28 Julho 2023
A mulher e sua filha se tornaram símbolo da crise humanitária na fronteira entre Líbia e Tunísia: 'Eu deveria estar lá. É uma angústia ver a foto: elas sempre dormiam naquela posição.'
A reportagem é de Alessia Candito, publicada por Repubblica, 28-07-2023.
"Dormiam sempre nessa posição". Ele havia pedido que elas o deixassem para trás, que tentassem se salvar, pois ele não acreditava ter mais forças para continuar avançando no deserto, após dias vagando sem água e comida. Mas quando chegou à Líbia, após ser resgatado por três estranhos, ele encontrou apenas fotos que as retratavam quase afundadas na areia - Fati e Marie, mãe e filha, mortas abraçadas e se tornando símbolo da crise humanitária em curso na fronteira entre Líbia e Tunísia. "Eu esperava que elas estivessem apenas cansadas e que as veria chegar aqui mais cedo ou mais tarde, mas não estão. Eu era o destinado a morrer, não elas", conta angustiado à rede de Refugiados na Líbia, que após restituir um rosto e um nome à mãe e sua pequena, o localizou. "No sábado, às 11 horas, estaremos em Milão, em frente à embaixada tunisiana, para pedir justiça por elas", dizem os ativistas italianos da rede, que lançaram uma campanha de financiamento coletivo para Pato.
"Quero saber onde estão os corpos delas"
Ainda preso na Líbia, ele pede pelo menos os corpos para poder chorar. "Não sei onde os colocam, falaram-me de um necrotério, mas nunca ouvi falar de algo assim aqui". Ele viveu, ou melhor, sobreviveu por anos entre campos de detenção, detenções arbitrárias e rejeições. Aproximar-se das autoridades para um migrante subsaariano é sempre um risco. "Mesmo que isso coloque minha vida em risco - diz - quero saber onde estão os corpos delas".
Esse pesadelo ele enfrentou junto com Fati. Na verdade, especificamente, com Matyla. Fati era apenas o nome que ela havia escolhido para se proteger de possíveis perseguições religiosas. Ela era natural de Gbèka, Touba, no oeste da Costa do Marfim, mas cresceu em Yopougon, Abidjan. "Ela era órfã de pai e mãe, a única filha de seus pais. Ela não tinha ninguém, apenas a irmã de sua mãe e seu primo com quem mantinha contato".
Então, desde que se conheceram no campo de prisioneiros de Qarabulli, ele a teve. E juntos enfrentaram detenções, violência, tentativas de atravessar o mar, os campos de concentração. Eles tentaram a travessia quatro vezes, foram interceptados e detidos quatro vezes. Bani-Walid, Tarik al Sikka, Ghout-Al-shaal/Al-Mabani, Tariq al Matar: atravessaram todos os círculos do inferno líbio.
Uma odisseia que teve um preço. Ela perdeu um filho que talvez tivesse nascido - "já dava para ver a barriga", lembra Pato -, ele há anos convive com um tímpano perfurado e uma infecção que não desaparece. Mas juntos eles resistiram, conta, e desde 12 de março de 2017, a pequena Marie também estava com eles.
É esperando um futuro melhor para sua filha que, depois de quatro fugas fracassadas pelo mar, eles tentaram deixar a Líbia para trás por terra. Na quinta-feira, 13 de julho, junto com outra mulher e três homens, eles tentaram atravessar o deserto. Marie nunca tinha ido à escola e a mãe queria dar a ela a oportunidade de estudar, de construir um futuro. As tropas da Guarda Nacional Tunisina não permitiram.
O relato
"Chegamos à Tunísia na manhã de sexta-feira. Tentamos atravessar a fronteira, mas a polícia nos capturou e espancou com armas, nos enviando de volta ao deserto. Ficamos lá o dia todo esperando, na sexta à noite tentamos novamente e conseguimos. No sábado de manhã, já estávamos em Ben Gardane, Zarzis". O pior parecia ter passado, lembra. "Estávamos procurando um lugar onde pudéssemos beber água - conta Pato - mas a polícia nos interceptou novamente." Durante toda a noite, ninguém lhes deu água ou comida, na manhã seguinte foram transferidos para outro posto de guarda. E lá houve mais espancamentos, mais maus-tratos, antes de serem deportados e abandonados no deserto sem nada para beber. Eles seguiram viagem, ainda.
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Encontrado Pato, marido de Fati e pai de Marie, que morreram de sede no deserto: “Diga-me onde estão os corpos delas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU