar o aniversário do CMI, Bedford-Strohm declarou em sua homilia: "O povo reunido em Amsterdã em 1948 com o objetivo claro de unir as igrejas do mundo e torná-las um instrumento de paz (...) afirmou claramente que a guerra é contra a vontade de Deus e que nosso dever é precisamente superar o nacionalismo e outras formas de divisão entre os povos que levaram diretamente à segunda terrível guerra mundial que resultou na morte de tantos milhões". Onde estamos hoje?", perguntou Bedford-Strohm.
"Fizemos jus ao legado de Amesterdã? Seremos nós, como Igrejas, realmente um instrumento de paz em todos os conflitos armados deste mundo?" O representante da Igreja alemã teria gostado que "a resposta fosse um sim inequívoco. Mas não foi o caso. Muitas vezes nossa lealdade nacional ou política é mais importante para nós do que a lealdade a Jesus Cristo, e às vezes nem nos damos conta disso".
O Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu, foi ainda mais explícito como primus inter pares da ortodoxia mundial e como representante de um dos membros fundadores. A unidade da ortodoxia, disse ele, foi "profundamente violada com a invasão da Ucrânia pela Federação Russa em fevereiro de 2022".
Uma ferida profunda se abriu "na Igreja do Estado sob o patriarca Kirill", da qual é importante se distanciar claramente. Bartolomeu implorou aos membros do CMI: "Não devemos permitir que o armamento de nossa fé cristã se torne a norma".
A Igreja Católica não é membro do CMI. Em 1965, no entanto, um grupo de trabalho conjunto foi estabelecido entre o Vaticano e o Conselho Mundial de Igrejas. Os teólogos católicos são membros de pleno direito em importantes comissões do CMI, como as comissões de Fé, Ordem, Missão Mundial e Evangelização.
O secretário-geral Pillay elogiou recentemente o envolvimento do Vaticano no Conselho Mundial em entrevista à Sociedade de Publicistas Católicos (GKP). Embora a Igreja Católica não seja um membro formal, ela se comporta como se fosse. E isso o deixa feliz. Bedford-Strohm citou o discurso ecumênico do Papa Francisco ao dizer: "Fale com o Senhor e siga em frente", esperando novos passos ecumênicos no Vaticano.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
352 Igrejas em uma casa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU